Escape

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Num dos quartos do castelo, Francine se encontra rodeada de anjos que se disponibilizaram a trabalhar como alfaiates, prontos para tirar-lhe a medida. Ela estava feliz, porque, diferente de sua antiga morada, possuía serventes.

Lucian adentrou, observando como a garota estava impressionada com todos aqueles cuidados.

– Quais são tuas opiniões sobre tudo isto?

– Ótimo! Tudo ótimo! Nunca tive tanta atenção!... – rapidamente, o entusiasmo se foi. – Encontraste Serena?

– Sim.

– E onde ela está?

– No lugar que merece estar.

– Poderias ser direto, meu senhor?

– Está sendo repreendida por ter desaforado a mim.

– Contudo... Tu não disseste que abandonara os Céus por Micael ser tirano e não permitir que ninguém opinasse?

– Estás se queixando da maneira que administro meu império?! Agora temos liberdade! Preciso disciplinar àqueles que cometem falhas graves contra a nossa supremacia! Querer ver a teu amo perdendo o poder que alcançara?! – o tom de voz do arcanjo foi elevado.

– Não, mestre...

– Ah... Francine... Não se preocupe com tua irmã. Tu tens conhecimento de que ela é desobediente, correto?

– Correto...

– Não tenha medo de questionar-me. Responderei-lhe sempre de uma maneira satisfatória... – disse Draco, tentando discretamente copiar o estilo de comando da deidade a quem se opôs. – Não se preocupe... Faça o que eu disser e nenhum revés virá sobre ti. Tu e tua irmã precisam manter o padrão. São da realeza agora. – deu um sorriso cínico.

O que fora regente do coro celestial era dono de um incansável desejo de ser como seu criador. Tempo se passara desde a expulsão, todavia, a inveja permanecera...

– Sabe, amo... – Francine o chamou. – Não gostei muito ser abandonada para que tu a procurasses...

A vontade de Lucian era responder "Tu não tem obrigação de gostar de nada, apenas de me servir.". Contudo, segurou estas palavras em sua boca e disse tranquilamente:

– Não há razões para ter ciúmes. Sabes que tenho um enorme apreço por ti... Tua personalidade é promissora.

Cinco dias depois da conversa, dentro do calabouço, Serena ainda debatia-se e executava tentativas de soltar-se. Porém não eram eficazes... As únicas coisas que conquistava com seus esforços solitários eram marcas doloridas em seus pulsos, que começavam a sangrar. A dor fazia com que gemesse baixo. Ela nunca sentira isso antes. Seus joelhos e braços estavam ralados de tanto desabar no chão por excesso de labuta. Tinha fome e sede, suas vestiduras tornaram-se trapos. Ninguém a visitara desde que fora colocada ali... Nem mesmo sua irmã. Algumas vezes, a própria Serena espancava-se, por estar com ódio do que fez. Confiou naquela que sequer a visitou quando estava em cárcere e traiu àquele que a tratava melhor do que merecia.

Com a voz rouca, clamou, usando o vigor que lhe restava:

– Micael... – lágrimas escorreram pelo seu rosto e pequenos flashes do passado a atormentaram. – Amenize minha agonia, por favor... Mate-me agora se necessário, mas livre-me! Livre-me de mim... Olhe para isto... Eu mesma me mutilei... Não há culpado senão eu! Necessito da tua ajuda... Senhor, és a minha única saída... Tens misericórdia de mim! Não mereço que tu me escutes... Mas tu a sempre estás a me escutar... Perdão... Tornei-me um caos e não posso escapar disso... Destruí a tudo que podia chamar de felicidade... Estou quebrada nesta bagunça que fiz... E preciso de você para me restaurar... Precisei engolir o meu orgulho para não morrer sufocada, contudo eu vejo que merecia mesmo morrer... Mas... Continuo tentando segurar a minha vida com estas mãos desajeitadas... Por favor, por favor... Pegue-a e faça o que for bem visto aos teus olhos com ela... Por favor... Eu não aguento mais... Eu não aguento... Tua presença em mim é toda a força que eu preciso... Nada mais... Nada mais... – ela contorcia-se no chão, parecia estar tendo um surto.

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