Ooops !

64 3 2
                                    

Entrei pela porta a correr como uma louca, esperando encontrar todos os olhares da sala a virarem-se para mim. Mas em vez disso, deparo-me com uma sala totalmente vazia. O quê? Onde é que estão toda a gente? Eu estou na sala certa: A.2.3, é o que diz no meu horário e na placa da sala. 

Bem, não vale a pena ficar aqui a olhar para o nada. 

' 0 mensagens ' é o que diz no ecrã no meu telemóvel. Ponho-o no meu ouvido.

"Vá lá... Vá lá..." Depois de quatro toques ela atende.

"Olá?" Ela diz com uma voz fraca, como se estivesse a acabar de acordar.

"Onde é que tu estas?" Pergunto sem mais rodeios. Pois se eu deixar passar muito tempo tenho o pressentimento que ela não vai falar. É que eu a Emily raramente falamos por chamada, pois somos amigas inseparáveis e depois de estar mais de 8 horas sempre a falar quando vamos para casa só trocamos mensagens. Tipo milhares de mensagens em menos de duas horas. Eu, sinceramente, não sei como é que temos sempre alguma coisa para dizer uma a outra.

"Eu estava a dormir... na minha querida e amada cama. Porque é que tu me foste acordar tão cedo?" Acho que se ela estive mais acorda o sarcasmo na sua voz seria substituído por uns bons gritos.

"E por que é que ainda estas em casa? Estas doente ou só vais faltas porque sim?" Perguntei com um pouco de confusão na minha voz. A Emily não é de faltar as aulas. Ela tem sempre boas notas, e quando eu digo boas eu quero dizer que ela é a terceira melhor aluna do nosso ano. Se ela falta nem que seja a uma aula é porque alguma coisa se passa lá por casa, alguma coisa mesmo grave.

"Eu não estou doente. Tu é que és uma cabeça no ar e esqueceste-te. Hoje não temos aulas pois são os exames e todos os professores estão a vigiar... logo tu és a única do nosso ano que se levantou cedo num dos poucos dias que podemos ficar em casa no quentinho nas nossas camas." Ela disse rindo-se no final. Como é que eu pode-me esquecer. Basicamente corri um quarteirão com este frio para nada. Tenho mesmo que arranjar um cérebro novo, que este já esta reformado faz tempo.

"Oi? Ainda estas ai?" Pergunto-lhe pois a linha dela ficou totalmente muda.

"Sim..."

"Bem, já que estas acordada queres vir ter comigo ao Starbucks na 8ª Avenida? Sim? Otimo! Encontra-mo-nos lá? A que horas?" Não parei de fazer perguntas até que ela começou a rir tão alto que precisei de afastar o telemóvel para não ficar surda.

"Tu nunca calas-te, pois não?" Ela perguntou com gozo a preencher a sua voz. "Eu vou lá ter, mas ainda sou capaz de demorar muito tempo. As coisas por aqui estão, outra vez, estranhas e não sei como irei ter contigo. Nem toda a gente pode viver no centro da cidade, sabes ?" As vezes esqueco-me que a Emily vive na periferia, no lado esquerdo do rio. Nesse lado só há vivendas bem grandes e bonitas. Não, bonitas não, Luxuosas! Cada uma com uma caracteristica unica e que aumenta o nivel de Luxuria.

"Esta bem?" Assim que disse isso percebi o quão estúpida era a pergunta. "Esquece o que eu acabei de dizer." Aprecei-me a dizer com uma pequena gargalhada, que Emily teve a compaixão de compartilhar comigo para melhorar o meu nervosismo. "Manda mensagem quando poderes e a dizer as horas. Sim? E lá falamos com calma. Pois... Yah... tu sabes que eu acho falar ao telefone estranho como tudo, não sabes?" Disse com um sorriso na cara enquanto olhava para os corredores vazios e fechando a porta da sala que ainda não me tinha dado ao trabalho de fechar.

"Sim. Por mim isso está ótimo." Emily disse de uma maneira que eu podia imaginar o grande sorriso que ela devia ter estampado nos lábios.

Eu e ela despedimo-nos e eu guardei o telemóvel no bolso da frente das minhas jeans enquanto caminhava preguiçosamente para o meu cacifo.

Ela, Ele e Uma História (Parada)Onde histórias criam vida. Descubra agora