Advertência

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Micael retornou ao seu baluarte, condoendo-se. Os homens que criara não mais estavam ali... Já haviam traído-o. Alguns anjos desceram do Céu para ver o que se passava com seu mestre. Apenas um deles teve coragem para perguntar:

– Meu lorde... Por que lagrimas?

– Elas se foram.

– Tu podes trazê-las de volta, não podes?

– Sim, dependerá apenas do desejo delas retornarem. Contudo, ambas serão responsáveis por todo mal quer fizerem enquanto não arrependerem-se verdadeiramente... Tomarão as consequências sobre si. Elas não sabem os riscos que correm quando executam imperfeição moral...

– Ah... Sim... E... Sem querer ser incômodo...

– Podes falar. Não incomodas de maneira nenhuma. – enxugou o rosto para atendê-lo melhor.

– Destruirás a Lucian por ele ter te questionado?

– Bem... Questionar não é quebra de lei, ao contrário do que muitos pensam. Não é minha vontade que meus servos me tenham uma confiança cega. Se os que duvidam tivessem perguntado a mim, tê-lo-ia respondido. Lucian colherá os resultados de fazer os outros caírem em perdição... Por isso será destruído.

– Mas... Ele não escaparia disso nem caso se arrependesse?

– Ele não se arrependerá... Eu o sei... Já dei oportunidades. Todas foram rejeitadas.

– Sendo sincero para contigo, eu tinha medo do senhor durante todo o período que estive contigo! Porém, vejo que não há razões para isso.

– Alegra-me ter conhecimento disto. É bom ver que tu me tratas como um amigo, abrindo teu coração sem temores. – sorriu tristemente.

Longe dali, um arcanjo levava duas moças em cadeias. Adentram uma localidade repleta de montanhas de topo congelado...

– Aqui é onde viveremos? – Francine conversava com seu patrão.

– Pode-se dizer que sim. Demoramos bastante tempo para concluir essa construção. Qual conceito tens dela?

– É deslumbrante... Hm... Draco... Quando nos empurraste ao chão e disseste aquelas coisas... Era apenas um blefe para amedrontar a Micael, certo?

– Claro que era... Eu não seria capaz de tratar a vós tão cruelmente. Lamento tê-las machucado... Foi mesmo uma pena maltratar-te daquela forma. Vejo muito potencial em ti.

– Juras? Esplêndido! Então... Onde ficarei em teu castelo?

– Onde quiseres.

– Poderei sentar-me ao teu lado?

– Certamente.

– E tu, Serena, onde queres ficar? Eu posso ficar à direita dele e tu à esquerda.

– Não quero proximidade desse hipócrita. – a garota murmurou.

– Como ousas falar assim de nosso senhor? – sua irmã indignou-se.

– Ele pode ser teu senhor, mas não é meu!

– Tu te vendeste. Querendo ou não, és minha. – Lucian olhou a mais jovem rapidamente. – Escolherei o lugar em que deves ficar. Será um ótimo local de aprendizado para uma dama tão teimosa.

Os três chegaram até uma enorme ponde com duas torres, interligando duas das montanhas, onde havia anjos com armaduras. Alguns com lanças em mãos e outros montados em cavalos. Mas todos vigiando os portões da cidade.

Ao longe, podia-se avistar o castelo, com uma enorme bandeira rasgada nas pontas, erguida. A luz do Sol voltava a preencher o lugar. Serena tapou seus olhos, pois estavam sensíveis. Durante a caminhada, ouviram-se gritos por detrás. Voltaram-se, para ver o que se passava. Eram os muitos homens e mulheres que a divindade criara para serem governados pelas irmãs. O brilho nos olhos de Lucian a ver toda aquela gente foi perceptível.

Serena queria retornar às suas antigas terras, na esperança de ouvir justificativas de Micael e ter razões para querer ficar lá. Todavia, ela não notara que havia uma falta em seu planejamento... Para a jovem, a culpa era de todos, exceto dela. E caso conseguisse entrar no reino da potestade, não permaneceria. Porque não há como perdoar quem não está pesaroso, e nada que não seja sagrado e puro pode estar lá dentro.

Quando a grande multidão aproximou-se violentamente de Draco para adorá-lo, Serena aproveitou-se da baderna e puxou seus grilhões bruscamente para fugir. O revolucionário sentiu a propriedade tentando escapar. Ordenou que um de seus seguidores levasse Francine até a sala do trono. Ergueu suas asas e foi atrás da outra irmã. A vagarosa corrida da madame chegava a ser considerada patética por Lucian. Por isso, ele quis ver até onde aquela "tola" iria.

Serena não parava de percorrer o que supunha ser o caminho de volta. No momento em que pensou que chegaria, deparou-se com um abismo e desequilibrou-se na beirada dele. Deu dois passos para trás e olhou para frente. Conseguia avistar o castelo que tanto buscara... Mas permanecia distante.

– Aonde vais? – Draco desceu em sua direção.

– Vim buscar meus pertences que ficaram com meu... antigo senhor... – mentiu.

– Pensas que sou inepto?! – o arcanjo puxou-lhe os cabelos. Mas, depois de olhar fixamente o rosto da donzela, soltou-a e riu descontroladamente.

– Qual é a graça? – ela ficou confusa ao extremo, colocando as mãos sobre onde lhe doía na cabeça.

– Só agora percebi: "Meus pertences"! Hahahahaha! És tão ingênua! Chega a ser tão adorável quanto ridícula!

– O que queres dizer com isso?

– Nada que está lá te pertence! Procure ser um pouco menos imbecil. Este precipício abriu-se agora porque o próprio mundo está sabendo fazer distinção entre santo e o profano.

– Não entendo...

– Mas é claro que não entendes, tu és estulta! O pecado te afasta do Altíssimo, o planeta está seguindo a ordem das leis. Por que tu achas que ele não pôde chegar até nós há pouco tempo atrás?

– Ah... Verdadeiramente, isto foi óbvio... Alguém como ti não teria poder suficiente para apartar a Micael. Mais óbvio ainda é que nunca chegarás aos pés dele.

Lucian enraiveceu-se e estapeou o rosto da moça, contudo, segurou-a pelas grilhetas, para que não caísse no abismo. Queria-a viva por enquanto.

– Voltemos para nosso lar. Não demorará muito, levar-te-ei. Tu corres de maneira estupidamente lenta. – enrolou as correntes dela em suas mãos e voou rapidamente para o lugar de onde saíra, sem se importar em fazer ferimentos nos pulsos da garota.

O antigo regente dirigiu-se logo até sua fortaleza. Ao invés de ir para sala do trono, que era onde se encontrava Francine, ele encaminhou-se até uma masmorra... Aprisionou Serena naquele lugar escuro, com goteiras e malcheiroso.

– Sinta-se honrada, estás a inaugurar o nosso calabouço. Ficarás aí até aprender a se comportar. És um diamante bruto que precisa ser lapidado. – levantou a face da jovem para olhá-la melhor, e a mesma cuspiu em seu rosto. – Parece que o processo de lapidação demorará mais do que o pressuposto. – jogou-a contra a parede impiedosamente e ausentou-se.

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