II

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O final de semana passou como em um piscar de olhos, parecia que quando você estava fazendo algo que você gostava, o tempo parecia encurtar. No meu caso, encurtou mais ainda porque esse foi o final de semana do qual eu decidi botar o meu sono em dia então a maioria do dia eu passava dormindo ou lendo algum livro. Tem coisa melhor que isso?!
Saí do elevador trazendo meu café comigo e logo que eu estava andando em direção a minha mesa. Connor e Benjamin discutiam silenciosamente. Connor foi o primeiro que levantou o olhar e sorriu para mim, Benjamin se virou para quem seu irmão sorria e sorriu também.
Para qualquer um, parecia que o sorriso de Connor era um sorriso inocente que você dava a um de seus amigos, mas de alguma forma, eu sabia que ele tinha aprontado alguma e que de alguma forma, eu estava envolvida.
- Maria! - Connor andou até mim, me abraçou forte.
- Connor?! - Perguntei, surpresa. - O que você está fazendo aqui?
- Maria, amor da minha vida. - Ele passou as mãos por meus braços. - Eu vim te ver, estava com saudades. - Ele fez cara de inocente.
- O que você que você fez agora? - Perguntei, me afastando dele e cruzando os braços.
- Por que você pensa tão pouco de mim, hein, Maria?! Eu não posso só visitar minha amiga e meu irmão?
- Não.
- Assim você fere meus sentimentos. - Ele colocou a mão no coração.
- Connor, me poupe o teatrinho! Pode acabar com a palhaçada e fala logo!
- Oh, olá Maria. - Me virei para trás, dando de cara com Margo Hastings. - Eu estou tão feliz que você vai passar o Natal conosco. - Ela me abraçou, e depois deu dois beijinhos nas minhas bochechas.
- Hm... o quê?
- Fico feliz que Benjamin tenha tomado um jeito e que tenha sido com você. Muito obrigada.
- Hum... De nada, eu acho. - Olhei para Connor que segurava o riso e Benjamin que sorria sem os dentes.
- Mãe, Collins estava te procurando. - Benjamin disse, chamando a atenção da sua mãe.
- Oh, eu realmente preciso falar com ele. - Ela desviou a atenção deles para mim. - Você conseguiu ficar mais linda do que antes, Maria, sem falar no quão talentosa e trabalhadora você é. Normalmente, eu falaria que a garota que Benjamin está namorando é uma sortuda, mas nesse caso ele é o sortudo.
- Namorando? - Perguntei, confusa.
- É, bobinha. - Ela apertou minhas bochechas. - Eu já sei de tudo. - Ela deu uma piscadela. - E você não precisa se preocupar com a política de relacionamentos da empresa, nós duas sabemos que era inevitável.
- Inevitável?
- Mãe, - Benjamin começou. - Collins já está te esperando. Eu preciso conversar com a Maria. - Benjamin disse, parando ao meu lado. Sua mão se fechou em meu braço, fazendo com que eu olhasse para ele.
- É, vamos, Maria. - Connor colocou as mãos em meus ombros, me puxando em direção a sala de Benjamin. Os dois entraram e ficaram parados em minha frente enquanto eu tentava assimilar o que tinha acabado de acontecer.
Namorada.
Namorada do Benjamin.
Namorada do Benjamin indo passar o Natal com sua família.
- Que porcaria foi que você fez agora, Connor?! - Eu gritei, jogando as mãos para o alto - Que tipo de joguinhos dessa sua cabeça doentia você me colocou agora? E você? - Me virei pra Benjamin. - Que porcaria estava pensando quando deu ouvidos ao seu irmão? Eu pensei que você deveria ser o irmão sério, chato e inteligente dessa família!
- Isso é jeito de falar com seu chefe?
- Quando meu chefe diz pra mãe dele que estamos namorado, sim! - Eu gritei de volta.
- Eu entrei em pânico, ok?! - Ele passou as mãos pelos cabelos. - Eu não sabia o que dizer então eu só fui na onda do Connor. Me desculpe, eu sei que o natal é um tempo de família e que você deve querer passar um tempo com sua mãe, com sua família. Connor sugeriu e eu apenas aceitei.
- Eu não tenho família.
- Como disse?
- Eu não tenho família! - Eu disse, lentamente. - Minha mãe morreu há sete anos atrás e meu pai eu nunca conheci. O máximo de família que eu tive foram nos abrigos que eu fiquei até atingir a maioridade. - Eu não sabia por que estava falando aquilo pra Benjamin, mas quando eu menos pensei, eu já estava vomitando palavras. Ele me olhou surpreso.
- Desculpe, eu não sabia.
- Claro que não, você nem ao menos responde quando eu te dou bom dia. Acho que é verdade o que eles dizem, dinheiro não compra educação. - Connor segurou o riso enquanto Benjamin parecia mais perdido que cego em tiroteio. Pela primeira vez Benjamin não parecia o CEO arrogante e pretensioso, na verdade, ele parecia mais um adolescente do qual a mãe tinha acabado de dar um sermão.
- Você não pode falar comigo dessa maneira, eu ainda sou seu chefe.
- Segundo sua mãe, eu sou bem mais que isso, querido. - Eu virei uma das cadeiras, me jogando nela. - Agora todo mundo vai ter a certeza que eu estou dormindo com a sua família inteira para chegar no topo, primeiro todo mundo pensando que eu e Connor estamos juntos, sendo que da fruta que eu gosto ele come até o caroço; agora sua mãe, falando em alto em bom som que eu dei um jeito em você. Esse é pior dia da minha vida.
- Não esquece que o Ben te deixou trabalho na sexta no dia do seu aniversário. - Connor falou, fazendo com que eu cerrasse os olhos para ele. - Esse sim foi o pior dia da sua vida, e da minha também. Eu tive que subir no palco para ganhar uma lapdance de graça.
- Aposto que você ficou devastado. - Olhei para ele, fazendo gesto de limpar uma lágrima.
- Você não imagina o quanto. - Ele fez biquinho, cruzando os braços. Connor e eu nos encaramos um tempo antes de soltar uma gargalhada.
- Sexta foi seu aniversário? - Benjamin nos interrompeu. - Por isso que você queria sair mais cedo? Por que você não disse nada?
- Porque quem quer chegar no topo não se importa com coisas mundanas. - Eu disse sarcástica e com a maior quantidade de veneno que eu sabia que eu tinha. Benjamin tinha um jeito de entrar debaixo da minha pele. Antes eu mordia minha língua, ele era meu chefe afinal de contas, agora eu estava pouco me importando. Se eu fosse demitida, talvez fosse até para o melhor. Benjamin estava prestes a falar alguma coisa quando sua mãe entrou na sala de reunião fazendo com que eu me levantasse, ficando entre Ben e Connor.
- Você já está pronta, Maria?! - Ela perguntou, com um sorriso nos lábios. - Ah, vocês fazem um casal lindo. - Ela disse, fazendo com que eu risse forçado. Connor bateu seu quadril com o meu fazendo com que eu desequilibrasse e Ben me segurasse pela cintura. Quem entrasse nessa sala podia jurar que nós dois éramos realmente um casal.
- Pronta pra que, senhora? - Perguntei, ignorando o calor da mão de Ben na minha cintura.
- Oh querida, nós vamos todos pra casa de praia no Havaí passar o natal por lá e você está convidada. Já que você e Benjamin estão juntos, nada do que mais justo você passar o natal em família em vez de em um daqueles orfanatos.
- Eles são minha família, senhora Hastings.
- Claro que são, minha querida.
- E sem falar que eu tenho que ajudá-los com os presentes, a ceia e todo o resto. Sem meu dinheiro, eles não vão ter natal.
- Eu cuido disso. - Benjamin disse, apertando minha cintura fazendo com que eu olhasse para ele.
- Mas são mais de nove orfanatos.
- Não se preocupe, eu cuido disso. Eles vão ter tudo que precisam para ter um natal que eles merecem.
- Sério? - Perguntei, surpresa.
- Sério. - Ele sorriu de lado.
- Obrigada.
- De nada.
- Eles não são fofos, Connor?! - Ela bateu as mãos e sorriu para nós. - O avião sai às noves, espero vocês todos na pista. Tchauzinho. - Ela continuou, saindo da sala de reunião.
- Desde quando sua mãe fala tchauzinho?
- Desde que ela começou a assistir Rupaul's Drag Race. Aquela dublagem é de matar. - Ele deu de ombros.
- Vocês sabem quem precisam dizer a verdade para ela, certo?! - Me afastei de Benjamin, colocando uma boa distância entre nós dois. Era mais seguro, minha sanidade mental acima de tudo. - Eu não posso ir, eu preciso ajudar nos natais dos orfanatos, eu não posso simplesmente arrumar minha mala e ir para o Havaí. Isso é coisa de gente rica.
- Eu já disse que eu cuido de tudo. - Benjamin respondeu, colocando suas mãos nos bolsos da calça. Porque, em nome de toda a discografia da Cher, esse homem infernal tinha que ser tão maravilhoso o tempo todo? E pior, usando esse terno azul marinho, o meu favorito, enquanto dizia essa frase de todo bilionário irresistível dos livros do wattpad que eu lia, dizia? Por que Deus não me dava um tempo?
- Não é como se você não precisasse de um tempo para você, né Maria?! - Connor se sentou na cadeira, começando a rodar na mesma. - Você vive para o seu trabalho, quase nunca se diverte.
- Isso é porque nem todo mundo nasceu em berço de ouro, querido, alguns de nós tem que trabalhar pelo estilo vida caro que vivemos. De que outra forma eu pagaria as minhas pequenas viagens a YSL, hein?!
- Um sugar daddy, talvez? - Connor deu de ombros, parando a cadeira e se levantando da mesma. - Olha, Maria, você precisa sair. Você não está vivendo, você está apenas sobrevivendo e uma vez ou outra comprado uma coisinha cara que te traz uma felicidade instantânea. Qual foi a última vez que você foi a praia? A última vez que não se preocupou com dinheiro? Ou que se divertiu e sorriu tanto que doeu suas bochechas? - Ele cruzou os braços. - Você está da mesma maneira que eu te conheci, só que dessa vez com um melhor trabalho e moradia, mas continua com a mesma ideia de apenas sobreviver. - Ele se jogou na cadeira novamente, começando a girar. Connor se comportava como uma criança às vezes.
- Você está errado!
- Ah, você não me dá outra escolha. - Ele se levantou de uma vez. - Eu invoco o tratado da meia-noite!
- Retira o que disse agora!
- Eu invoco o tratado da meia-noite! Eu invoco o tratado da meia-noite! Eu invoco o tratado da meia-noite! - Connor saiu cantarolando pelo escritório.
- Eu te odeio!
- Agora você vai ter que ir, mesmo me odiando!
- O que é o tratado da meia-noite?
- Um trato que nós fizemos quando Connor salvou a minha vida há alguns anos, como ele nunca quis que eu o pagasse de volta em dinheiro, nós criamos o tratado da meia-noite no qual quando aclamado eu teria que ajudar Connor com o que ele pedisse, mesmo que fosse a coisa mais sem noção do mundo. Ele já fez isso 4 vezes, tornando essa a última vez.
- E como vale a pena.
- Você não precisa ir, Maria. - Benjamin começou, fazendo com que eu olhasse para ele. - Eu vou contar a verdade para minha mãe. - Ele olhou pra Connor. - Retira o que você disse sobre esse trato que vocês têm.
- Não! - Connor gritou, mas Benjamin cruzou os braços, olhando para ele com um dos seus olhares matadores. - Ah, tudo bem! Eu retiro o que eu disse, satisfeito?
- Muito. - Ele se virou para mim. - Pronto Maria, você pode ir. Eu sabia que eu ia me arrepender do que eu estava prestes a dizer, passar três dias fingindo ser namorado de Benjamin parecia perigo na certa, porém a bad girl dentro de mim e o fato de que eu realmente precisava de férias falaram mais alto.
- Você vai cuida das doações para os orfanatos?
- Eu só preciso dos nomes.
- E você vai pagar pela viagem toda?
- Bem, uma parte dela sim.
- Então considere essa viagem como meu bônus. - Eu disse com um sorriso no rosto. - Vamos Connor, eu tenho que fazer comprar para o clima do Havaí.
- YAAASSSSS! - Connor soltou um grito, correndo até mim e me rodopiando pela sala. - Você vai amar o Havaí! - Connor me puxou pela mão.
- E o que eu vou fazer até às nove? - Ben perguntou, fazendo com que nós nos virássemos para ele.
- Revisar os relatórios que eu fiz na sexta e corrigir os erros. - Apontei para pilha de pastar em cima da sua mesa. - Até mais tarde, amorzinho.


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