25 Março 2000 - Sábado.

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           Já era uma manhã calma de inverno, todos os funcionários da empresa estavam de férias por alguns dias.

       Como sempre eu era a exceção.
Victor havia me contratado em um turno extra na empresa, para ajudá-lo a escolher alguns presentes, que ele daria de natal para nossos familiares.

         Eu já havia embarcado no metrô rumo à fábrica, mas estava alguns minutos atrasada por conta da ressaca da noite passada.

        Corri para fora do trem, a fim de conseguir sair a tempo do metrô e andar alguns quarteirões em direção ao trabalho, as ruas estavam quase vazias e isso me deixou aliviada por não precisar esperar pessoas saírem da minha frente.

         Faltando apenas uma esquina para chegar, meu telefone tocou. Peguei do meu bolso e vi o contato do meu primo na tela. Atendi suspirando de cansaço.

         - Está vinte e cinco minutos e quarenta segundos atrasada Jessamine St. Carlo. Eu tenho compromissos, não posso ficar esperando a senhora aparecer a hora que bem entender. - disse impaciente.                  
Pude imaginar meu primo mordendo  os lábios como sempre fazia quando alguém o irritava.

          - Escuta aqui, eu estou te fazendo um favor indo até ai nas minhas ferias. - falei entrando na porta giratória da empresa. - Estou chegando, não me apressa, agora somos somente primos, você não é meu chefe.

       Victor suspirou impaciente do outro lado da linha.

     - Eu tô pagando por isso. Então tenho direitos sobre você. - senti que ele sorriu.

     - Ok. - entrei no elevador correndo, apertei o botão do último andar. - Vou desligar. Até mais.

       Finalizando a chamada, apreciei os detalhes metálicos internos do elevador. Victor tinha um bom gosto por decoração, eu tinha que admitir.
     
      A música que deveria acalmar as pessoas no elevador mas que fazia o contrário cessou quando o elevador alertou a parada. As portas se abriram e vi Victor me esperando na porta. Saí do elevador encarando-o com cara feia.

       - Não tinha necessidade de me trazer aqui as 5 da madrugada, tinha?
    
     Victor sorriu.

      - Na verdade não. Mas eu queria que visse uma coisa. - ele fechou a porta do escritório e seguiu em direção contrária. - Me siga.

       Não estava afim de ir com ele pra nenhum lugar da empresa, afinal, ele havia dormido com uma garota em cada centímetro quadrado daquele andar, e estavamos sozinhos.

      - Victor, você não disse que tinha compromissos? - perguntei cruzando os braços.

       Continuamos seguindo reto no corredor, até que ele virou a direita e parou em uma porta preta, diferente de todas as outras da empresa.

        - Sim, mas posso adiar dependendo do decorrer das coisas aqui. - disse pegando chaves antigas no bolso do terno preto.

- O que tem aí?

Victor se virou para mim cruzando os braços.

- Você faz muitas perguntas Jess.

Bufei.

- Eu não confio em você. O que tem ai? - insisti.

Victor colocou a mão no peito parecendo chocado.

- Você não confia em mim?

Agitei as mãos em direção à porta, impaciente.

- Anda, abre logo.

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