O céu estava escuro sobre mim. Uma sinistra tempestade se formava com nuvens densas, um turbilhão cinzento e negro rodopiando no céu. Ao longe o brilho de um raio prateado corta sua imensidão.
Estou em um penhasco de rochas brutas e negras, sólidas e ásperas e bem lá embaixo, ao longe, as ondas de um mar furioso rugem e se quebram nas pedras numa ira destruidora. Um vento forte faz meu cabelo e minhas roupas esvoaçarem livremente atrás de mim mas não sinto frio algum. Tudo está estranho, o mundo parece extremamente solitário e por todo lugar que olho, tudo é preto, branco e cinza. Um mundo estéril e morto. E só.
Mas de repente, há alguns metros de mim algo surge em meio às rochas. Uma pessoa. Está de costas para mim, mas de algum modo sinto que me chama, me atrai até lá, como se tivesse a resposta para tudo isso. Sua presença me atrai como se tivesse um campo gravitacional próprio e quando chego mais perto, vejo que é um homem. Não bem um homem, pelo seu porte, o cara deve ter uns 18 ou 19 anos.
Ele contempla a tempestade que se aproxima sobre o mar ao longe, os clarões dos raios iluminando brevemente sua silhueta contra o horizonte. Quando ele percebe que estou me aproximando, se vira rapidamente, mas de um jeito calmo e controlado, como se já esperasse por mim.
Como se estivesse de luto pela morte de alguém, ele usa roupas pretas. Calça, sapatos, blusa e casaco são totalmente pretos. Sua pele é pálida como a luz do luar e o cabelo e seus olhos são escuros como a noite. Assim como todo o mundo ao nosso redor, ele também não parece possuir outra cor, mas ainda assim, de alguma forma, o cara ainda se destaca de tudo da mesma maneira que um corvo solitário na neve.
Assim que me vê, ele abre um enorme sorriso. Um sorriso sensual e intenso. Ele é muito mais bonito quando ri.
— Finalmente você chegou — diz. Sua voz é macia e aveludada e é um deleite para meus ouvidos escutá-la. Num gesto rápido e preciso, ele me prende ao seu corpo firmemente, as mãos apertando meu quadril junto ao seu. — Nada vai nos separar. Nada!
De repente ele se aproxima mais ainda de mim e me beija. Seus lábios são estranhamente frios, mas são macios e causam um ardor ao entrar em contato com os meus. Não o afasto, pois isso é bom. Parece que eu nasci para isso.
— Eu te amo. — ele diz. Meu coração explode em êxtase e nos beijamos de novo.
— Eu te amo também. — respondo ao nos separarmos, mesmo sem nem ter ideia de quem ele possa ser. Embora não me lembre de conhece-lo, de alguma maneira é o que sinto em mim e realmente parece ser o certo a dizer.
Felicidade. É o que há. Meu peito literalmente dói de tanto amor que eu sinto agora. Ficar com ele, mesmo que momentaneamente, me deixa feliz... me deixa completa.
Porém em meio ao paraíso em meu coração, começo a sentir uma dor. Fina e aguda, e que aos poucos, vai aumentando, substituindo a alegria que senti agora a pouco, e todo esse momento feliz se quebra repentinamente. Ela cresce e se desenvolve, destruindo e corroendo tudo em mim cada vez mais até tomar conta de todo o meu ser.
Quando olho na direção de onde começou, encontro uma lamina perfurando meu peito bem em cima do coração. Um punhal brilhante, frio e traiçoeiro como aço. Outro raio relampeja no céu, dessa vez bem mais perto de nós e o punhal reluz om um brilho cruel e mortal.
Tomo consciência do metal frio arranhando e transpassando minha pele e meus órgãos e a dor é insuportável. O sangue começa a aflorar, tingindo todo o meu vestido branco, com um vermelho rubro, a única cor no meio desse mundo sombrio onde há apenas preto, branco e cinza.
O cara olha para mim e seu rosto demonstra culpa e remorso, mas seus olhos estão impassíveis. Há uma enorme quantidade de sangue em sua camisa e respingos por todo seu corpo e percebo que foi ele que me golpeou. Obviamente, não havia mais ninguém no mundo além de nós mesmos. Sinto como se o chão desabasse sobre meus pés. Repentinamente, a dor do punhal em meu peito se torna um nada miserável ao perceber que foi ele quem fez isso.
Ao perceber que ele me enganou meus joelhos ficam moles e eu desabo no chão bem aos seus pés. Ele se curva sobre mim, me envolve em um abraço frio e depois me ergue em seus braços. Tento me mover, mas eu já estava perdendo a consciência. Eu estava morrendo. De repente ele me ergue na beira do penhasco e ignorando minhas suplicas fracas, me solta para a derradeira morte.
Tenho consciência de que tudo acontece em um fluxo normal, mas em minha mente, cada segundo de queda se passa em câmera lenta. Enquanto estou caindo, o vento ruge em meus ouvidos e sinto meu vestido e meu cabelo esvoaçarem ao meu redor mas tudo que consigo ver é seu belo rosto. Durante os rápidos e excruciantes segundos, eu o observo. Até que meu corpo atinge repentinamente as pedras de uma forma brutal e insuportavelmente dolorosa.
Enquanto a vida se esvai de mim gradativamente, só consigo observá-lo lá em cima, em suas roupas pretas sob um céu tempestuoso se parecendo com um sombrio anjo da morte.
De repente as ondas frias se agitam ao meu redor e uma delas vem e me carrega para a imensidão do mar turbulento, até que afundo debilmente na direção de uma profunda e sombria escuridão sem fim.
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A Guerra - Descobertas
Teen Fiction"Uma garota normal" é definitivamente uma coisa que Elisabeth Lupus não é. Mesmo vivendo em uma cidade pacata, estudando em uma escola tão chata quanto qualquer outra e levando uma vida aparentemente comum para uma garota do ensino médio, Lisa com c...