Está cedo, muito cedo, para todos que correm nas manhãs de sol.
Não, está tarde , tarde demais, para os que caminham à sombra das luzes da cidades e da penumbra do luar.
Começo lentamente, sentindo a brisa gélida tocar o meu corpo .
Refrescante, na medida que as manhãs já começam quentes, e melancólicas, na medida que a o anoitecer e o amanhecer são sozinhos.
Meu percurso é acompanhando pelo sol no horizonte ou pela lua nas estrelas.Em dias de sorte, as duas beldades mais naturais estão juntas à espera do meu gemido de dor ao exprimir o que resta de energia em meus músculos.
Mas ainda ando lentamente , caminho a espera do sinal que me leve a correr , que me leve a esforçar cada partícula de meu corpo, para então começar a luta que é deliciosamente perdida diariamente.
Espero até que a brisa deixe de ser refrescante e passe a me tocar com sanguinária frieza e percorra meu corpo como um violento ataque de um monstro que deseja minha carne.
E quando os meus vasos contraem e sinto uma tremedeira se abater eu sei que preciso disparar.
Corro , desorientado e pouco direcionado , vago no centro de uma avenida solitária , cheia de fantasmas que parecem correr ao encalço de minha nuca.
E a batalha entre o monstro que é meu agregado e a minha alma, assombrada pelos fantasmas da avenida e de meu passado começa.
E o corpo queima , grita pelo fim , desesperado pelo fim , meu folego aperta , meus pulmões queimam e a briga é sanguinária.
Grito , então, grito, não por essa dor que me atinge, mas pela agonia dessa batalha em que meu físico incomumente normal é campo de batalha.
Essa aflição que é tão minha, que pertence ao meu corpo tal qual o sangue que corre nas minhas veias.
Mas não paro , não paro , continuo a correr, sentindo a contração e a aflição que se apodera também da carne .
Por um ultimo suspiro de energia meu corpo abandona o oxigênio e usa da minha própria dor como combustível da minha célebre derrota
Parece que não há mais caminho, minha visão fica turva e, entre os borrões, as figuras reconhecíveis são as agonias e a a própria Aflição em ser presente e , para meu destemido espanto , ele se parece comigo .
Caio aos berros, desesperado , sinto o asfalto queimar e dilacerar minha pele , a agonia da dor que me tirou da estrada me traz ao corpo que quero tanto fugir.
Ergo-me apoiado em meu ego e ergo os olhos sustentada pela minha indubitável arrogância.
Caminho livremente pela estrada, sem temer nada além do monstro que ganha todas as guerras, aquele que sou eu .
E por fim o tempo foge do interminável e a inércia da vida me leva a cumprimentar o padeiro , desejando-lhe uma boa manhã ou uma boa noite
E o monstro rugi a espera da seguinte batalha , sabendo em seu íntimo que o campo , o corpo e a mente já estão ganhos e que a pobre alma é demasiadamente vazia para pertencer ao plano dos que ganham e são ganhos
Descalço meus tênis e jogo-me na cama para sentir o alívio.
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O menino , o mendigo e a Aflição
Short StoryUma série de textos que, de certa forma, se intercalam e contam as diversas possibilidades para a vida de um menino e a de um mendigo e todas elas demostram o sujeito Aflição que é presente na vida de todos , mas de diferentes formas.