01/10
Esse é o fim. O fim de tudo, do meu relacionamento e da minha vida. É simplesmente o fim.
Eu tentei acabar com o que ainda existia entre Marcelo e eu, não aguentava mais, não suportava esse enorme peso nas minhas costas. Eu estava física e psicologicamente destruída.
Por culpa dele.
Por mais que eu tentasse não demonstrar, meus pais viam isso. Eu me afastava de Marcelo quando ele tentava ao menos segurar minha mão, e minha mãe até comentou sobre. Eu disse apenas que estava tudo bem, mesmo não estando.
Então, um dia, quando ele estava na minha casa, e eu já não aguentando mais aquelas mentiras, cheguei ao meu limite. Disse que estava tudo acabado, que eu não queria mais vê-lo, que ele me fazia mal. Mandei ele ir embora da minha casa, nunca mais aparecer e acho que ele só não me bateu ali mesmo por conta dos meus pais. Bateu a porta tão forte que achei que fosse quebrá-la, e eu desabei no meio da sala de jantar, chorando por aquilo que minha vida havia se transformado por culpa daquele monstro.
Contei aos meus pais tudo que tinha passado e vi nos olhos deles o quanto estavam culpados por não ver. Mas se nem eu vi, como eles poderiam?
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03/10
Bem, ele veio aqui. Estava apenas eu em casa e Marcelo sabia disso quando chutou a porta com tanta força que ela se abriu de uma vez só, em um estrondo enorme.
A primeira coisa que fez foi me puxar pelo cabelo e me jogar no chão, com uma força tão grande que não consegui nem gritar, e quase desmaiei. Tudo ficou negro por uma instantes, e eu só sentia dor e dor e dor enquanto ele socava meu rosto.
Havia uma raiva tão grande refletida nos olhos dele que meu corpo todo estremeceu. Ele estava louco, e eu ia morrer.
Finalmente, caí em inconsciência, depois de levar um chute na barriga. Dor e dor e dor.
A escuridão quase me sufocava quando eu acordei, deitada no chão frio da sala, com sangue saindo do meu nariz. Os cortes no meu rosto ardiam, e meu estômago doía, e então, ele me viu acordada, e a tortura continuou.
Enquanto me batia, citava cada um de seus motivos.
Um soco, eu o havia traído.
Um chute, eu o deixara.
Um tapa, eu havia acabado com a vida dele.
E por esse último, ele iria acabar com a minha. Um chute no lugar certo e eu já não respirava.
Fui encontrada no chão pelos meus pais, já fria e havia muito sangue. Minha mãe gritou, o ódio, tristeza e a perda misturados, todos juntos na agonia de perder a única filha.
Eu morri com o pulmão perfurado, tinham costelas quebradas e minha mandíbula fora deslocada. Morri em uma poça de dor, sangue e culpa, porque não percebi antes.
Aquele foi o dia que eu, com meus 18 anos, tive minha vida brutalmente encerrada, mas não fui a única. Acontece todos os dias.
Todos os dias, uma mulher inventa uma desculpa para o olho roxo, todos os dias, elas carregam o peso de um relacionamento abusivo nas costas. E todos os dias, morre uma mãe, uma filha, uma irmã, uma amiga, porque foram manipuladas pelos homens que diziam amá-las.
Todos os dias, eles nos culpam por não saber sair daquilo, chamam-nos de cegas, burras, submissas, mas, afinal, nós não somos as vítimas?
Chegou a hora da sociedade encarar tudo isso, de deixar de ser um tabu. Chegou a hora de acharmos um absurdo essa história se repetir várias e várias vezes todos os anos, com muitas mulheres.
Eu sou Dominique, uma mulher fictícia, carregando nas costas a história de várias mulheres reais.
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Fim.
Eu chorei muito nesse capítulo. Chorei pela dor da Domi, porque a dor dela é a dor de milhares de mulheres, se não milhões, no mundo inteiro.
O capítulo não foi postado ontem porque hoje é meu aniversário, e eu queria encerrar minha história (a que mais amo) em um dia importante pra mim.
Eu vou contar minha idade a vocês, e só não contei antes por medo de ser julgada ou sei la o que.
Hoje faço 13 anos. E eu estudei muito sobre esse assunto pra poder escrever tudo isso. E eu me orgulho.
Obrigada por estarem aqui e por lerem tudo isso.
Espero que tenha feito vocês pensarem. Me fez pensar sobre muita coisa.
Obrigada.
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Será que ele me ama?
Non-FictionDominique é apenas uma jovem de 18 anos que conheceu o "amor de sua vida" comemorando o dia em que se tornou "adulta". Marcelo era encantador e eles se amavam. Ou pelo menos era isso que Domi pensava. Então, ela relatou em seu diário como era viver...