Capítulo 2

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* UMA SEMANA APÓS A MUDANÇA DA FAMÍLIA PARA O TEXAS *

- Andrew !!! - minha mãe grita pela milésima vez - se você se atrasar para o primeiro dia de aula , eu vou ..
- Já estou aqui - digo, enquanto desço o ultimo degrau da escada e me sento em uma das cadeiras para tomar café.
- Finalmente né , pensei que ia precisar de um guindaste para te tirar daquela cama, seu idiota - minha irmã resmunga do outro lado da mesa.
- Opa, opa, opa - minha mãe torce o nariz e olha para Marie furtivamente - vamos sossegar mocinha - minha irmã simplesmente revira os olhos.
- Mãe, vou no seu carro pra escola hoje ok ?! - minha mãe acena que sim, enquanto pego as chaves do carro, dou lhe um beijo no rosto e saio em direção à escola enquanto Marie faz o mesmo e vem atrás de mim.

********

O trajeto de casa até a escola é de 11 km, feito em no máximo 15 minutos dependendo do movimento e dos semáforos, entro pelos grandes portões da " Big School " , e paro no estacionamento, em uma das vagas mais perto do portão principal, minhas mãos estão completamente geladas e um frio na barriga me faz transparecer completamente o terror que estou sentindo nesse exato momento. Milhares de alunos atravessam o gramado da escola, a maioria em grupinhos , outros já se beijando em cantinhos nem um pouco discretos, e outros simplesmente parecem tão perdidos quanto eu.
- Tente sobreviver até o sinal tocar ok ?! - minha irma pisca para mim e sai andando em direção à entrada principal como se ela estivesse sempre nesse espaço, enquanto eu pareço um zé ninguém parado no meio do estacionamento , tentando não parecer um covarde.


*****

Depois do segundo horário finalmente consigo conter a tensão e o suor das minhas mãos e pareço um pouco menos um idiota, claro que ainda não troquei mais de 5 palavras com ninguém, mas pelo menos não fui acertado com bolinhas de papel e tomates podres e coisas assim.
Confiro minha grade horária e minha próxima aula é teatro, me assusto um pouco já que não me lembro de ter assinalado teatro como uma das minhas matérias adicionais, - " no fim da aula vou lá tentar mudar essa matéria " - penso.

*****

Quando entro na sala de aula de teatro sou recebido com milhares de olhares , alguns rostos que eu ja tinha visto durante os dois primeiros horários, mas a grande maioria desconhecida.
Uma mulher baixa com grandes óculos redondos, um cabelo aparado na altura dos ombros , bastante cacheados me recebe com um sorriso enorme:
- Você deve ser Andrew - ela me abraça - estávamos esperando por você, finalmente , finalmente você chegou - ela bate palminhas bastante entusiasmada , e risinhos abafados entoam por toda a sala, - pessoal , esse é Andrew, recebam-o com muito amor , carinho e que ele possa se familiarizar com cada um de vocês, estou aqui pra qualquer coisa, e eu já ia me esquecendo , meu nome é Mel.
Eu fico sem reação, esperando as palavras aparecerem na minha boca, mas elas parecem sons distantes demais, então como um imbecil eu respondo:
- Valeu.
Quando eu digo isso, a vergonha alheia queima por todo o meu rosto, as minhas bochechas ardem como fogo e eu quero me esconder em qualquer canto que houver, mas incrivelmente isso faz a sala virar um coro único de risos, e eu sou recebido como uma estrela de cinema, por tapinhas e apresentações e assim por diante, até que Mel interrompe:
- Galerinha, eu separei uma peça para este ano chamada Romeu e Julieta e não quero reclamações, é uma história trágica mas encantadora, e eu fiz o sorteio de todos os personagens e não quero questionamentos ok ?! Vou dizer nome por nome , e o papel no qual vão atuar , as pessoas que sobrarem me ajudarão com figurinos e cenários.. Então vamos lá: Máia sera a ama de Julieta; Thomas sera Páris; Nicholas será Mercúcio (...) e finalmente os dois mais esperados do momento, Julieta será interpretada por Clarissa e o nosso querido Romeu por Andrew !!
Palmas, gritos e assovios são executados pela sala inteira e meu queixo está no chão , não , não posso mesmo fazer o papel principal , eu nem deveria estar aqui , houve um engano , tento me explicar para Mel mas ela dá de ombros e ignora todas as minhas reclamações.
Um cara que estava comigo na aula de álgebra, e pelo que me lembro fará o papel de pai de Romeu, se senta do meu lado e diz:
- Sua parceira de papel principal está tão pálida e chocada quanto você - ele rí e aponta para o outro da sala.
Ergo o olhar e me deparo com um par de olhos azuis me encarando que eu reconheceria ao longe, ela parece tão assustada quanto eu, abro a boca para perguntar o nome dela, mas minha voz some e eu praticamente ouço o som do meu próprio coração pulsando fora do compasso.

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