Quando a espaçonave Beneroponte entrou na órbita de Traud-Rópi tornou-se visível novamente. Igórum Ogaussoc fora o engenheiro chefe na construção da imensa espaçonave. Sua esposa, Cádia Gaussoc, apesar de ter sido a Regente e comandando os gaussoctir na Última Guerra das Dinastias, pouco sabia a respeito de navegação espacial e viagem no tempo-espaço. Igórum era o Capitão da nave, e numa nave, o Capitão é o rei. Foi ele quem inventou o elaborado e tecnológico dispositivo de camuflagem. Levou mais dois meses para concluí-lo, durante os quais a guerra perdurou numa devastadora carnificina. Mas Igórum sabia que o sacrifício era necessário, senão a nave seria perseguida e destruída. E tudo seria em vão. Gaussoctir nenhum restaria. Este dispositivo e a espaçonave foram a grande invenção da Quinta Era. Alguns historiadores inclusive afirmam que foi a viagem desta espaçonave camuflada que iniciou a Sexta Era (embora a maioria diga que foi a libertação de Ibimará). Graças a esta camuflagem, assim que saíram da atmosfera de Es-Abarre, entrando no vácuo negro-estrelado do espaço interestelar de Idi, a espaçonave ficou invisível. E assim aqueles quinhentos mil sobreviventes puderam viajar milhares de anos-luz em busca de um novo lar. Igórum foi, na verdade, o salvador dos gaussoctir. Ele havia planejado com sua equipe de cientistas chegar à estrela Marcabe, a qual orbita o planeta gigante Ganimede, que possui vinte luas orbitando ao seu redor. Uma destas luas é Traud-Rópi: um dos quinze mundos habitáveis de todos os sistemas solares da Galáxia Idi. Ganimede orbitava longe demais de Marcabe, e Traud-Rópi seria mais um corpo frio e inerte orbitando num dos milhões de sistemas estelares de Idi. Mais um Traud. Mas a luz da estrela Marcabe, depois de viajar oitocentos trilhões de quilômetros, reagia com os gases de Ganimede provocando radiações luminosas que nutriam a vida quente no Traud-Rópi. Além disso, Traud-Rópi não girava... apenas uma face era voltada para a luz de Ganimede, cheia de rios, animais e florestas, enquanto a outra permanecia morta, congelada no escuro. Até que Gáurox levou seu sol para lá e não conseguindo fazer orbitar Traud-Rópi (era grande demais para ele) então pôs na órbita de Ganimede. Isto mudou as evoluções dos vinte satélites de Ganimede! Gáurox nem previu isto, estava fora de seus cálculos. Traud-Rópi aproximou-se um pouco mais de Ganimede e passou a girar em torno dos três eixos! Além disso, Ganimede filtrava as radiações lesivas do Sol de Uquir. Uma luz mais rica e balanceada passou a vivificar toda superfície de Traud-Rópi! Este foi o único mundo de Idi que foi beneficiado pelo Sol de Uquir, e que passou a viver em perfeito equilíbrio com ele. Mas somente meia dúzia de pessoas na Beneroponte sabia talvez a metade disso. Num lugar alto do hemisfério norte de EsAbarre, numa noite escura, com auxílio de um bom telescópio, alguém podia observar a estrela Marcabe. E só. Igórum olhava para aqueles es-abarrearaé ciente disso. Eles ocupavam o deque principal e todos os corredores. Era mais seguro para a aterrissagem. Ou, menos perigoso que os compartimentos. Finalmente chegavam ao seu destino. Igórum olhava seus rostos ansiosos. Não de expectativa, mas de medo. Para os habitantes de Idi, Traud-Rópi era uma lua selvagem, cheia de perigos desconhecidos, lar de bestas ferozes irracionais. Estes es-abarrearaé partiram de seu planeta para lá, para uma esfera que nem podiam ver, um dos milhares de corpos orbitando uma estrela distante. Partiram para lá sem chance de retorno. Abandonando tudo: família, casa, riquezas, cultura e costumes, ruas e paisagens... Uns raros volumes nas melhores bibliotecas de Es-Abarre