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1:

Charles passou as próximas 2 semanas procurando alguma coisa que Sarah podia ter deixado para ele. A confusão batia em sua cabeça e, embora a empresa estivesse bem, o maior sentimento que apertava seu peito era saudade. Saudade daquela crise onde o jornal quase quebrou. Saudade de quando o banco ameaçou tomar o prédio em que trabalhavam. Saudade disso tudo, pois Sarah estava lá, ao seu lado. E, de repente, ela estava na Jamaica.
Mesmo que ela fosse casada e tivesse um filho, apenas ao te-la ao seu lado, o segurando nas horas mais difíceis e o fazendo rir, já valia a pena todo o sufoco que tinha passado.
Se lembrou de quando recebeu o convite de seu casamento. Jogou-o em um lixo qualquer, em qualquer rua desconhecida para evitar que o visse novamente. Não que ela estivesse errada. Ele havia vacilado e ela soube seguir em frente. Mas ele não. Sentia-se feliz por ela ter arrumado um cara legal, mas sentia uma dor no peito. Nunca achou ninguém como ela. Tão especial.

Dia 29 de abril. Foi o dia do casamento. Charles entrou em coma alcoólico em um bar qualquer. Já não sabia mais se queria viver ou se queria continuar com qualquer coisa. Chorou por algum tempo que não foi calculado. Afinal, quem conta esse tipo de coisa?

Lembra de ver as fotos da sua lua de mel na França. Fotos de vinho, fotos da Torre Eiffel, fotos de beijos, anúncio de gravidez...
Anúncio de gravidez?!
Foi quando Charles caiu por si. Percebeu que ela nunca iria voltar. Por mais que o casamento desse errado, agora ela teria um filho para criar.

Não foi tão doloroso. Ele percebeu que não podia ficar parado no tempo enquanto ela vivia. Mas agora... Agora ele voltou a se apaixonar! Sentia raiva de si mesmo por se apaixonar por uma mulher casada. Sentia como se estivesse se aproveitando de seu luto de alguma maneira.

***

2:

O dia começou de maneira lenta. Lenta porque apesar de ser terça feira e a direção do jornal local o aguardar, ele acordou atrasados decidiu que podia fazer o que tivesse em casa. Ligou para a secretaria e avisou sobre sua ausência no dia, mas pediu que o encaminhassem qualquer coisa que fosse necessária.
Decidiu tomar um banho. Em meio a água quente nem dava para ver as lágrimas escorrendo de seus olhos.
Saiu e abriu a caixa de mensagens de seu email. Começou a ver alguns documentos financeiros da empresa. Precisava resolver algumas coisas.

Inesperadamente, chega um email. No assunto encontrava-se a palavra "Convite". Tentou reconhecer o destinatário: co.n4n@projeto.com.br
Charles exitou por um momento. Seria algum evento de jornalismo, ou algo do tipo? Aquele seu email profissional era extremamente restrito, logo, devia ser algo que se relacionasse com a empresa.
Clicou para abrir o email e visualizar o conteúdo. Havia apenas um link, e abaixo dele, as palavras "LINK CONFIÁVEL (NÃO É SPAM)". A curiosidade estava o atiçando. Clicou para entrar no site e ver o que o aguardava.
A página do site era simples. Toda branca e havia escrito "Bem Vindo Charles" em letras vermelhas. Abaixo disso, um visualizador de vídeo. Charles começou a pensar sobre seu nome estampado naquelas páginas. Ele realmente esperava que não fosse marketing. Esperou que o vídeo carregasse um pouco e deu o play.

Apareceu uma mulher. Bem vestida, roupas sociais. Um blazer e uma saia pretos. Seu cabelo chanel vermelho estava harmoniosamente penteado. Arrumado até de mais. Ao fundo dessa mulher encontrava-se a projeção de um globo terrestre. Girando e girando.

