Capítulo 3 - A Festa de Natal dos Viciados em Banana

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Saí do quarto assim que senti que estava pronta, e coloquei o presente do meu amigo secreto embaixo da árvore de natal, num canto da sala, ao lado dos presentes comprados pela Cristiana, pela Valentina, pelo Pedrão e pelo Ivan. Notei que tinha um presente a mais embaixo da árvore. Deduzi que mais alguém havia chegado enquanto eu me maquiava. Talvez estivesse no banheiro.

Valentina estava desenformando a rosca de nozes quando me voltei para a cozinha.

– Essa ficou perfeita – anunciou ela, tirando as luvas térmicas. Regou a guloseima com uma calda de coco que tinha preparado enquanto a primeira rosca estava assando, e que ficou o dia inteiro esfriando sobre a mesa, terminou de decorar com pedacinhos de morangos frescos, e colocou-a com todo cuidado na bancada, ao lado da sobremesa do Ivan, que agora eu percebia que era uma espécie de bolo ou pavê, provavelmente de chocolate, com glacê escuro e frutas vermelhas.

Enfim, não entendi bem o que era, mas aquilo animou meu estômago. Gosto de falar da draga da Cristiana, mas de vez em quando preciso policiar a minha.

Falando nela, também escolheu esse momento para surgir na sala, e também teve a atenção imediatamente furtada para a nossa bancada de sobremesas. A Cristiana, quero dizer, não a draga. Ou talvez, as duas.

– Hum... Ivan, essa coisa dá água na boca só de olhar – disse Cristiana, hesitando em chegar perto. O dia certamente não precisava de mais acidentes. – Garoto, peça-me quantas xícaras de açúcar quiser, que um dia vou te pedir em casamento.

– Deixa o Pedrão ouvir isso! – comentei, dando uma risadinha.

– Tenho certeza de que ele nunca vai ter ciúme dessas sobremesas – disse Cristiana, ainda concentrada nas delícias sobre a bancada.

– Tem mais alguém aqui? – perguntei, ainda pensando no presente a mais que vira ao pé da árvore de natal, muito mais modesta que a do Seu Nosferatu.

Ouvimos a campainha.

– Agora tem – disse Ivan, enquanto Valentina abria a porta.

– Oi, linda! – disse Leandro, parado na porta, com o presente do amigo secreto escondido atrás do batente da porta. – Você me quer embrulhado ou eu posso começar a me livrar de toda essa produção?

Na verdade, ele não estava tão produzido assim, mas ele sempre se veste como se estivesse indo a um encontro, mesmo que só esteja indo à padaria.

– Você não tem uma cantada pior, não, Casanova? – indagou Valentina, segurando a risada.

Na verdade, ele tinha, mas não ia gastar por aqui.

– Não diga que não teve sua chance – ele disse, dando um passo para dentro do apartamento, e segurando o rosto dela com delicadeza antes de lhe dar um beijo na bochecha.

– Você... – ele disse, apontando para Cristiana. – Está linda! Mas eu não quero apanhar do seu namorado. – Então apontou para mim. – Você, me aguarde à meia-noite!

– Do namorado dela você não tem medo de apanhar? – perguntou Cristiana. Então, a compreensão a atingiu. – Oh...

Ela me deu aquele olhar "te peguei" de novo, enquanto Leandro me envolvia num abraço demasiadamente caloroso. Mas ela estava redondamente enganada.

– A Manu não tem namorado... – ele começou a dizer. Subitamente, porém, se afastou, me lançando um olhar avaliativo. – Você tem?

– Não sei do que vocês estão falando – esquivei-me.

– Até o fim da noite, pode apostar que eu vou descobrir – disse Cristiana. Ou melhor, repetiu Cristiana.

– O único cara que ela vai beijar hoje sou eu – garantiu Leandro, me abraçando de novo, dessa vez mais apertado, estalando um monte de beijos no meu rosto. Na base da minha orelha, para ser mais precisa.

Se Contar, Ninguém Acredita No Que Aconteceu Nesse NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora