Maria estava em casa de camisa a tomar o pequeno almoço. Uma caneca de chocolate quente e um pão de manteiga e fiambre.
-Bom dia, Manuel. Já tomou o seu pequeno-almoço?
-Pensei que as nossas conversas seriam puramente profissionais. -rosnou Manuel.
-E são. É necessário que tome as suas 3 refeições mínimas por dia para que se mantenha saudável e apto para o decorrer do caso.
-Mmm...sente este cheiro?
Maria fica um pouco confusa e cheira o ar.
-Não...
-Cheira a desculpa esfarrapada. -disse sarcasticamente.
Maria revira os olhos e respira fundo.
-Esqueça o que aconteceu ontem, ok? Vamos começar de novo. Bom dia, sou a detetive privada Maria Araújo. É um prazer trabalhar consigo.
Maria estende o braço para o cumprimentar. Manuel olha para Maria e para o seu braço com um ar desconfiado.
-Vá lá...se quiser pode-me tratar por tu e tudo. Se continuar assim, isto não vai funcionar.
Após um suspiro, Manuel finalmente apertou a mão de Maria.
-Prazer, Manuel Castro.
Os dois olham-se seriamente mas riem-se.
-Não, ainda não tomei o meu pequeno-almoço.
-Quer café?
-Por favor.
Maria dá-lhe uma chávena de café acabado de fazer.
Manuel dá um golo.
-Colocaste mel?
-Sim, não é assim que tu gostas? Café com mel e com um travo de canela?
-Sim...Mas como sabes? Nunca tomei café contigo.
-Pois não. Mas tomaste na minha presença.
Araújo levanta-se e passeia com os braços atrás das costas.
-Ontem tomaste café com o Gaspar logo de manhã antes de nos encontrarmos. O teu café tinha um cheiro bastante intenso logo era forte. Voltando ao cheiro, era claramente café mas com uma peculiaridade. Tinha um travo de canela. Aquele café não costuma fazer esse tipo de pedidos e isso significa que és um cliente assíduo. E daí o mel. Outro pedido incomum naquele estabelecimento.Mas...
Maria diz virando-se para Manuel.
-Se és assíduo porque é que não foste comer lá o pequeno almoço?
A cozinha fica silenciosa.
-Tu já sabias.
Manuel vira-se e dirige-se a Araújo.
-Aqui a vista é melhor...
E com isto sai da sala dirigindo-se ao seu quarto.
Maria fica paralisada a pensar no sucedido mas abana a cabeça e vai para o seu quarto.
Após alguns minutos, Manuel vai para o laboratório e Maria já se encontra a examinar a prova.
-O nosso amigo aqui deseja-lhe boa sorte.
-Ahm?
Maria tira um papel da boca do homem e abre mostrando-lhe a mensagem.
-Bem, ao menos é simpático. Tens mais alguma coisa?
-Sei o que é que ele jantou e que foi morto logo ou durante o jantar. Lebre à Bulhão Pato.
-Lebre à Bulhão Pato???
Manuel pega no casaco e corre para a porta.
-Castro...CASTRO!!!!
Maria corre atrás dele.
-Castro, onde vais?
-Anda, vamos dar uma volta por Alfama.Após uma viagem um pouco atribulada, os detetives chegam finalmente ao seu destino.
-Aqui está. O grande "Desfado". Vamos! - disse Manuel com um grande sorriso na cara abrindo a porta a Araújo.
Era um restaurante não muito grande. Janelas amplas com madeira escura à volta, canteiros verdes cheios de flores amarelas. Tinham um cheiro encantador que atraía qualquer desconhecido à velha Lisboa. Paredes escarlate escuro que chamavam à atenção contrastando com as casas amarelas e brancas dos arredores de Alfama.
O seu interior era acolhedor e de certo modo misterioso. Tal como as suas paredes e janelas, o teto e as paredes eram vermelhas escuras e o chão de madeira. No fundo do restaurante havia uma palco com cortinas de veludo a combinar com a "casa". Um bar magnífico com todo o tipo de álcool existente e seus balcões detalhados e feitos em madeira dando aquele ar sóbrio.
Era um espaço confortável mas sensual.
-Olha olha se não é o nosso amigo Manuel!
Um homem gordo de barbas ruivas aproxima-se com um grande sorriso e abraça Manuel.
-Ehh Jaime, camarada! Como vai o trabalho?
-Vai muito bem. Casa cheia todos os sábados, bar cheio...bem quase todos os dias...
Jaime olha para o lado e vê Maria a observar a sala.
-Eh Manel donde é que foste desencantar esta? Serves-te bem!
Ri-se e dá uma cotovelada no braço de Castro piscando-lhe o olho.
-Nada disso Jaime. Não quero nada com ela. Não vim aqui para isso.
-Tu deves ser cego ou então ela tem um grande defeito porque uma mulher assim... não é qualquer uma...
-Já chega Jaime. É só uma colega de trabalho.
-Ah tu agora trabalhas em conjunto é? Isso é novo. Para quem é tão individualista...
-Agradece ao meu irmãozinho por tal arranjo.
-Como um arranjinho destes não me importava nem um pedacinho.
Manel revira os olhos e suspira.
Maria olha para Jaime e dirige-se com um sorriso simpático.
-Bom dia meu caro.
-Bom dia minha senhora. Em que a posso ajudar?
-Eu sou a detetive Araújo e como já pude observar já conhece o Castro.
-Sim este meu senhor não precisa de grandes apresentações. Eu sou o Jaime Sabugal, prazer.
Maria dá-lhe um aperto de mão.
-Precisamos de te perguntar umas coisas - disse Manuel sussurando.
-Eu não tenho muito tempo...
Maria vendo Jaime reticente, aproxima-se e apoia-se no ombro dele:
-Por favor Jaime, não me faça essa desfeita...
Jaime parecia meio hipnotizado.
-Talvez consiga arranjar um tempinho.
Procura uma mesa, ainda alunado.
-Tu...
-Às vezes é preciso de um pequeno empurrãozinho...
Maria sorri confiante e senta-se à frente de Jaime. Manuel senta-se ao lado de Maria.
-Bem Jaime nós precisamos de uma lista de quem cá esteve anteontem à noite.
-Mas eu não posso dar tal inform...
Maria interrompe colocando uma autorização na mesa.
-Precisamos da lista e do que é que eles comeram.
-C..claro.
-Alguém do teu staff esteve de folga?
-Não. Essa noite foi bastante importante. Tivemos que planear um pedido de casamento lindíssimo.
-Qual foi o prato principal?
-Foi o nosso especial, Lebre à Bulhão Pato.
Maria e Manuel olham-se seriamente.
-Mais alguém estava cá durante o pedido?
-Só o staff que eu saiba.
Manuel distrai-se e vê alguém a espreitar da cozinha. Quando se olham, a sombra desaparece rapidamente. Manuel levanta-se e corre atrás dela.
-MANUEL!!!!
Maria e Jaime perseguem-no.
O rapaz derruba tudo o que vê para Castro não passar. Este vê que o fugitivo vai sair pela porta traseira e corre para lá.
-ARAÚJO, TRASEIRAS. JAIME, PORTA E POLÍCIA! - gritando e correndo para o exterior do restaurante.
Jaime permanece congelado.
-JAIME!!! - grita Maria antes de sair
Ele "acorda" e corre para lá.
Manuel encontra o rapaz nas traseiras do restaurante. Este ao ver o detetive, corre para a direita mas aparece Araújo. Tenta entrar para dentro do restaurante mas Jaime abre a porta.
-Vais a algum lado? - diz Manuel aproximando-se do rapaz.
Ele tenta desviar-se mas ouve um barulho.
-Mais um passo e disparo. Não aviso mais uma vez.
Ouve-se as sirenes estridentes da polícia, onde aparecem Filipe e Gaspar.
-Mas o que é que vem a ser isto?
-Temos um fugitivo. Precisamos de o interrogar e tu tens um cenário assim dramático para o poder assustar a valer. - diz Araújo rindo-se.
Manuel põe o rapaz no carro.
-Talvez precise de um segundo par de algemas.
-Já descobriram alguma coisa?
-Temos uma lista e um pedido de casamento.
-Talvez vos possa ajudar nisso. - disse Gaspar tímido.
-Falaremos então depois de interrogar o rapazote.
Entram nos carros e seguem para a esquadra
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Os Mistérios de Lisboa- A Praça Encarnada
Historical FictionAlgo medonho acontece na Praça do Comércio em Lisboa. Serão precisos os dois melhores detetives da cidade para desvendar o grande mistério, Maria Araújo e Manuel Castro. O seu maior obstáculo? O choque entre personalidades. Encontrarão muitos desafi...