"Boa tarde Charles. Meu nome é Katherine e vou poupar você de grandes apresentações". Sua voz era calma, mas firme. "Certamente está se perguntando o que é isso e porque seu nome está estampado na página do site. Apenas queríamos garantir que o vídeo fosse visto. Bem, eu trabalho para uma agência a qual você não saberá o nome agora. Precisamos que você acesse esse outro link que aparecerá ao fim do vídeo. Pode parecer besteira, mas tudo isso faz parte de nosso sistema bastante avançado de segurança. Você não deve ter percebido, mas nesse momento a webcam integrada ao seu notebook foi acionada pelo nosso sistema, e estamos transmitindo ao vivo as imagens para nossa central de reconhecimento facial, assim podemos nos certificar de que é realmente o Charles que está assistindo esse vídeo". Charles deu um pulo e tampou com o dedo a pequena câmera na parte superior de sua tela. Percebeu que seu coração havia acelerado. Estava com medo do que era tudo aquilo. A voz firme da mulher continuou: "Acredito que deva estar assustado, mas não feche a página nem cubra a câmera. Se for confirmado que Charles que está vendo esse vídeo, o link irá aparecer. Se você não for Charles, nem tente nos enganar. Nosso sistema é avançado e reconhece fotografias. Caso você seja o Charles, com certeza está em dúvida sobre o porquê deveria deixar o reconhecimento facial ser feito. Vou lhe dar um bom motivo. Você foi o Indicado de Sarah Smith para nosso programa."

Sarah. Ao ouvir aquele nome, um calafrio o percorreu. Confiança foi a palavra que veio em sua mente, e imediatamente tirou o dedo da webcam.

"Caso isso não tenha sido o bastante, peço desculpas pelo incômodo e peço que não retorne jamais o email. Buscamos pessoas que confiem no programa. Se você não tiver se convencido, já pode fechar o vídeo. Caso tenha, já foi tempo o bastante para que o reconhecimento facial tenha sido feito, e logo o link aparecerá em sua tela."
Subitamente, o vídeo fechou. Um símbolo de carregando apareceu em seu local. Após cerca de 5 segundo, a palavra "concluído" em letras verdes garrafais apareceu. Em seguida, um novo link, e um texto abaixo:

Obrigada pela confiança Charles. A próxima etapa será uma transmissão ao vivo. Se certifique de acessar o link quando estiver sozinho e em total consciência.

Charles não hesitou dessa vez. Clicou no link e aguardou.

3:

Após alguns minutos de espera, a conexão foi feita. Estava iniciada a transmissão ao vivo. Era a mesma mulher, Katherine. Dessa vez, ao invés do blazer e da saia, ela usava um vestido preto até os joelhos. Novamente no fundo havia o globo terrestre girando.
Sua voz soou mais nítida do que nunca.

- Como vai Charles?

- Bem. Eu acho.

- Ótimo... Vamos - Charles a interrompe

- Ótimo? Minha condição mental irá colaborar em alguma coisa? O que é tudo isso? É assustador, sabiam?

- Certamente é assustador, mas se você ficar se afobando não vou poder explicar nunca. - Charles sente seu corpo se encolher na cadeira. -Primeiramente eu queria que você respondesse a algumas perguntas de segurança. Coisas básicas sobre a sua vida.

- O que? Você vai me perguntar sobre minha vida? Vocês são de alguma agência de espionagem ou alguma coisa do tipo?

- Todas as informações foram coletadas em seus perfis em redes sociais ou fornecidas pela sra. Sarah. - Charles se sentia na defensiva, por algum motivo que ele não conseguia entender. Ou talvez por um motivo muito óbvio, já que era sobre sua privacidade que estavam falando. Às vezes ele realmente fornecia informação de mais nas redes sociais, mas esperava que Sarah não tivesse falado nada grandioso ou constrangedor. - Prosseguindo então. Sr. Charles, me responda rapidamente sem desviar os olhos da câmera. Qual o nome de seu primeiro animal de estimação?

- Vox - Charles respondeu rapidamente

- Qual era o animal?

- Um peixe. Vermelho.

- Qual o nome completo de sua mãe?

- Elisa Manuel Washington

E assim prosseguiram inúmeras perguntas. Nada tão pessoal, mas coisas que ele nunca achou que uma empresa suspeita fosse saber. Precisava realmente ter mais cuidado com o que postava.

Quando a última pergunta foi concluída, Katherine apenas disse "Já é o bastante. Obrigada". A página do site fechou sozinha, e a tela do notebook ficou preta. Charles ainda não fazia ideia do que estava acontecendo. Sentiu arrependimento por ter fornecido aquela grande quantidade de informações particulares.

De repente, a porta. Ouve a mesma voz da mulher, Katherine, falando atrás de sua porta.
- Charles, abra por favor. Somos do projeto Conanimus.





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⏰ Última atualização: Jul 13, 2017 ⏰

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