Um monstro chamado aflição

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A noite domina os segundos e o tempo é vagarosamente lento dentro do meu quarto.

Do lado fora está quente,os mosquitos dançam em torno das mentes e as noites estão inquietas, mas o silêncio é absoluto , atrapalhado por um ou dois latidos dos cachorros da vizinhança.

Mas aqui, fechado em meu quarto, está morno e minha mente vaga pelas horas da imaginação e das verdades imundas da minha realidade

Minha noite esta manchada pelas mentiras que conto para o meu mundo fazer sentido.

As posições na cama mudam com tanta velocidade quanto as minhas opiniões se transformam em ódio ,e de ódio em tristeza, e de tristeza para a ansiedade, e da ansiedade para o nada.

Preciso sentir algo real , preciso saber que estou aqui ,então abro as janelas para ver as estrelas e sentir o vento tocar minha pele,me arrepiar e me atingir com a sua melancolia.

Enquanto observo os pontos brilhantes no céu eu vejo uma mão escura se fechar em torno do batente, dedo por dedo, observo os ossos negros se firmarem nas minhas forças.

Então vai ficando frio,cada vez mais gelado e a vida vai sendo retirada de mim a cada segundo , em minutos o monstro surge e ele se parece comigo.

Tem as minhas feições,mas o crânio careca esta coberto por um capuz e os olhos não são meus ,  estão carregados de prazer , de malícia, quase como se o frio que tomasse a minha pele o divertisse

Ele se aproxima flutuando lentamente , está perto demais ,estou pronto para aquela sensação, estou pronto para as pontadas, para as inseguranças , para a dura realidade da dor.

Como um velho amigo ele toco o meu rosto,como se avaliasse se já não tivesse se divertido em excesso comigo, quem sabe não estivesse na hora de fechar as mãos em meu pescoço e acabar com dor desse brinquedo recolhendo o que sobrar de minha alma para colocar na estante e mostrar as visitas como um troféu.

Então ele parece não saber o que fazer , e eu tento levar tudo , brigar contra o desejo de suplicar pelo fim , ergo meus olhos para as estrelas e me apoio na pouca luz que elas produzem , me seguro na esperança de que um guerreiro entre pela porta e parta minha face na Aflição ao meio e me liberte desta agonia.

Espero pacientemente entre as horas que se seguiram , cada vez mais frio , cada instante mais pesado e longe sinto a presença do físico em mim

Sou levado para fora de meu quarto e vago inerte ao corpo da Aflição, estou preso pela corda que eu mesmo criei para alimentar-me daquele monstro.

E por mais absurdo que pareça aqui acontece , dentre as realidades mais improváveis, a mais impossível, um vagalume entra vagarosamente pela janela e ilumina o quarto como um fogo que espanta as sombras e como um golpe eu sou puxado para o calor de meu quarto , vagarosamente eu tomo consciência da força que está presente no cotidiano

Fecho as janelas de meu quarto e abro os olhos , há um pequeno inseto morto na cabeceira,nos últimos suspiros de vida posso ver a luz que ainda libera .

Fui salvo pela natureza mais essa noite ,adormeço pensado o quanto a sorte me rodeia e espero amanhecer para apagar da minha mente os ocorridos e enfim voltar a normalidade da vida.

Sei no fundo do meu coração que a mesma batalha me espera em meu quarto no anoitecer e rezo para que dessa vez o sociopata da minha mente enfim decida por fim ao meu sofrimento.

O menino , o mendigo e a AfliçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora