Em quanto saia pela porta, Bruno conseguia ouvir os gritos de seu pai furioso e o pranto de sua mãe assustada vindos de algum lugar da casa. O rosto Ainda ardia por conta do soco q levará de seu pai ao encontrá-lo no quarto usando um vestido se cetim velho.
Ele sentia a dor, mas seu pai não bateu no Bruno, seu pai atingiu o rosto de uma delicada moça chamada Agnes, que por acaso também é Bruno! A confusão foi tamanha que ele resolveu sair de casa e agora está na calçada com sua mala e alguns outros objetos em uma caixa, esperando por alguma ideia do que fazer e para onde ir.
Ele pegou o celular do bolso no casaco, e ligou para seu amigo Túlio, que mora com o uma tia no centro da cidade. Tulio disse q o receberá em casa e que ele pode sim passar a noite lá até conseguir dar um jeito nessa situação.
Bruno, em seguida ligou para um táxi que o levou rua acima em direção ao centro. Ele não queria ter que voltar àquela casa nunca mais, não havia lugar para alguém como ele na família.
***
O apartamento dividido entre Tulio e sua tia era um conjugado de quatro comodos, com uma sala e banheiro juntos, um pouco maior que a área de lazer da antiga casa de Bruno, ficava em uma parte muito movimentada do centro onde o barulho dos carros passando na avenida era infindável.
Tulio o recebeu e o ajudou a carregar suas coisas, como já eram amigos a bem mais de cinco anos (coisa que é praticamente impossível nos dias de hoje) tinham liberdade o suficiente e conhecimento da situação um do outro para ter que perguntar "o que houve" ou algo do tipo. Tulio simplesmente abraçou o amigo e disse "vai ficar tudo bem cara!"
Mas Bruno sabia a verdade, ele tinha ciência de que nada estava bem, e que as chances desse fato mudarem eram mínimas, porém era bom receber um gesto de conforto de alguém que realmente o queria por perto, alguém que não queria saber ao certo "porque" ou "o que" havia acontecido pra poder lhe estender a mão.
-Olha, eu fiz o jantar se estiver com fome posso esquentar pra você. Minha tia só vai chegar as seis por causa do turno no hospital, então fique a vontade.
-Obrigado, eu só quero um banho e talvez tentar dormir um pouco!
Tulio era um cara magro e alto com os cabelos praticamente raspados, ele não tinha muita preocupação com a aparência, a maior parte do tempo andava com roupas rasgadas em lugares diferentes e manchadas de comida ou algo assim. Eles já possuíam uma amizade de longa data, e seus problemas relacionados à sexualidade só fez com que se aproximassem mais, principalmente quando Tulio foi mandado pra morar com sua tia, por ter se assumido gay pra família.
Agora era a vez de Bruno passar por isso, a diferença é que a situação para ele foi muito mais complicada, e agora estava até sem lugar parar morar!
***
Pela manhã, depois de uma noite em claro, Bruno se levanta e vai até a cozinha pegar algo para comer e encontra Clarice, a tia de Tulio, sentada à mesa com uma xícara de cafa a mão. Ao encontrar os olhos de Bruno ela dá um leve suspiro de desaprovação.
-Então você foi expulso?
Sem duvidas Tulio era um cara realmente muito bom, porém o resto da família não herdará tal qualidade, sua tia era especialmente um ser humano desagradável . Bruno simplesmente assentiu com a cabeça e pegou um copo na pia e se apressou para enche-lo de água, quanto mais rápido pudesse sair dali melhor seria pros dois .
Porém, a mulher não permitiu que o pobre garoto saísse do cômodo, logo fez com que ele desse meia volta e se sentasse junto a ela para conversar.
-Sabe Bruno, eu sei que não é a melhor hora pra dizer isso, mas devo lembrá-lo que minha casa não é um abrigo para adolescentes expulsos de casa...
-Não, eu não...
-Espere! Eu não acabei.
Ele engoliu suas palavras juntamente com a água, levando o copo até a boca para disfarçar o constrangimento.
-Como eu estava dizendo, minha casa não é um abrigo portanto você não pode ficar mais que um dia, mesmo que Tulio tenha dito algo diferente...
Em quanto ela falava, Bruno só conseguia pensar em como tinha tomado a decisão errada em ligar para o amigo na noite anterior.
-Eu estou dizendo isso apenas para que entenda o seguinte assunto em que estarei entrando em seguida com você!
Ela deu uma mordida no pedaço de bolo que estava sob a mesa, e levou um longo tempo mastigando. Era uma mulher magra e realmente alta de uns quarenta e cinco anos, enfermeira geral na clínica de acidentados no centro. Seu turno provavelmente havia acabado cerca de uma hora atrás.
Ela terminou de mastigar e engoliu o bolo com a ajuda de um gole de café.
-Suponho que o motivo pelo qual seus pais lhe expulsaram de casa foi seu "desvio de comportamento sexual", estou certa?
Bruno sempre soube do problema que a família de Tulio tinha quanto aos homossexuais, é mesmo após ouvir uma definição tão arcaica do assunto, ele não quis contestar a mulher. Não teve vontade de iniciar uma discussão pois em pouco mais de uma hora estaria bem longe dali!
-Como eu já sei que você não tem lugar para ficar, eu vou lhe indicar um local para onde estão mandando gente como você, que não tem onde ficar!
Bruno logo lembrou-se de ter ouvido sobre este lugar, era uma espécie de abrigo para homossexuais que não tinham onde ficar. E no momento estava tão farto de ouvir as recomendações da mulher, que logo foi lhe interrompendo.
-Pode me dar licença? Eu sei onde fica este lugar, então... Bom, acho que vou arrumar minhas coisas!
Em dois passos conseguiu sair da cozinha e entrar no quarto onde começou a arrumar suas coisas. Vestiu uma roupa limpa, calçou os tênis envelhecidos e tratou de se apressar. Colocou a bagagem nas costas e agradou a caixa sobe os braços, apertando-a contra o peito e saiu do quarto.
Já não havia mais ninguém circulando pela casa a essa hora, ele vasculhou dentro da caixa e apanhou um pequeno bloco de papel é uma caneta. Ele escreveu um bilhete para Tulio que dizia;
Obrigado pela ajuda, e por ser o meu bom amigo. Quando resolver tudo eu ligo!
-B
Então saiu do apartamento em direção a um rumo, talvez uma vida independente ou que fosse. Só queria um lugar pra viver e ser quem realmente era !
