Opostos juntos geram conflitos, opostos separados causam encalço.

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Vários anos já haviam se passado desde que eu cheguei a esse mundo, 14 para ser mais exato e, no final da segunda metade do ano 2022, tudo parecia incrível. Todo ano, uma grande e inovadora tecnologia era lançada. Tudo parecia ser para o progresso social e intelectual do mundo, mas não era.

Por alguns anos, todos no mundo desmereciam o país onde eu vivia, mesmo quem vivia aqui, então, repentinamente, o povo decidiu mudar, mudar mais e continuar mudando o que já havia mudado, o que, depois de tanto tempo tentando ser diferentes uns dos outros, levou todos a, de certa forma, se tornarem iguais. Tem coisas que não deveriam mudar, mas mudaram e coisas que deveriam mudar, mas continuavam como eram antes. Tudo se tornou vazio e triste porque, mesmo sendo seres racionais, com todo esse avanço ao longo do tempo, pouco a pouco, as pessoas foram perdendo a capacidade de se relacionarem de forma emocional uns com os outros.

Eu, de acordo com meus amigos, sempre fui um tanto ultrapassado, mas isso foi bom pra mim, foi bom pra eles, fez com que nós tivéssemos uma relação mais próxima, mais espontânea. Nada de seguir o ritmo ditado pelas ações repetitivas de todos, nada de fingir emoções ou calcular cada passo que iriamos dar para manipular cada um ao nosso redor, o que eu tinha com meus amigos era sincero, era puro, era algo que quase ninguém mais ao nosso redor tinha.  

Já ouviu alguém falar que um dia a tecnologia evoluiria a um ponto que sairia do controle do homem e todos nós seriamos dominados pelas máquinas? Não aconteceu como todo mundo pensava, mas é tão ruim quanto. Era uma época que não podia mais se confiar nas pessoas, porque tudo era para manter uma imagem. A cada novo aparelho, cada nova função para "facilitar" a vida das pessoas, para quase todos, menos importava o que realmente era importante, agora tudo se resumia a rotina que os mantinha seguros pra conseguir dinheiro ou sexo, talvez drogas e, no caso da maioria dos adolescentes dessa geração, todas essas coisas.

Em certas partes do Brasil a primavera parecia o verão, outonos e invernos também, mas o pior é que estávamos no verão e eu me sentia caminhando pelo sol. Na rua asfaltada, de longe, eram perceptíveis as ondas de calor. Aquele era o longo e único caminho que levava até a distante e enorme casa do Gabriel; um lugar conhecido por ser grande e incrível, mas calmo na maioria do tempo. Eu, na tentativa de desviar a atenção da distância, conversava com um amigo, vendo-me apenas entretido pelo som do vento nas folhas das árvores que estavam em todos os lados ao longo do caminho.  

- Thomas, você disse que ficava perto da escola, já estamos há meia hora nessa mesma estrada. - disse eu ajeitando a alça direita da minha mochila, depois de mais alguns minutos caminhando.

- Você consegue ver aquele primeiro andar com uma varanda legal? - perguntou apontando para uma casa com dois andares e uma bela varanda.

- Sim, sim, é ali? - respondi.

- Não. É só uma casa aleatória - respondeu ele rindo de mim.

- Sabe, é por causa dessas piadas sem graça que você não tem muitos amigos.

- Relaxa, só falta virar a esquina e vamos chegar - explicou vendo que eu não estava no clima da brincadeira.

Era dia de teste na escola, terminamos os dois e nos liberaram cedo, então Thomas, um dos meus amigos, resolveu me chamar para visitar alguém que, no passado, foi um amigo muito íntimo. Geralmente eu ia da escola direto para a minha casa, tirava meus sapatos antes de entrar pelo simples portão feito de zinco que fechava a entrada, depois de subir as escadas de madeira em espiral que, francamente, não combinavam nada com minha casa, tomava meu banho e ia ler os antigos gibis do meu pai que minha mãe guardou mesmo depois que ele faleceu. Era um ritual diário que, para mim, não deveria ser interrompido e não fazer isso naquele dia me fazia sentir como se eu estivesse cometendo um crime. 

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