2. Roedores de Sucesso

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— Eu entendo.
— Entende?
— Não, só estou cansado e não quero mais saber

— Two And a Half Men.  


~

Ron entrou no quarto e gemeu enojado.

— Você cheira como uma prostituta numa sexta-feira.

Oh, é reconfortante saber que ele sabe como uma prostituta cheira as sextas feiras e vem aqui dormir comigo.

Eu grunhi.

— Você tem cigarro?

Ron puxou minhas cobertas.

— Nada de cigarro. Você vai tomar um banho.

Se Ron achava que era minha mamãe, eu precisava mesmo avisá-lo de que essa era uma maternidade estranha. Contando que ele me via constantemente nua, e não era para trocar minhas fraudas.

— Você é quem sabe como prostitutas cheiram nas sextas-feiras, você é que tem que tomar banho.

— Eu não durmo com prostitutas.

— Ah, não, você só sai por aí a noite cheirando elas. Um dólar a fungada.

Ele me tocou um cigarro que bateu bem na minha testa. E em seguida uma toalha.

— Fuma isso e vai tomar um banho.

Morra.

— Eu ouvi isso — ele avisou.

E alguém aqui se importa?!

Eu havia mudado para este prédio mais barato já fazia um mês, e ainda havia caixas e revistas espalhadas pelo corredor. Eu passei por Ron que fumava pelado na cozinha.

— Não vai comer alguma coisa?

— Não, mamãe pornô — enfiei uma maçã na boca, agarrei minha mochila e corri pela porta da frente.

Os corredores do prédio eram estreitos e fedorentos, algo entre mofo, xixi e gente velha. Eu corri tropeçando no cachorro minúsculo e raivoso da Sra. Wilson.

Ela mal chegava a 1,50m de altura e era provavelmente mais velha do que a porcelana-dragão que vendia em sua loja, apesar de que em cada aniversário ela insistia que estava fazendo 53 anos. Mas Sra. Wilson era qualquer coisa, menos uma senhora amável.

Eu tinha certeza de que ela tramava com seu Pinscher demoníaco à noite para me matar, porque ninguém suspeitaria de um cachorro.

— Você vomitou na minha porta outra vez ontem à noite, Rey! — ela disse.

Eu não lembrava nada disso, mas havia sido provavelmente proposital.

Desculpe!

Eu já descia as escadas quando ela disse:

— Mais de algo como isso e vou comprar uma arma!

Amo você!

Eu pude ouvir enquanto saía pela porta do andar debaixo ela espraguejando com sua voz de fumante de 84 anos.

Piranha adolescente!

Puro e simples amor.

Link não parou de buzinar até eu entrar no carro. O Lata-Velha estava na rua, o motor roncava alto como um trator, e a música estava em alto volume. Eu ia para a escola com Link todo dias desde o jardim de infância, quando nos tornamos melhores amigos, depois de ele colar chiclete no meu cabelo e eu chutá-lo pelos degraus do ônibus para mostrar quem é que manda. Ele se desculpou me dando um chocolate que havia caído no chão. Apesar de nós dois termos tirado carteira nesse verão, minha moto está quase sempre no concerto por... bem, por problemas técnicos, se é que você me entende. Link era quem tinha um carro, se é que podíamos chamar aquilo de carro.

UTOPIAWhere stories live. Discover now