A rapariga ficou desconcentrada com o súbito olhar de atenção que lhe era dirigido. As palavras de Victor a tomarem conta da sua linha de pensamento e a sinceridade com que ele as dizia. Mas sem sombra de dúvidas que o que mais a espantava era a maneira como ela acreditava nas palavras do capitão.
À sua volta casas altas, pessoas atarefadas e o som das gaivotas, naquele ambiente novo e desconhecido para Charlotte nada tinha a devida importância.
"Pronta?"
O vento soprou e o cabelo ruivo voou dançando com a brisa. Sem ter noção do resto, Charlotte agarrou a mão estendida de Victor e acompanhou-o até ao coche que os aguardava. O desconhecido meio de transporte era estranho e avassalador.
Já sentada ao lado de Victor, Charlotte não pode deixar de observar o interior do coche que conduzido por dois cavalos transportava-os a uma velocidade eloquente. Com pequenos saltos aqui e ali devido à calçada mal colocada, mas sempre com um conforto anormal.
"Victor..."
O jovem capitão olhava sonhador pelo pequeno vidro que se encontrava paralelamente a outro no lado oposto e que permitia ver o exterior. Quando colocou o seu olhar na rapariga trazida da ilha, reparou no rosto jovem mas com traços infantis e admirou-os. Sem tentar esconder, Victor olhava para a ruiva e observava-a.
Charlotte voltou a chamar.
"Eu... Não te preocupes, em breve tudo fará mais sentido."
Do pouco tempo que passaram juntos se havia alguma coisa em Victor que irritava Charlotte seria sem dúvida o misticismo que este colocava à volta de tudo. Bem, não o misticismo em si, mas a maneira como ela não se preocupava e se limitava a segui-lo.
Ela podia tentar fugir. Escapar até. Mas não sabia para onde ou como...
Olhou de relance para o rapaz de cabelo negro. Mesmo que conseguisse, ela não queria deixar o capitão que a raptara. Provavelmente, devia estar a ficar maluca...Alguns minutos depois, a fachada de um palácio surgiu diante dos olhos verdes da rapariga que se encheu de espanto. Apesar da majestosidade que o edifício dispunha, Charlotte sentiu o peito a apertar e o coração a bater mais rápido. Ela estava com receio. Pavor até de entrar naquele espaço.
Victor respirou fundo e saiu do coche, ajudou Charlotte a sair e olhou de relance para o palácio. Olhou para ela e sorriu.
"Sê bem vinda ao Terceiro Império."
Com os olhos esbugalhados como os de uma criança, a ruiva sentia-se nervosa sem a companhia do seu... Afinal o que era Victor para si?
Ao aperceber-se da insegurança da rapariga, Victor estendeu o seu braço e convidou-a a acompanhá-lo de braços dados.
"Império?..."
"Disseste alguma coisa, madame?"
"O que queres dizer com Terceiro Império?"
"Quero dizer que tu estás sobre o solo do território imperial, estás sob o domínio de um novo líder, estás em casa."
A rapariga olhou para o rapaz atónita e o seu sorriso nervoso desapareceu.
"A Ilha é a minha casa."
Victor se ouviu não deu indícios, o que deixou Charlotte novamente nervosa.
Estavam prestes a chegarem à fachada do palácio quando Victor largou o braço de Charlotte deixando-a desprotegida. Vários empregados sem expressão rapidamente se puseram ao serviço do capitão prontos a seguirem as suas ordens.
"Avisem a minha chegada e preparem um pequeno lanche para mim e a minha companhia."
Um dos empregados mais velhos aproximou-se do ouvido de Victor e sussurrou-lhe algo. De imediato este olha para Charlotte e volta-se para o subordinado.
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O Rochedo
RomanceCharlotte de longos cabelos ruivos encaracolados vive numa ilha remota longe do resto do mundo. Após a tripulação do seu pai adoecer numa das viagens, Charlotte é vendida por uma dúzia de moedas e embarca com um náufrago e a sua restante tripulação...