A carta.

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Horas se passaram, já tínhamos comido, passeado por algumas lojas da cidade e estávamos saindo da praia sujos, cansados e, eu, com fome de novo. Não houve um minuto em que víssemos o Dave longe da Sara. Ele se engraçava pro lado dela e todos nós riamos, porque para ele, aparentemente, quanto pior a cantada, mais seria usada. Nós não sabíamos se ele tentava ser o mais vergonhoso possível de propósito para fazê-la rir, ou se ele realmente acreditava que as tentativas de investir em uma garota mais velha com essas estratégias iriam funcionar.  

Eu queria ligar para minha mãe porque o tio Devon, estava muito cansado para dirigir por mais 10 horas. Então queria avisar que iriamos para um hotel e só voltaríamos às 5 da manhã, no dia seguinte, porém eu não conseguia encontrar meu celular e o desespero me consumia mais a cada segundo que passava sem que eu soubesse onde ele estava.

Minha mãe nunca me deixou dormir na casa de um amigo, ou de um vizinho; ela havia se tornado bastante protetora desde a morte do meu pai, que foi no mesmo ano em que eu nasci. Lembro da vez em que eu me atrasei por 12 minutos do horário combinado, e quando cheguei, meu vizinho estava na nossa casa. Ele era policial e estava prestes a ir registrar um possível sequestro. Todo mundo via isso como um exagero total, mas convivi com minha mãe assim por toda minha vida, de certa forma, eu já até tinha me acostumado.

Assim que desisti de procurar meu celular, o encontrei. Que irônico, não? Ele estava no silencioso, vibrando dentro da minha bolsa. Mais cedo havia o colocado solto junto com minhas moedas. Pude ouvir o barulho das moedas quando minha mãe me ligou para saber como eu estava, então lembrei onde ele estava.

— Sara, joga minha bolsa para cá – falei deitado na enorme e macia cama do quarto do hotel em que estávamos hospedados tarde da noite.

— Sua mãe já sabe? – perguntou Sara, referindo-se a dormir fora de casa – Se não souber, ela vai ter um ataque.

— Vou contar agora – dando uma risada não muito escandalosa ela sentou mais perto.

— Coloca no viva voz, eu vou querer ouvir isso.

— Calma, não faz barulho! – falei hesitando em atender.

— Dave, chama o Gabriel! Estamos prestes a presenciar o apocalipse.

— Para com isso! Minha mãe é um amor de pessoa.

— Pode até ser, mas... Por que ela colocou um rastreador no seu celular? – perguntou Gabriel entrando no quarto com o Dave – Isso parece meio estranho.

— Ainda com essa história? Os celulares de vocês também são rastreados pelos seus pais – falei vendo que a chamada foi encerrada porque não atendi e retornando-a imediatamente.

— Mas nos aparelhos de hoje em dia é normal, todo celular tem essa função, mas, há sete anos, não era algo muito conveniente... Pra você, é claro.

— Filho? – disse minha mãe ao anteder no primeiro toque de chamada, fazendo todos no quarto ficarem em total silêncio.

— ÔôôÔôoi, mãe – respondi colocando o celular no viva voz e parecendo um retardado tentando disfarçar algo.

— Então, como foi o torneio? – ela parecia estar entusiasmada com algo.

— Foi legal, fiquei em segundo lugar. Já fazem duas horas que acabou, então deu tempo de comer e descansar.

— Duas horas? Isso quer dizer que vocês já estão voltando? – silenciei-me, enquanto podia ver a determinação dos meus amigos para segurar uma eventual gargalhada – Filho?

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