Capítulo 1 - Parece Que Nem Todo Mundo É Filho de Papai Noel...

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Natal é uma das minhas datas favoritas no ano, porque é sempre aquela época em que você deixa tudo de lado e se permite aproveitar a vida, e cometer todos os excessos que não cometeria normalmente, ao seu bel prazer: tira folga do trabalho, ou férias coletivas – a menos que trabalhe no comércio –, dá uma trégua na dieta, tira o escorpião da carteira e finalmente cria coragem para comprar aquele sapato que você está namorando há meses, mas sabe que é caro demais para o seu orçamento... E se pá, ainda rola aquela viagenzinha com os amigos ou com a família para algum lugar bem bacana. Sem falar no panetone, no peru, na rabanada, e nas toneladas de chocolate sem culpa que você se permite comer, para só se arrepender lá pelo dia três de janeiro... Enfim, Natal é uma data em que quase tudo é permitido. E em que as melhores histórias acontecem. Inclusive as mais inacreditáveis...

Pinheirinho que alegria! Trá lá lá lá lá, lá lá lá lá... Sinos tocam noite e dia...

– Nossa, quanta animação logo cedo! – comentou Cristiana, entrando na sala do apartamento, ao me ouvir cantando na cozinha enquanto virava as panquecas para o café-da-manhã de Natal. – Tem mais alguém aqui?

– Comigo, não. Com você...?

– O Pedrão só vem mais tarde. Mas, e aí? Qual é o motivo de tanta animação?

– Como assim? É Natal!

– É, mas para você amanhecer assim, cantando... A que horas o seu bofe vai chegar?

– Já te falei que não tem bofe nenhum!

Nesse momento, enquanto eu tirava as panquecas da frigideira, a campainha tocou. Cristiana foi atender, e depois de falar durante aproximadamente um minuto com alguém que começou perguntando por mim, ela fechou a porta, e trouxe uma cesta enrolada em celofane transparente, com um laço vermelho, até a bancada da cozinha. Dentro dele havia um ursinho de pelúcia branco.

– O Ninguém te mandou isso aqui – disse ela, com aquele sorriso "te peguei" no rosto.

Coloquei o prato de panquecas na mesa, e fui abrir meu presente, um tantinho constrangida. O ursinho tinha um cachecol vermelho e dourado no pescoço, com um pequeno enfeite natalino no centro, e um gorrinho vermelho. Ao redor dele, preenchendo o conteúdo da cesta, dezenas dos meus bombons favoritos.

– E aí? – insistiu Cristiana. – Ninguém tem nome?

– Amor, a fantasia é sua! – Eu não iria dar o braço a torcer. – Escolhe qualquer nome: Fulano de Tal, Sicrano de Etecetera, Beltrano de Assim Por Diante...

– Ahã! – Ela ergueu meu ursinho da cesta e começou a movê-lo diante do meu rosto, fazendo uma vozinha tola, como se ele estivesse falando: – E quem me mandou para você foi o Fulano de Tal, o Sicrano de Etecetera, ou o Beltrano de Assim Por Diante?

– Os três!

– Ok! Fica aí escondendo o jogo! Mas eu aposto que até o fim da noite eu consigo descobrir quem é esse teu bofe.

– Ah, é? E como você vai descobrir, hein, Cristiana Holmes?

– Vocês estão saindo há... O quê? Duas semanas?

Dei de ombros.

– E ele te mandou um ursinho e um monte de bombons logo cedo na véspera de Natal... – prosseguiu Cristiana. – De duas uma: ou ele está muito apaixonado, ou já te conhece há séculos. Ou as duas coisas! Eu sou capaz de apostar que ele vai aparecer por aqui hoje.

– Bom, se você vai apostar, me faça a gentileza de apostar dinheiro; e aposte alto, porque você vai perder!

– Veremos!

Se Contar, Ninguém Acredita No Que Aconteceu Nesse NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora