XI

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Não. Louis não podia ver aquilo. Ele não queria ver aquilo. Queria imediatamente apagar aquela notícia de sua mente junto com aquelas imagens. O carro totalmente destruído. Harry e sua família. Meu Deus, aquilo era horrível e doía imensamente no coração de Louis. O acidente datava de quatro anos atrás.

Por isso Harry havia se tornado o dono da cafeteria. Por isso que ele estava sozinho na véspera de Natal. Por isso ele o entendia.

"... Não vou para outro lugar mesmo...".

"... Vai ficar tudo bem... No final sempre fica...".

Louis não podia acreditar que durante todo aquele tempo Harry estava tentando animá-lo quando na verdade era para ser o contrário, pois quem devia estar totalmente quebrado, triste e reclamando da vida, era para ser Harry, mas ele não estava. Ele tentava ser o mais feliz e positivo que ele conseguisse mesmo aquela data o lembrando de algo tão traumático. E só de pensar que por um momento Louis havia reclamado mentalmente de toda essa animação... Harry era o ser humano mais forte, corajoso e doce que Louis conhecera, não era justo que tivesse passado por tamanha perda e dor.

Louis rapidamente tentou clarear sua mente e enxugar os olhos úmidos. Guardando então o recorte de jornal de volta na gaveta. Entrou no banheiro e tomou seu banho, esforçando-se ao máximo para não se lembrar do que havia descoberto e começar a chorar ali mesmo. Procurou em sua mala a peça de roupa mais confortável que pudesse encontrar, a vestindo em seguida. Pensou em talvez ir atrás de Harry na cozinha, mas não saberia o que dizer se o encontrasse. Então ele apenas resolveu se deitar por alguns instantes na cama de Harry para esperá-lo até que ele terminasse de limpar tudo.

Porém, Louis estava mais cansado do que imaginava e acabou pegando no sono. Quando Harry retornou para seu quarto, deu de cara com o garoto todo encolhidinho de frio deitado em sua cama, mais parecendo uma bolinha do que propriamente um ser humano. O cacheado não conseguiu evitar sem sorrir com aquela cena. Decidindo que jamais teria coragem o suficiente para acordá-lo, puxou seus cobertores e os colocou por cima de Louis, que relaxou seus músculos imediatamente, agradecendo com um sorriso inconsciente o calor no qual fora envolto.

Harry deixou o quarto e voltou ao salão principal da cafeteria. Convencido de que não conseguiria dormir aquela noite, como todos os anos recentemente, na verdade, preparou para si um café forte e sentou-se no sofá macio de uma das mesas e ficou lá, quieto enquanto observava a noite lá fora e se perdia em pensamentos. O garoto se encontrava em um terrível dilema, onde seus medos se conflitavam com seus novos sentimentos. Sentimentos esses que apareceram quando um jovenzinho adentrou em sua cafeteria e literalmente caiu em seus braços.

"Harry, um dia você vai encontrar uma razão para amar o Natal novamente" - a voz da sua mãe percorria sua mente. Ele havia sonhado com ela há alguns dias atrás. Essa frase, curiosamente, fora a única coisa que ele se lembrava do sonho.

Era isso. Aquela era a razão pela qual ele esperava. E ele a tinha agora, bem ali, deitado no seu quarto, estava a sua oportunidade de amar o Natal mais uma vez.

Christmas Lights || l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora