Toda a família estava hipocritamente reunida na sala de jantar na casa da minha tia Kyla. Todos, inclusive Victor, que nunca ria, estava ali, confraternizando a noite de natal. Todos, menos eu.
Uma semana atrás eu havia pedido à minha mãe, Maria, para passar esta mesma noite na casa da minha melhor amiga, Sheila. No entanto, devido a super baixa reputação de Sheila, ela me proibiu de ir.
E ali estava eu, sentada em uma mesa onde todos estavam pensando qual era o presente caro que iriam ganhar um do outro.
- Jessamine, como vão os namorados? - perguntou minha tia Kyla, uma das unicas que eu gostava na família.
Todos olharam para mim esperando alguma risadinha estética típica de patricias.
- Bom tia, eu na verdade estaria com ele nesse exato momento e não aqui, se tivesse um. - não queria ser mal educada, na verdade, diferente do filho dela, Victor, eu era bem simpática com Kyla.
Minha mãe me olhou feio e eu resolvi terminar logo de comer, preferia mesmo era passar fome. Era bem capaz de ter um veneno em alguma daquelas comidas, especialmente no meu prato. E eu sabia que se tivesse, seria meu primo Victor quem o colocaria.
- Eu acabei de me formar, completei dezoito anos mês passado. - comentou Victor tentando mudar de assunto olhando pra mim.
- Ficamos felizes por você - sorriu minha mãe e em seguida olhando para mim - faltam ainda três anos para a Jess completar dezoito, mas garanto que ela vai ser tão bem sucedida quando você.
Revirei os olhos esperando sumir dali, minha mãe sempre tentava me colocar no centro das atenções, parecia que ela pensava ia surgir um chifre na minha testa se ela fizesse isso.
- Espero que até lá ela esteja com o mínimo de responsabilidade na cabeça. - comentou meu tio mais velho Malcon.
- Eu com toda certeza sou a pessoa mais consciente aqui de que nenhum de vocês tem moral de me julgar. - falei me levantando - com licença.
Todo mundo ali me julgava, mesmo quando eu era uma pessoa totalmente educada com todos, apesar de não querer, era apontada aos pontapés por toda a família. Isso tudo era culpa do meu pai, que era uma pessoa quase igual a mim, e que havia sumido, enquanto eu era a pessoa mais apegada a ele. Aquilo me deixou com tanta raiva na época, no começo eu só desejava me juntar a ele. Quando pequena, me debatia na cama fazendo pirraça pensando que se o fizesse, meu pai voltaria para me buscar. No entanto, com o passar do tempo fui entendendo que ele não voltaria, que havia me abandonado, me empurrado para fora do seu mundo.
Após o clima do jantar, fui para o jardim, que estava iluminado com luzes brancas e vermelhas. Eu não conhecia bem a casa, mas sabia qu havia uma passagem escondida em algum arbusto que levava a outro jardim mais simples.
Quando eu era bem menor, meu primo Vistor não era tão imbecil, ele me levava nesse mesmo jardim para brincar com as borboletas que ele criava.
Caminhei entre os arbustos até encontrar uma fresta de passagem, a mesma que levava até o jardim. Ali não dava para ver nada, estava de noite e escuro, a temperatura estava baixa, um vapor saía através da minha respiração.
Olhei para o céu e haviam apenas algumas estrelas visíveis, nuvens escuras escondiam a lua e deixava tudo sob um manto de escuridão. Me sentei em um banco envelhecido com o tempo.
- O mesmo lugar que costumávamos brincar, Jess. - uma voz saiu do escuro me dando um susto.
- Merda Victor - falei dando um pulo - o que você está fazendo aqui?
Ele saiu dentre os arbustos e se sentou ao meu lado.
- Na verdade eu tinha uma tranza marcada neste mesmo lugar hoje, mas como você está aqui, vou ter que adiar. - falou sério.
Eu sabia que era o humor negro do meu primo, mas preferia prevenir.
- Então dá licença. - falei me levantando e tentando enchergar alguma coisa.
- Calma! - falou rindo e o ouvi dar um passo a frente. Tropecei em uma pedra e quase caí, se não fosse uma mão me segurando. - Eu não vou fazer nada com você, ainda. - sua voz havia saído grave nos meus ouvidos, o hálito quente no meu pescoço me fez arrepiar.
- Ainda? - a única possibilidade que me surgiu foi Victor me esfaqueando ali mesmo, porque o único sentimnto que ele tinha em relação à mim era desgosto.
A luz da lua nos iluminou, revelando os olhos acinzentados que tanto me observavam.
- Você é tão inocente. - Victor pareceu lamentar passando a mão com leveza nas mechas castanhas do meu cabelo.
Um misto de sentimentos me inundaram, confusão, antipatia e algo que não sabia o que era. Victor sempre ficava do lado da minha mae, não entendia porque as vezes demonstrava que gostava de mim.
- Qual é a sua Victor? Uma hora você me esculacha, diz que eu sou uma criança boba e na outra você mostra esse seu jeito... eu não te entendo. - desabafei com raiva me afastando alguns passos dele.
- Eu não te odeio Jessamine. - falou sério se aproximando, dei um passo para trás - não precisa ter medo de mim, eu sinto muito se meu jeito fez você se afastar, mas por enquanto, você terá que esperar. Eu vou ter que esperar, mas é melhor você se cuidar. E se esses seus namoradinhos crianças te fizerem mal.. - tocou meu rosto - vou te levar pra longe daqui.
Ele havia me olhado com tanta determinação que eu cheguei a pensar que ia pular e morder um pedaço do meu braço, más só saiu andando e sumiu em meio a escuridão.
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St. Carlo
RomansaDizem que amor e o ódio andam lado a lado. Jessamine é uma garota determinada e sem medo de dizer o que pensa. Sua personalidade forte sempre atraiu quem ela menos imagina, e depois de estar no lugar errado na hora errada, Jess descobre segredos que...