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    Travo na hora, encaro a pedra que ainda sibila baixinho e repetidamente a mesma palavra. Demoro um pouco pra pensar o que fazer, mas me levanto com ela na mão, e tapo a rachadura com a outra. Fico repetindo a palavra "calma", mas não sei se digo isso pra ela ou pra mim.
   Entro em casa e vou direto pra pia, abro a torneira e deixo a água correr.
    - Pronto, agora te ponho na água e você acalma, certo? - digo pra pedra.
      Ponho-a embaixo da água, e a seguro lá. Ela emite uma luz, não muito forte, e eu vejo a rachadura ir se fechando aos poucos. Deixo escapar um suspiro entre um sorriso, e a seguro ali, até fechar o vão inteiro. Tiro ela da água, e a analiso - me parece tudo bem agora - falo comigo mesma.
      Pego um pote e o encho com água até a metade, o coloco na estante e ponho a pedra dentro. Tudo tranquilo e calmo, vou então sair pra alimentar meus bichinhos.
      O sítio é composto por algumas partes, começando com um pomar, que tem todo tipo de fruta que eu já imaginei, seguido por um pasto cercado onde mora a Mimi, minha vaca que cresceu comigo, tão calminha e preguiçosa que chega a dar gosto. Mais pra dentro do sítio, fica minha casa, simples e aconchegante. Feita na madeira, com dois quartos, o que eu durmo, e onde guardo a bagunça, uma cozinha que tem uma janela de vidro gigante, que dá pro sol poente, onde costumo lavar a louça e assistir a esse espetáculo da natureza. E por fim, uma sala onde como, leio, desenho, etc. E mais pra dentro, tem a mata fechada, o rio, e suas gostosas cachoeiras. Apesar de nunca ter me aventurado muito por lá, é meu espaço favorito.
      Saio da casa e vou alimentar a Mimi, pegar umas frutas, e brincar com o Bart e o Theodoro. Eles são a melhor companhia do mundo, tão boa, que o tempo voa ao lado deles, quando me dou conta, já estamos os três, lá no fim do sítio, na entrada da mata, rindo e correndo. Paro e olho pra toda aquela vida. Sento-me no chão, e imediatamente Theodoro, mimoso e carente, deita no meu colo e Bart, ao meu lado. Sinto uma brisa viva saindo da mata, morna e úmida, que passa por mim tão forte que solta o meu cabelo, e sinto o vento brincar com os fios castanhos claros. Olho pra trás e vejo meu cabelo brilhar num tom dourado nessa luz de fim de dia, voando com o vento. Volto-me pra mata, fecho os olhos e respiro fundo, sinto todo esse ar úmido me preenchendo e me dando vida. Eu amo esse lugar.
      Acabo perdendo a noção do tempo, viajando em pensamentos que me tiram do chão. Abro os olhos novamente, e agora o que brilha são as estrelas, e o que ouço é apenas o leve vento nas folhas e alguns animais que ali vivem. Desço meu olhar pro Theodoro, que dorme tranquilo com uma folha estranha na cabeça. Alcanço a folha, e assim que a pego, ela brilha onde meus dedos encostam - ok, o que tá acontecendo aqui?
      A folha tinha um tom lilás, e seu brilho era prateado. Fico passando o dedo sobre ela e observando ela brilhar enquanto vou subindo pra casa, seguida dos meus fiéis escudeiros, até que passo a mão em uma parte, onde a luz se fixa e revela um símbolo - hm, isso me é familiar - digo comigo.
      Chegando em casa deixo a folha ao lado da pedra d'água, pego uma vitamina de maçã, banana e mamão que estava na geladeira e vou consultar os diários dos meus pais, tenho certeza que já vi aquele símbolo por aqui. São muitos diários e muitas páginas. Acabo pegando no sono.

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⏰ Última atualização: Dec 31, 2016 ⏰

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