"Não sei se isso é bom ou é mau..."
"Para aquilo que vamos fazer, estás mais que bem."
A ruiva torceu o nariz ao ouvir aquela resposta. Foi estranho, por breves segundos, Charlotte teve a impressão de que Victor, apesar de toda aquela gentileza, tinha os objetivos bem definidos na sua cabeça e faria de tudo para os alcançar. E a rapariga, apercebeu-se que ela era um meio para atingir o seu fim.
"Charlotte, está tudo bem? Ficaste pensativa de um momento para o outro."
"Ah, sim... Está tudo bem."
"Anda, vamos dar um passeio."
A ruiva ainda não estava convencida de que Victor só queria a sua companhia para atingir um fim, do qual ela, por sinal, nem sabia de que se tratava. Deixou a sua ingenuidade vencer o conflito mental com que se debatia e sorriu para o capitão que olhava-a aguardando uma confirmação.
"Certo, vamos dar esse passeio."
Victor sorriu.
Saíram do palácio em silêncio, Charlotte sempre um passo mais atrás que Victor. A confusão dos empregados e a algazarra dos seus deveres preenchiam a caminhada dos que estavam a ser servidos.
Para a rapariga todo este ambiente a surpreendeu. Na Ilha não havia criados ou capatazes. Cada um trabalhava para satisfazer as suas necessidades e ajudavam-se mutuamente. A ideia de ter alguém a fazer o trabalho todo por si, não encaixava na maneira da ruiva pensar.
Victor parou e Charlotte observou a cerimónia com que o capitão abriu a porta branca envidraçada, dando passagem para um jardim imenso bem cuidado.
"Pode passar, madame."
Charlotte atravessou a portinhola e os seus pés deixaram de tocar no tapete e sentiram a relva húmida.
"Uau!"
"Este é o jardim botânico imperial. Reúne desde as plantas mais simples e comuns às mais requintadas e exóticas de todo o mundo. Dos lugares mais longínquos, fantásticos e repletos de aventura, do desconhecido e beleza."
Os olhos do rapaz brilhavam com cada palavra que pronunciava.
Todas as dúvidas sobre as intenções de Victor, subitamente desapareceram e foram substituídas por admiração à dedicação e carinho que este sentia por aquele simples jardim.
"Victor." Chamou a medo. "Qual é o teu plano? Quero dizer, porque é que eu preciso de usar este vestido que nem é meu?"
"Tudo a seu tempo, pequena Charlotte."
O capitão olhou de um lado para o outro e sorriu à rapariga. Pegou na mão dela e uma corrente elétrica foi descarregada pelo corpo da ruiva, provocando que a mesma inspirasse fundo.
"Pronta?"
Ela encarou-o confusa e ele limitou-se a sorrir como resposta.
Ambos correram por entre a vegetação alta e colorida. O perfume das mais diversas flores pairava no ar deixando-o com um aroma doce e campestre.
Enquanto corriam pelo labirinto natural o capitão fez-se pronunciar:
"Vais conhecer as pessoas mais importantes da Corte. Vais convencê-las de que és uma de nós. E juntos vamos salvar a Ilha."
Ao ouvir o nome da sua casa ser pronunciada, o seu coração bateu ainda mais rápido, a respiração tornou-se ofegante e os seus olhos ficaram húmidos.
Ao fundo havia um observatório. Várias mulheres com diferentes faixas etárias estavam sentadas à mesa disposta no meio e todas falavam com cordialidade e animação.
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O Rochedo
RomanceCharlotte de longos cabelos ruivos encaracolados vive numa ilha remota longe do resto do mundo. Após a tripulação do seu pai adoecer numa das viagens, Charlotte é vendida por uma dúzia de moedas e embarca com um náufrago e a sua restante tripulação...