Capítulo Três

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Fechei a porta e me recostei nela, incrédulo.

Eu realmente a tinha beijado! Passei os dedos pelos meus lábios que ainda formigavam. Podia sentir a textura da pele dela em minhas mãos.

Quantos anos aguardando pacientemente, mas louco por ela.

Caminhei até a cadeira que eu me sentava todos os dias, atrás daquela mesa e abri a gaveta, retirando de lá uma foto antiga.

Nela estava Theo, Ella e eu. E meu amor estava no meio de nós dois, abraçada aos nossos pescoços. Ali, ela tinha dezessete anos. Confesso que foi a fase mais difícil para mim, pois Ella estava desabrochando e começando a sair com as amigas... Ella sempre teve a saúde frágil e tudo aconteceu tarde em sua vida... Para minha felicidade!

Ela teve apenas dois namorados sérios, mas esses não duraram muito, pois todos os que tentavam acabavam desistindo, pois nosso quarteto era implacável e os pobres coitados tinham que nos aguentar, constantemente. Eu, particularmente, era o pior. Não me orgulho disso.

Quando ela teve seu primeiro namorado sério, eu surtei. Em casa, sozinho, mas surtei. Quebrei tudo o que encontrei pela frente, chorei e fiquei emburrado por dias, não falando com ninguém. Eu sou assim, quando fico contrariado eu me fecho em meu mundo e basicamente não falo muito, só o necessário e olhe lá. Eu tinha que ser o primeiro. Aquele idiota ia tocar, beijar e sabe-se mais o que ele faria com minha Ella.

Sacudi a cabeça, me livrando daquela lembrança. O importante era que eu tinha criado a coragem necessária para dar o primeiro passo.

Jesus, quando eu abri aquele livro e li o nome dela como autora, no verso da primeira página... Meu coração bateu descompassado e comecei a ler... Devorei o livro em três horas, com meus merecidos "tempos" sozinho, para baixar o te.são que a leitura me deu. Tive que me aliviar muitas vezes, principalmente quando percebi a semelhança brutal, daquele cara, personagem principal, comigo. Comecei a fazer mil suposições e pensei em várias maneiras para chegar nela, mas como eu o faria com Theo sempre por perto?

Hoje tinha sido perfeito! E não ser rechaçado foi magnífico. Saber que minhas suposições tinham fundamento e que ele era realmente eu, me fez recordar as cenas do livro e o que ela queria fazer comigo me deixou fora de mim. Se ela não tivesse me parado eu teria feito uma bobagem sem tamanho, a possuindo ali mesmo na mesa de exames, com todos os pacientes lá fora aguardando.

Pacientes... Eu ainda tinha muitos para atender hoje. Suspirando resignado, guardei a foto, me levantei, abri a porta e chamei o próximo.

Meu dia passou num borrão e quando percebi já era hora de ir para casa. Soltei o ar com força e passei as mãos pelos cabelos.

―O que eu vou fazer agora? Theo é capaz de me odiar, se souber que eu beijei a irmã dele dessa maneira. Pior ainda se souber que vamos sair ou o que eu sinto por ela. ― Falei baixinho, para mim mesmo.

Eu estava em um mato sem cachorro...

Juntei minhas coisas e fui embora. Eu tinha que planejar a noite de sábado.

***

No sábado as 19h, lá estava eu. Parado em frente à casa do Theo. Se ele saísse eu teria que abrir o jogo com ele. Dei uma buzinada e a porta se abriu. Era minha linda Ella.

Jesus , ela estava um arraso, usando um vestido preto. Abriu a porta do carro e entrou. Seu perfume me deixou louco.

―Oi. ― Ela disse sorrindo.

―Oi, minha linda. ― Peguei a mão dela e dei um beijo. Ella abriu um sorriso devastador.

Liguei o carro e saí dali. Não que eu tivesse medo do Theo, mas era melhor evitar um confronto direto. Pelo menos por enquanto.

Incondicional - Kacau Tiamo *degustação*Onde histórias criam vida. Descubra agora