Saí do quarto assim que senti que estava pronta, e coloquei o presente do meu amigo secreto embaixo da árvore de natal, num canto da sala, ao lado dos presentes comprados pela Cristiana, pela Valentina, pelo Pedrão e pelo Ivan. Notei que tinha um presente a mais embaixo da árvore. Deduzi que mais alguém havia chegado enquanto eu me maquiava. Talvez estivesse no banheiro.
Valentina estava desenformando a rosca de nozes quando me voltei para a cozinha.
– Essa ficou perfeita – anunciou ela, tirando as luvas térmicas. Regou a guloseima com uma calda de coco que tinha preparado enquanto a primeira rosca estava assando, e que ficou o dia inteiro esfriando sobre a mesa, terminou de decorar com pedacinhos de morangos frescos, e colocou-a com todo cuidado na bancada, ao lado da sobremesa do Ivan, que agora eu percebia que era uma espécie de bolo ou pavê, provavelmente de chocolate, com glacê escuro e frutas vermelhas.
Enfim, não entendi bem o que era, mas aquilo animou meu estômago. Gosto de falar da draga da Cristiana, mas de vez em quando preciso policiar a minha.
Falando nela, também escolheu esse momento para surgir na sala, e também teve a atenção imediatamente furtada para a nossa bancada de sobremesas. A Cristiana, quero dizer, não a draga. Ou talvez, as duas.
– Hum... Ivan, essa coisa dá água na boca só de olhar – disse Cristiana, hesitando em chegar perto. O dia certamente não precisava de mais acidentes. – Garoto, peça-me quantas xícaras de açúcar quiser, que um dia vou te pedir em casamento.
– Deixa o Pedrão ouvir isso! – comentei, dando uma risadinha.
– Tenho certeza de que ele nunca vai ter ciúme dessas sobremesas – disse Cristiana, ainda concentrada nas delícias sobre a bancada.
– Tem mais alguém aqui? – perguntei, ainda pensando no presente a mais que vira ao pé da árvore de natal, muito mais modesta que a do Seu Nosferatu.
Ouvimos a campainha.
– Agora tem – disse Ivan, enquanto Valentina abria a porta.
– Oi, linda! – disse Leandro, parado na porta, com o presente do amigo secreto escondido atrás do batente da porta. – Você me quer embrulhado ou eu posso começar a me livrar de toda essa produção?
Na verdade, ele não estava tão produzido assim, mas ele sempre se veste como se estivesse indo a um encontro, mesmo que só esteja indo à padaria.
– Você não tem uma cantada pior, não, Casanova? – indagou Valentina, segurando a risada.
Na verdade, ele tinha, mas não ia gastar por aqui.
– Não diga que não teve sua chance – ele disse, dando um passo para dentro do apartamento, e segurando o rosto dela com delicadeza antes de lhe dar um beijo na bochecha.
– Você... – ele disse, apontando para Cristiana. – Está linda! Mas eu não quero apanhar do seu namorado. – Então apontou para mim. – Você, me aguarde à meia-noite!
– Do namorado dela você não tem medo de apanhar? – perguntou Cristiana. Então, a compreensão a atingiu. – Oh...
Ela me deu aquele olhar "te peguei" de novo, enquanto Leandro me envolvia num abraço demasiadamente caloroso. Mas ela estava redondamente enganada.
– A Manu não tem namorado... – ele começou a dizer. Subitamente, porém, se afastou, me lançando um olhar avaliativo. – Você tem?
– Não sei do que vocês estão falando – esquivei-me.
– Até o fim da noite, pode apostar que eu vou descobrir – disse Cristiana. Ou melhor, repetiu Cristiana.
– O único cara que ela vai beijar hoje sou eu – garantiu Leandro, me abraçando de novo, dessa vez mais apertado, estalando um monte de beijos no meu rosto. Na base da minha orelha, para ser mais precisa.
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Se Contar, Ninguém Acredita No Que Aconteceu Nesse Natal
HumorVéspera de Natal. Um dia em que você espera reunir a família, encher a pança de panetone, brindar com aquele vinho comprado para ocasiões especiais... Um dia que você deixa tudo planejadinho desde o meio de novembro. Mas véspera de natal também é aq...