V

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- Eu acho que eu nunca comi tanto na minha vida. – Eu falei, me encostando na cadeira. Passava da meia noite e nós estávamos na ceia de natal, a família Hastings era uma família pequena, mas nem um pouco menos divertida. Para falar a verdade, talvez fosse isso que os tornassem divertidos. Margo tinha feito comida para um batalhão, e nós tínhamos comido como um, eu estava a ponto de explodir.
Para falar a verdade, Margo disse que a partir do almoço ninguém mais ia comer pra comer toda a comida que ela tinha preparado e durante a noite toda. Ela tinha inventado vários jogos pra deixar todos com mais fome.
Benjamin pegou minha mão e a beijou, fazendo com que eu olhasse pra ele.
- Espero te ver em mais natais conosco, Maria. Você sempre será bem vinda. – Greg disse, sorrindo para mim.
- Eu adoraria.
- E você nem precisa trazer presente.
Os Hastings tinham uma outra tradição que era pra lá de estranha: eles não trocavam presentes entre si, em vez disso, eles escolhiam uma instituição de caridade, colocavam em um sorteio e a que tirasse, eles teriam que proporcionar o melhor natal pra eles. Era o que eu fazia, mas edição gente rica.
- Agora se vocês nos dão licença, Margo e eu vamos pra uma festa. – Greg se levantou, estendendo a mão para sua mulher que felizmente a pegou.
- Eu pensei que nós íamos passar a noite inteira juntos. – Benjamin começou.
- E nós passamos a noite inteira juntos, agora já é madrugada. Eu amo vocês, meus filhos, mas até nós precisamos nos divertir sem vocês. – Greg respondeu, fazendo todos rirem. – Aposto que você vai querer passar o resto na noite com sua namorada.
- É, porque todos nós vamos pra festa. – Connor disse, se levantando. Blake, seus pais e Ashley fizeram o mesmo.
- Isso é alguma espécie de complô? – Benjamin perguntou, se levantando e eu o acompanhei.
- Não, nós só achamos que vocês dois mereciam uma noite sozinhos. – Margo deu de ombros. – Se vocês quiserem, vocês podem ir também.  Ben olhou para mim e eu apenas dei de ombros.
- Não, nós vamos ficar por aqui mesmo.
Depois de nós nos despedimos de todos, eles saíram pela porta e Ben sussurrou em meu ouvido que tinha uma surpresa para mim. Ele colocou duas mãos em meus olhos, e me levou em direção ao nosso quarto.
- Eu já posso abrir meus olhos? – Perguntei, sentindo Ben empurrar a porta com o pé.
- Você já perguntou isso umas dez vezes e pela décima vez: ainda não. – Ben riu, começando a me empurrar para dentro do quarto.
- E agora?
- Agora pode.
O quarto estava todo decorado com pétalas vermelhas espalhadas pela cama e pelo chão, no meio da cama tinha uma caixa grande que eu não podia ver o que tinha dentro. Olhei para Benjamin que apenas deu de ombros fazendo com que eu me sentasse na cama e pegasse a cesta em minhas mãos, Benjamin apenas me olhava com um sorriso nos lábios enquanto eu lutava contra o papel de embrulho, quando eu finalmente consegui rasgar e abrir o presente, eu comecei a tirar os itens um por um.
- Filmes de natal. – Eu disse, pegando os dvd's e colocando em cima da cama. – Duas colheres. – Olhei para ele, confusa. – Oh, agora eu sei para que as colheres. Sorvete de napolitano. – Tirei o sorvete de dentro da caixa, sentindo que tinha mais duas caixas. – E mais duas caixas?! Benjamin Hastings, o que você está aprontando? – Coloquei as duas caixas em cima da cama, pegando uma delas e a abrindo. Nela tinham algumas fotos e eu percebi que foram as mesmas fotos mandadas pelas diretoras dos orfanatos, Benjamin se sentou ao meu lado fazendo com que eu olhasse para ele.
- Como você não foi, eu pedi para as diretorias tirarem fotos pra que eu pudesse te mostrar. – Ele começou. – Eles adoraram os presentes, eu nunca pode ir em nenhuma das doações que eu fiz para os orfanatos, mas eu definitivamente vou a partir de agora. É extremamente gratificante ver que você proporcionou tamanha felicidade para alguém. Nessa outra caixa tem uma pulseira, – ele pegou a outra caixa e a abriu, revelando uma daquelas pulseiras tipo Life By Vivara, das quais você adiciona os pingentes – eu mandei fazer os pingentes de acordo com os emblemas dos orfanatos. – Ele pegou a pulseira e colocou em meu braço enquanto eu ainda olhava para ele com a boca meio aberta. – O sorvete e os filmes é para você não quebrar a tradição com sua mãe, Rose disse que você costumava fazer isso quando passava o natal com eles então eu trouxe tudo que precisava para você passar o natal como você passa todos os anos.
Eu movi os presentes pro lado, sentei no colo de Benjamin e o beijei, pela primeira vez, de um jeito carinhoso. Claro que nós ainda nos beijamos com um certo desespero, mas dessa vez tinha muito mais carinho envolvido.
- Eu quero assistir O Amor Não Tira Férias primeiro. – Falei, dando um selinho nele, e me deitando na cama com o pote de sorvete na mão. Benjamin colocou o filme e veio se deitar na cama ao meu lado, ele levantou o braço para que eu deitasse em seu peito.
Não tinha lugar no mundo que eu preferia estar.

