Caixa preta

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Respirei fundo e abri meus olhos devagar, jurei estar em outro plano, já estava pronta para bater um papo com Deus, mas o alívio tomou conta quando ouvi o barulho do trem que ainda passava atrás de mim. Respirei aliviada e aproveitei a brecha para fugir direto para o galpão. Estacionei e desci do carro, Ryan estava do lado de fora com o celular na mão.

— Por que demorou tanto? Estou te ligando igual louco – Ele parecia preocupado.

— Mas eu só me atrasei um pouco, pra que esse estresse todo? Eu faço isso sempre – Entramos no galpão.

— Você tem noção de quantas pessoas querem sua cabeça nessa cidade Amber? Eu fico preocupado, principalmente agora que você dispensou a escolta. – Respirei fundo lembrando que teria que contrata-los novamente, odeio andar rodeada de segurança.

Fui para a sala de reuniões, as únicas pessoas com quem eu fechava negócios pessoalmente eram os seguranças. Gosto de verificar os mínimos detalhes com eles, para ficarem cientes com quem estão lidando.

— Esses são os 30 que cuidarão da carga que chegará na fronteira de Coton. – Ryan disse se aproximando de mim.

— Tá legal. Eu vou falar apenas uma vez e quero que todos entendam. Eu sou Amber Stonem, a patroa de vocês. – Vi eles ficarem surpresos, todo mundo conhecia esse sobrenome por conta de Mike e era muito difícil ver mulheres no meio do tráfico, Ainda mais comandando a porra toda.

— Podem ficar surpresos mesmo. Vocês estão acostumados a trabalhar com esses bandidinhos que acham que são alguma coisa, aqui vai ser bem diferente! – Ryan pegou o mapa enorme que mostrava exatamente o caminho de onde a droga sairia e até onde ela iria e pendurou na parede que tinha ali.

— Prestem bastante atenção. A cocaína vai sair do Paraguai 2:00 e chega na fronteira às 4:45 da manhã, vocês vão descarrega-la, quero tudo dentro dos nossos caminhões em 15 minutos!  Às 5:15 o Ryan chegará no galpão de destino para onde vocês irão, obedeçam às ordens dele – Disse ríspida e apontando os lugares no mapa. — Depois que descarregarem tudo, quero que levem os caminhões para algum mato bem longe da cidade e queimem eles, não deixem rastro algum – Olhei para cada um deles e todos pareciam ter entendido bem. — quem é o líder de vocês?

— Sou eu, senhorita Stonem. – Um homem loiro com um bigode esquisito e o braço cheio de tatuagens se levantou.

— Eu quero tudo pronto e concluído até o amanhecer, sem espaços para erros. Se algo acontecer com essa carga ou se alguém descobrir, eu mato um por um, então organize seus homens e façam esse trabalho direito! –  Olhei dentro dos olhos daquele esquisito.

— Sim, senhora – Ele respondeu e logo em seguida, voltou a sentar novamente.

Sai da sala e Ryan veio logo atrás, sentei no sofá que havia ali por perto.

— Qual o tamanho dessa carga? – Ele perguntou sentando ao meu lado.

— Quase 800 pacotes de cocaina – Respondi olhando pra ele.

— E você quer que eles descarreguem isso em pouco tempo? – Ri pelo nariz.

— Tem 30 marmanjos que mais parecem um armário naquela sala - Apontei para a sala onde todos estavam. — não é possível que eles não consigam realizar um trabalho desses. Além disso, confio no Kenny, ele sempre me manda capangas que dão conta do serviço, diferente de você – Ele revirou os olhos e ia levantar do sofá mas eu o impedi.

— Tem alguém tentando me matar – Olhei fixo para o chão.

— Ué, estranharia se não tivesse ninguém tentando te matar. – Ryan respondeu dando um risinho.

— Não Ryan, tem alguém querendo minha cabeça a qualquer custo. Fui perseguida quando estava vindo pra cá, atiraram no meu carro – Ele fechou a cara e me olhou bem sério.

— E por que não me ligou?

— Eu sei me cuidar sozinha muito bem. –Vi ele balançar a cabeça negativamente.

— Não tem como irem atrás de você, ninguém sabe a sua identidade – Fiquei pensando por alguns segundos.

— Isso não os impede de reconhecer meu carro. Quero que ligue para o Kenny e diga que preciso da escolta novamente – Levantei e já estava indo em direção à porta.

— Não acha melhor despachar aquele carro? – Virei para olhá-lo.

— Vou ir com ele pra casa e peço pra alguém destruir depois, irei aproveitar que já estava querendo uma porsche preta e pegarei uma esse final de semana. Aliás, quem quer que seja e independente do que essa pessoa queira comigo, se entrar no meu caminho novamente vai se arrepender amargamente. – Dei as costas para o Ryan e sai do galpão, indo direito para o meu carro.

Dirigi até em casa prestando bastante atenção para ver se não tinha ninguém me seguindo, essa era a última vez que sairia por aí sem seguranças.

Cheguei em casa e o relógio marcava 13:10 da tarde, entrei e estacionei o carro no jardim. Dei as chaves para um dos caras que fazia a ronda no jardim e pedi para destruí-lo. Entrei em casa e fui direto para a cozinha, Rosa já havia preparado o almoço, estava com um cheiro maravilhoso.

— Boa tarde Rose. – Dei um beijo em sua bocheca e peguei um prato para me servir.

— Olá Amby – Ela parecia estar assustada, fiquei desconfiada.

— Aconteceu algo que eu não estou sabendo? – Rose pegou uma caixa em cima do balcão, era pequena e preta,  possuía um laço vermelho bem grande, não avistei cartão algum.

— Kenny já abriu para ver se tinha algo suspeito aí dentro, mas achou melhor a senhorita dar uma olhada.

Abri a caixa e uma raiva enorme tomou conta de mim, havia um boneco dentro dela, daqueles que são feitos de pano, com uma espécie de lâmina no estômago e a cabeça decapitada. Não quis tocar naquilo, havia um líquido vermelho muito parecido com sangue por toda a parte e tinha um cheiro horrível de podre. Fechei a caixa e pedi para Rose jogar ela em um lugar bem longe daqui.

— Senhora, havia um cartão do lado de fora da caixa, Kenny pediu para lhe entregar. – Era um cartão branco e pequeno, não tinha assinatura nenhuma. Estava escrito "Eu irei descobrir sua real identidade e quando isso acontecer contarei seu dinheiro enquanto bebo seu sangue em uma taça".

Joguei o papel no lixo e fui para o meu escritório voando, chega dessa palhaçada, ninguém brinca com a cara de Amber Stonem. Entrei o escritório e liguei para Ryan, que me atendeu rapidamente.

— Oi Amby?

— Eu quero que encontrem o desgraçado que está me perseguindo e tragam ele pra mim, vou ter o prazer de queimá-lo vivo! – Disse rapidamente, desligando o telefone em seguida.

Different Souls Where stories live. Discover now