Acordo assustada com as imagens do sonho se desmanchando em minha mente.
Ou melhor, sonho não. Aquilo estava mais para um pesadelo.
Meu coração bate acelerado em meu peito, e percebo com certo alívio que não há nenhuma faca o transpassando. Eu não estou em um penhasco rochoso e não há nenhum cara misterioso e sexy. Há apenas o meu quarto aconchegante e o mais próximo de uma presença, são as cobertas suadas e quentes enroladas em mim.
Enfio a mão embaixo do travesseiro fofo (com uma pequena rodela de umidade que suspeito muito ser minha baba) e pego meu velho telefone celular. De acordo com o visor, são 5h10 da manhã. Ou seja, isso significa que infelizmente, tenho que me arrumar para mais um tedioso e monótono dia de aula.
Com preguiça, forço minhas pernas a saírem da cama e me levanto. Pode ser mais um novo e belo dia, onde coisas boas e legais podem acontecer, mas cara, ainda são cinco da manhã. Cinco. Horas. Da. Manhã!
Caminho descalça em direção ao banheiro igual a uma zumbi, o assoalho frio de madeira rangendo sobre meus pés.
Enquanto tomo banho, me lembro do sonho. Por mais medonho que tenha sido (e incrivelmente real), com aquelas nuvens escuras, e eu sendo morta no final, eu havia achado de certa forma legal. Devia ser um pensamento muito masoquista da minha parte, mas acho que o garoto tinha uma boa parcela de influência nisso. Tudo bem, era muito estranho sonhar que estava apaixonada por um cara que nunca vi em minha vida, mas o lado bom é que ele era bonito, e mesmo me matando no final, eu tinha que admitir que ele era gato. Muito gato.
Termino de tomar banho e volto para o quarto enrolada numa toalha. Odeio sair do chuveiro quando está de manhã, porque largar aquela água quentinha e vaporosa para ter que ir pro ar frio não é nada legal.
Abro as gavetas da cômoda e retiro de lá uma calça jeans escura, um dos uniformes brancos e sem graça da escola onde estudo e uma jaqueta preta. Eu não me considero o tipo de garota que vive apenas para ficar perfeitamente linda e coloca a beleza em primeiro lugar acima de tudo, mas gosto de me arrumar e só de me sentir bonita comigo mesma, já é o suficiente. Desde cedo, minha mãe me ensinou que uma mulher deve, antes da beleza, ser autoconfiante e independente e que as outras coisas virão com o tempo.
Penteio meu cabelo castanho claro e seco-o com a toalha até ficar com o habitual ondulado. Depois, o desajeito levemente com as mãos para deixá-lo com um ar de garota rebelde.
Calço as meias e meus tênis All Star de cano longo e novamente checo as horas no celular. Já são 5h30 então adianto o passo. Olho o horário das matérias que terei hoje e rapidamente enfio os respectivos livros e cadernos na mochila. Depois, penduro uma alça no ombro e desço de uma forma silenciosa mas rápida, os degraus da escada de madeira no início do corredor em direção à cozinha.
Preparo duas torradas e pego a jarra de suco na geladeira e me sirvo um copo. Mastigo o pão seco com pressa e tomo o suco em goladas rápidas e precisas.
Lembro-me de me despedir de minha mãe e volto correndo até o andar de cima, em direção à outra porta do corredor. Abro-a lentamente e dou um "tchau" para ela, que estava enrolada num casulo de cobertores super grossos. Acho que ela mal me escuta, pois apenas resmunga um "Han? O quê? Tchau?" de tão grogue. Parece que eu não sou a única que fica no modo zumbi ao acordar. Talvez seja algo hereditário e esteja presente nos genes da família Lupus.
Desço as escadas sorrindo, tranco a casa tentando fazer o menor ruído possível e depois começo a trilhar meu velho percurso até a escola.
O sol ainda não nasceu completamente, o que deixa o céu com os resquícios escuros da noite passada no oeste enquanto uma pálida luz amarela surge no leste.
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A Guerra - Descobertas
Teen Fiction"Uma garota normal" é definitivamente uma coisa que Elisabeth Lupus não é. Mesmo vivendo em uma cidade pacata, estudando em uma escola tão chata quanto qualquer outra e levando uma vida aparentemente comum para uma garota do ensino médio, Lisa com c...