~xxxxxxxxxxx~

Por um segundo eu pensei que tudo que aconteceu no Havaí podia continuar acontecendo quando nós chegássemos a cidade, porém a realidade chegou como um soco no estomago logo quando nós aterrissamos.O que você pensa que está fazendo, Maria?Ben e eu não daríamos certo, o Havaí era uma atmosfera completamente diferente do que a cidade grande e por mais que a gente tentasse, eventualmente, eu sentia que alguma coisa iria entrar no caminho e nós acabaríamos em uma situação desagradável que acabaria em um de nós saindo da empresa. No caso, eu.
A esse ponto da vida eu já deveria ter aprendido a não me apegar as pessoas, especialmente pessoas das quais eu sabia que não iam ficar, o que a gente passou no Havaí vai ficar pra sempre na minha cabeça – acredite, vai sim –, mas vai servir pra ser só um sonho do mesmo jeito que Paris foi. Benjamin Hastings e Maria Parker formavam uma dupla maravilhosa quando se tratava de trabalho, mas eu sabia que misturar os dois acabaria em um desastre.
Eu ia fazer a mesma coisa que eu fiz quando voltamos de Paris: fingir que nada aconteceu e voltar a tratá-lo como meu chefe e as minhas mãos, dessa vez, teriam que ficar ao meu lado, nada de tocar Benjamin ou beijá-lo. Apenas profissionalismo daqui para a frente.
Quando o carro parou na frente do meu prédio, eu desci do mesmo sem nem ao menos esperar que James abrisse a porta. Ele abriu o porta-malas e eu tirei minha mala lá de dentro, eu estava a ponto de correr para o meu prédio, quando eu dei de cara com Benjamin.
- Maria... – ele parou em minha frente.
- O que acontece no Havaí, fica no Havaí. – Eu disse, levantando meu dedo mindinho para ele.
- Maria, eu não vou desistir de você tão fácil. – Ele balançou a cabeça, pegando minha mão e me puxando para perto dele. Ben me segurou pela cintura e me deu um beijo demorado, de tirar o fôlego, antes de se virar para o carro e sair sem nem ao menos dizer tchau.
Pra dizer que eu comi dois potes de sorvete enquanto assistia televisão foi um começo, pra falar a verdade eu não conseguia pensar em mais nada a não ser nas palavras de Ben. Eu não vou desistir de você tão fácil , o que eu deveria fazer com isso? Criar esperança? Pegar o telefone e ligar para ele? Talvez pegar o meu casaco e ir até seu prédio? Comprar mais sorvete?
Ideia brilhante, Maria. O seu Chico ainda está aberto, mais dois potes de sorvete vão ajudar muito na hora de pensar sem parar, sonhar acordada e me imaginar nos braços deBenjamin Hastings só iria piorar as coisas. Hora de voltar a enxergá-lo como a encarnação do Diabo.
Peguei meu casaco, minha carteira e fui até a porta. Na hora que eu a abri, meu queixo caiu no chão: Benjamin está parado na mesma, a ponto de apertar a campainha.
- Benjamin, o que você está fazendo aqui?
- Eu te disse, eu não vou desistir de você tão fácil. – Ele deu um beijo na minha bochecha antes de entrar em meu apartamento. – Eu trouxe sorvete, de napolitano, o seu favorito. – Ele levantou o pote de sorvete. – E um coleção de filmes sobre ano novo. – Ele levantou uma sacola cheia de DVDs. – Talvez a gente possa começar uma nova tradição, se você quiser, é claro. Filmes de ano novo, antes do ano novo, que tal?
- Ben...
- Eu não quero esquecer. – Ele me interrompeu. – Na verdade, eu nunca pude esquecer o que aconteceu conosco em Paris, mas eu respeitei seus desejos porque eu achava que era isso que você realmente queria. O problema, Maria, é que eu não consigo parar de pensar em você e essa viagem para o Havaí só me fez perceber o quanto eu fui burro por não ter insistido em fazer você ver o que eu já percebi há algum tempo.
- E o que seria isso?
- Eu quero tudo com você, Maria. Eu quero tudo que um cara tem direito a ter com a garota que ele gosta, tanto do bom como do ruim. Eu estou apaixonado por você, na verdade eu me apaixono por você todos os dias desde o primeiro dia em que eu te vi. Eu sei que eu sou péssimo com palavras, pior ainda com ações, mas eu juro, que se você me der uma chance eu vou te tratar feito a rainha que você é.
- Eu estou com medo, Ben. – Falei, cruzando os braços e olhando para ele. – Muito medo mesmo.
- Eu também. – Ele respondeu sorrindo, colocando as sacolas em cima da minha mesa de centro. – Mas a gente sempre arruma um jeito, afinal de contas somo Benjamin Hastings e Maria Parker, nós sempre achamos uma solução. O medo vai ser fichinha para a gente.
Eu sorri e fiz a única coisa que eu podia fazer, eu o peguei pelos ombros e o beijei como se minha vida dependesse disso.
- Quer ser minha namorada? De verdade, dessa vez? – Ele perguntou, encostando sua testa na minha.
- Você não acha que é cedo demais?
- Pra que evitar o inevitável? – Ele sorriu, me dando um selinho demorado.
- Então seria uma honra ser sua namorada, Ben.
Parecia que eu tinha perdido a cabeça, e tinha mesmo feito uma loucura, mas valia a pena. E como valia a pena.

FIM.

InevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora