MENTIRAS QUE VEM DE LONGE cap 4

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A agradável noite de calor que começava em Goiânia pedia uma cerveja e boa conversa em um dos bares com mesas na calçada do centro da cidade.Estava de carro,um simples popular igual à tantos outros e mantinha os olhos no retrovisor a cada esquina ou mudança de direção...Ao entrar na Av. Independência seguiu por ela até ter acesso à Goiás e nesta manteve-se no sentido da rodoviária,onde chegando entrou no espaçoso estacionamento deixando ali o carro com as chaves no contato e sem preocupar em retirar qualquer coisa a mais que o celular e uma pequena mochila que levou ao ombro esquerdo enquanto com a mão direita apalpava o volume metálico que trazia ali escondido...

Caminhou pelo estacionamento,olhando em volta e atentando para qualquer coisa fora do comum...já escurecia mas mesmo assim o calor daquela terceira-feira não dava sinais de diminuir.Saiu dali em sentindo à rua 44 e lá esperou um táxi passar e fez sinal mas este passou direto,o que vinha logo atrás parou''Pra onde ,moça?''pensou um pouco e respondeu''Araguaia com 15 por favor''.Olhava o cair da noite e os últimos resquícios de luz do dia pensando no que faria a seguir.Era tanta coisa dando errado que Elaine considerava até a mais esdrúxula das possibilidades no momento...mas resistia,queria manter a cabeça no lugar e levar à cabo aquilo de que fora encarregada.

Chegou ao cruzamento pedido ao motorista,pagou e desceu sem surpresas.Andou pela Av. Araguaia até uma lanchonete onde comprou cigarros e uma garrafinha de água e continuou nesta até chegar na Praça Ludovico.Parou,olhou para os lados,bebeu um pouco de água,acendeu um cigarro e deu uma forte e longa tragada.Sentia-se em um filme de espiões e se esforçava para manter a sanidade e não perder a razão de vez...

Terminou o cigarro e enquanto buscava por um lugar para descartar a bituca não se deu conta da chegada de um rapaz de aparência extravagante e meio andrógina,vestindo uma camiseta preta com uma cruz de cabeça para baixo com palavrões em inglês,calça jeans rasgadas e coturnos surrados do uso...Trazia na mão direita um cigarro de maconha quase inteiro ainda e na esquerda um envelope pardo.Elaine assustou com a aparição repentina do sujeito mas não deixou transparecer.Olhou-o firmemente e só fez um sinal com o queixo como quem pergunta o que que foi?e teve como resposta a entrega do envelope.O rapaz tragou seu cigarro virou-se e sem dizer palavra foi embora.

Andou um pouco por ali até chegar em frente ao Cine Cultura onde por fim abriu o envelope,já imaginando o que teria dentro...um bilhete com endereço de um hotelzinho barato,as chaves do quarto e algum dinheiro para despesas de três ou quatro dias.Achou o lugar indicado nas informações e ao chegar ao lugar observou atentamente a planta do local,janelas,saídas de emergência,a mão que a rua seguia e outros detalhes que aquela vida havia incutido em sua mente desde que se vira envolta em coisas que ela antes supunha ser  de ficção.Entrou no péssimo e mal ajeitado quarto,tirou a mochila do ombro jogando-a na cama,sentou e olhou o celular em busca de mensagens.Sem encontrar nada,levantou e foi tomar banho.

Ao entrar no pequeno e ruim banheiro ali existente,tentou abstrair-se do ambiente e seguir com o planejado tentando entender como faria para cumprir uma das orientações que tinha recebido.Não tinha nada contra tatuagens mas também não se imaginava fazendo uma que não fosse de sua vontade e escolha.Além do mais nesse turbilhão em que vivia vinha perdendo aquilo que mais amava;escrever.Sentia falta das noites em claro movidas à café forte e ansiedade gritante pelo desenvolvimento de seus personagens,seus enredos,roteiros e prazos à cumprir.Lavou os lindos e bem cuidados cabelos ruivos que iam até o meio de suas costas,esta tomada de sardas próprias das ruivas e passou a mão esquerda pelas costelas direita imaginando se doeria demais um desenho ali.

Terminou o banho,foi até a cama e pegou uma calcinha limpa na mochila,deixando cair o .38 cano curto de cabo emborrachado.Olhou com certo carinho,pegou e abrindo o tambor se certificou que ainda tinha os cinco projéteis que o municiava.Fechou novamente e sorriu para a arma como se ela pudesse sorrir de volta.Colocou debaixo do travesseiro vestiu a calcinha,uma camiseta,programou o celular para despertar dentro de uma hora,apagou a luz do quarto,deitou e dormiu...

Despertou ao som da pré programação do celular e levantou-se imediatamente.Já era perto de dez da noite quando saiu à rua.O calor do dia havia deixado de saldo para a noite um ar quente e convidativo a estar em um bar bebendo uma cerveja gelada,cerveja essa desejada desde a tarde daquele dia.Sem mais adiar tomou o rumo de um bar e chegando ao balcão pediu logo uma gelada e sentou-se a observar o movimento do lugar.Havia escolhido uma mesa virada para rua,onde pudesse ficar de costas para a parede e ter uma boa visão de quem entrasse ou saísse do lugar.A parede à suas costas era da fachada do prédio,junto da calçada,de onde ela podia não só ver o entra-e-sai mas também boa parte da rua para direita e para a esquerda.

Tomou aquela cerveja e mais uma e junto deu fim ao meio maço de cigarros que tinha.Resolveu ir embora e meio zonza pela cerveja que tomara sem comer nada,deu uma tonteada ao se levantar.Foi até o balcão sem esperar que trouxessem a conta,lá pagou e se abasteceu de mais cigarros,saiu e tomou a direção do hotel.

Elaine não percebeu que era seguida...

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