Pov – Alina
Beijar, ele disse isso. Que me beijaria. Eu beijaria ele. Acho que gostaria muito. Será que ele volta mesmo? Será que vou até lá? Se não for ele disse que vai embora. Será que vai embora para sempre?
Vai. Nem preciso pensar muito, vai pensar que não quero mais falar com ele. Caminho para casa depois de enterrar meus tesouros. Fico querendo que o Danny seja um dos meus tesouros, por que ele é tão especial.
Meu pai me mata se descobre, me deixa sem comer para todo sempre, até eu virar esqueleto de Alina.
Faço tudo correndo, com medo dele perceber que passei tempo demais fora. Depois eu me arrumo. Não temos chuveiro, meu pai nunca quis adaptar e me lembro do meu irmão reclamando de como nossa vida era ruim. Encho o tonel e mergulho com gosto. A água está gelada, me refresca e me sinto leve e feliz.
Abro a gaveta ao lado da cama, meu sorriso se desfaz, não importa quantos vestidos eu tenha, são todos iguais, o mesmo corte, a mesma cor, branco e simples, por que sou pura, por que sou inocente e uma missionária. Eu sou só isso. Não posso ser mais nada. Qualquer outra coisa é feio e errado, qualquer outra coisa é pecado e vai mandar toda minha família para o inferno.
Me visto, escovo os cabelos, penso nele, se vem mesmo, se quer me beijar e se eu quero beija-lo.
Claro que eu quero. Só que morro de medo. Depois não sei o que faço, talvez eu pergunte, Danny responde todas as coisas e acho que ele sabe.
―Alina! – Derrubo a escova de cabelo de susto quando meu pai invade o quarto. – Jantar. Tenho pressa. – Ele me dá as costas e obedeço rápido.
―Vai sair? – Ando mentindo muito. Eu sei que ele vai, só quero ter certeza.
―Tenho um compromisso. Vou ver o Salvador, depois de lá vou ficar no mar. Volto ao amanhecer.
―Não vou junto?
―Ouviu bem quando o Salvador disse que tinha que ficar em retiro?
―Ouvi.
Ele me olha, para de comer e fica a me olhar com atenção, finjo estar mastigando, olho para o prato remexendo a comida.
―Está muito corada. Não ficou andando por aí?
―Não. Só fui lá fora para meus afazeres. – Papai me retira o prato, não acho que seja um jejum de purificação, talvez fosse isso no começo, mas hoje é seu jeito de me castigar. Meu estômago reclama e meus olhos marejam.
―Mentir é o maior dos pecados. Pense nisso essa noite. Enquanto lê os manuscritos. O Salvador gasta horas a escreve-los. Pode ao menos me dizer o que está escrito lá? – Na verdade não, eu nunca presto muita atenção. Só copio metodicamente de modo tão mecânico que nem sei do que se trata. Fico olhando para a mesa agora sem o prato em silencio. Meu pai afasta o próprio prato agora vazio e se põe de pé.
―Você nunca peca. – Ele me olha. Espantado e mesmo assim eu continuo a olhar para ele. – Nunca faz jejum. Sempre sou eu, como se eu fosse a única impura, como posso ser uma missionária se sou tão errada?
Eu vejo os olhos dele arderem de fúria, vejo sua expressão se transformar numa máscara de rancor e quando a mão se ergue eu sinto meu peito queimar antes mesmo do rosto. Dou um passo para trás e seguro o local do tapa, meus olhos que antes tinham lágrimas agora são como um rio.
―Seu irmão plantou a semente do mal em você antes de fugir. Ele não te levou, ele deixou você aqui, mesmo odiando a mim e a nosso salvador, mesmo dizendo que ele era um monstro e que lhe faria mal, ele foi sem você.
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Paixões Gregas - Um Amor como Esperança (Degustação)
RomanceDaniel Stefanos é o filho mais novo do milionário Heitor Stefanos, sua família é conhecida pela fortuna e pelo modo amoroso e unido com que vivem. Danny como é conhecido vivem em Nova York, sua grande paixão é desenhar quadrinhos, é um jovem carinho...