Capítulo 1- Encontros

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23 de outubro no Chiado, Lisboa

-Oh doutor Castro! Sente-se por favor!- disse Gaspar preocupado.
-Gaspar, eu não me sento até o meu irmão chegar. Já se esqueceu que ele faz parte dos serviços secretos portugueses? O respeito é bonito!
-Eu até lhe respondia mas não vale a pena gastar o meu latim consigo. Sempre foi assim desde pequeno, muito teimoso! Ahh! Que criança feliz que o senhor Manuel era! Diferente, mas feliz à sua maneira.- exclama com grande ternura.
-Deixe-se de nostalgias meu caro. Cresci e tornei-me no melhor detetive privado de Lisboa. E sou bem feliz assim.
-Mas...
-Sim Almeida sem mulher nem filhos. Já me bastam os casos para me darem a volta a cabeça!
Ambos riem.
Uma mulher de cabelos castanhos achocolatados aparece. Formosa, bem vestida e agasalhada, aproxima-se dos dois cavalheiros.
-Vejo que a conversa está animada por estes lados...- sorrindo.
-Sra. Araújo como está? O que lhe traz por cá?
-Pergunto-lhe o mesmo. O que é que fazes aqui?- interroga-a com arrogância.
-Já nos tratamos por tu Sr. Castro? Tudo bem por mim- virando-se para Gaspar- Voltando à sua pergunta caro Almeida, Filipe Castro deseja falar comigo. Sim, o irmão de Manuel e diz que são boas notícias.
-Ãh? Deve haver um engano qualquer. Eu é que estou à espera de falar com ele!- mostrando alguma irritação pelo seu tom de voz.
-Não se exalte Sr. Castro que isso faz rugas!
-A Sra. Araújo deseja alguma coisa?- pergunta Almeida aflito.
-Ui, se desejo! Mas sei que se remete para uma bebida e não obrigada, muito agradecida pela oferta.
-Finalmente decide chegar!
Chega um homem alto e esguio, de fato e com um ar muito apressado.
-Bons dias meus caros!
Manuel levanta-se.
-Filipe, o que é que esta mulher está aqui a fazer? Pensei que a conversa era privada!
-Manuel Castro com as suas "birras" comuns... Meu irmão, acalme-se e sente-se. Bom dia minha senhora.- cumprimentando-a.
-Bom dia, meu caro. Confesso que também estou surpreendida por ter chamado seu irmão para a nossa conversa.
-Vou rapidamente explicar-vos do que se vão ocupar nos próximos tempos. Não podeis recusar pois são ordens superiores.
-Ui...- suspira Manuel passando a sua grande mão pelos seus cabelos castanhos escuros.
-Precisamos de quem investigue o crime na Praça.
-Estou a seu dispor irmão! - levantando-se- Não era preciso público para tal pedido.
-Cale-se Castro e oiça até ao fim.- ordena Maria já incomodada.
-Exatamente. Ainda bem que estás a meu dispor porque vão ter que trabalhar juntos.
-O quê?- solta ela incrédula.
-Desculpa? Eu não ouvi bem. Vamos ter que trabalhar juntos?? Nem pensar! Eu não trabalho com uma detetive, se é que lhe podemos chamar assim, incompetente para este tipo de trabalho!- olhando para seu irmão e apontado para a dama.
-Sabe Manuel, primeiro de tudo sim sou uma detetive privada, segundo já trabalhei muitas vezes com seu irmão, terceiro um homem com a sua idade deveria ter mais respeito e coragem.- levantando-se, aproximando-se e apontando o dedo a Castro- Se me quer acusar de tais mentiras, faça-o cara a cara! Quem pensa que é para julgar o meu trabalho? Sou tanto ou mais competente que o senhor! Se tiver dúvidas pergunte a sir Holmes. Esse sim é que é um verdadeiro homem e detetive a sério... (Interrompida por Filipe)
-Quero-vos na Praça dentro de 20 minutos. Estarei a vossa espera para vos dar mais informação.
-Filipe! Isto é inadmissível!
-Manuel, não seja desagradável! Ambos podem aprender um com o outro e será uma mais valia para todos. É um crime complicado e quero-vos aos dois! Não diga mais nada porque não vale a pena.
-Se estás tão incomodado porque é que não desistes, Castro?- sugere Maria com um sorriso malicioso.
-Eu? Desistir? Nem pensar! Ainda por cima perder o caso para ti? Jamais!
-15 minutos meus caros. Esperarei por vós.
Com isto Filipe vai-se embora.
Manuel olha para Maria e Gaspar e abana a cabeça dirigindo-se para a praça. Gaspar oferece o braço a Maria e ambos seguem Manuel.

Os Mistérios de Lisboa- A Praça EncarnadaOnde histórias criam vida. Descubra agora