Nunca mais

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Não me julguem enquanto eu conto isso. Eu não sabia o que fazia. Eu ajudei do meu modo. Eu juro que tentei.

Eu a via todo dia. Sempre no caminho de volta da escola. Ela andava sempre rente à parede.
No começo eu não entendi o motivo de tal atitude.
Até que eu vi: aquelas meninas horrorosas. Bonitas, populares, ricas. As respeitadas e temidas pelas mais tímidas.

Elas a confrontaram.
A empurraram.
E eu não fiz nada.
Eu vi tudo e não fiz nada.
Sai dali o mais rápido possível.

Chorei ao chegar em casa.
Que pessoa horrível eu sou.
Mas há um motivo da minha fuga.
Eu já estive no lugar dela.
Oh, pobre Manuela.
Eu tive medo.
Me perdoe.

Ela era nova na escola. A novidade para aquelas meninas monstro.
Esperei que não fosse durar.
Mas durou seu primeiro mês ali.
Todo aquele mês.

Eu falei com ela. Não pessoalmente. Não tinha coragem. Fui fraca e tola.
Falamos pela Internet. Ela não sabia quem eu era, mas se abriu comigo tão facilmente.

Eu conheci sua história. Já era sofrida. Perderá a irmã há algum tempo atrás. Seus pais logo estavam se divorciando.

Eu fiquei tão mais envergonhada.
Eu lhe dei conselhos sobre o que estava acontecendo.
Sim, eu, a garota que já sofreu daquele mal e teve que mudar para ser deixada em paz, e que agora estava deixando o mesmo acontecer a outra pessoa.

Ela dizia que eu a ajudava. E aquilo me tirava o peso da culpa por alguns instantes. Até o dia seguinte, em que acontecia tudo de novo.

E assim foi durante um mês. Um longo mesmo.

De repente, ela não apareceu na escola. Foram dois dias sem notícias dela.
No dia anterior ao seu sumiço, ela me veio com uma mensagem estranha.
Disse que seja o que tivesse acontecido, eu deveria saber que a ajudei.
Que tudo que eu lhe disse ajudou.
Que nunca mais sofreria com aquilo.

Ela mentiu.

Não terceiro dia em que ela não foi a escola, nem me procurou na internet, soubemos a notícia.

A morte.

Não se sabia ao certo ainda se ela tinha tomado uma quantidade absurda de remédios, ou se apenas alguns calmantes apenas, dormindo na banheira enquanto a mesma enchia.

Não posso descrever o quanto aquilo acabou comigo. Chorei o resto do dia. Minha mãe não entendia porque uma garota tão nova tiraria a própria vida.
Ela não entenderia.

Mas agora, falando com você, onde quer que esteja agora.
Me perdoe por não ter feito mais.
Não ter contado a quem poderia ter feito algo.
Por ter fugido. Me escondido.
Mas algo que você disse, disse certo.
Você nunca mais irá sofrer. Nunca mais sentirá aquela dor no peito, aquele sentimento de inutilidade.
Nunca mais...

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Qualquer relação desse conto com a realidade é mera coincidência. Existe apenas no mundo ficticio.
Não tem ele como exemplo. Se virem alguém sofrendo qualquer tipo de bullying, DENUNCIE. É sério. E não tirem suas vidas se estiverem sofrendo disso. Mais uma vez, DENUNCIE.

Meu cadernoOnde histórias criam vida. Descubra agora