tratavam da geografia, vegetação e fauna daquele mundo. Quem iria perder tempo lendo isso? Agora era tarde. Sabiam que o Império de Uquir reclamava posse de Traud-Rópi, mas não colonizava. O Conselho dos Quinze justificava a não ocupação explicando que era importante preservar um mundo sem civilização, como uma reserva de biosfera para o caso de uma calamidade galática. Na verdade, não habitavam este satélite de Ganimede por desconhecerem qualquer minério ou outro recurso natural que recompensasse as viagens; e também porque até os Altos Comandantes tinham medo de andar por lá. As pessoas tinham tanto medo que escondiam o medo, evitando até mencionar o nome Traud-Rópi. Alguns se arrepiavam quando falavam "Ganimede" Encontrar Marcabe com o telescópio era empolgante para uns... Muitos sequer sabiam que existia este mundo. Nas brincadeiras de perguntas e respostas era comum colocarem uma pergunta deste tipo: "Qual o satélite habitável que orbita o planeta Ganimede?" Era uma pergunta dificílima e dava um clima sombrio no jogo. Como tem todo tipo de gente em Idi, havia quem se preparava a vida toda para explorar Traud-Rópi, mas claro, eram poucos, e tido como malucos. E iam mesmo, porém nunca voltavam. Eram dados por desaparecidos, o que aumentava a fama sinistra de Traud-Rópi. No entanto, os mais eruditos habitantes de Idi conheciam Traud-Rópi por outro nome, um nome que Uquir proibiu de se falar na Quinta Era: Beacan. "Beacan", Igórum falou para si, olhando aquele tumulto contido. Na Terceira Era os Luzeiros dissidentes, liderados por Ridupan Omaper abandonaram o mundo Caibir decadente e fundaram um reino. Este reino não tinha fronteiras para chamar o que estivesse dentro delas de nação. Diziam que seu reino era Prumc. Mas construíram castelos e ergueram monumentos à sua história, a maior parte deles no Traud-Rópi. Acho que começou aí o mistério que envolve este satélite. Esquivavam do nome Traud-Rópi e chamaram seu reino de Beacan, que significa "o ser poderoso". Eles expandiram Beacan secretamente, influenciando os quinze mundos, entronizando reis, derrubando governos. Milênios após a vitória de Ibimará na Segunda Guerra, Ridupan Omaper vendo a corrupção de sua Ordem decretou o fim deste reino e se exilou em Araida. Dizem que ele era de fato araidara, o primeiro e único que conseguiu sair de lá. Ele alcançou a capacidade de viajar entre os mundos prescindindo de animais, máquinas ou artefatos. Diziam os eruditos da Quinta Era que ele se tornara um dussac (mas na verdade, nessa época, Ridupan era um baudros). Foi com uma esperança desesperada que Igórum escolheu Traud-Rópi, para encontrar alguma relíquia do antigo Reino de Beacan, algo de poder extraordinário que pudesse usufruir para salvaguardar seu povo... mas não só isso. A viagem dos es-abarrearaé durou cerca de uma semana, dentro do tempo de Idi, mas durou quase dois anos para os passageiros da espaçonave, devido a sua locomoção mais rápida que a luz e pelo aparelho de dobra temporo-espacial não ser tão eficaz. Passaram por muitos sofrimentos durante a viagem. Pessoas morreram doentes, por falta de medicamentos e condições de tratamento; outras morreram desnutridas devido ao severo racionamento de comida... E Igórum teve de aprender a ser Capitão, porque no final das contas, recorriam a ele. Navegaram sempre com Marcabe à frente. Enfim, agora avistavam o enorme planeta Ganimede, com seus gases luminosos alaranjados, pelas janelas embaçadas da espaçonave. Chegavam no momento preciso, talvez um pouco tarde... acabara a água no dia anterior. Da comida, apenas restos putrefatos. Suas roupas estavam imundas; suas peles, pegajosas. A nave fedia. Todos eles fediam. Não havia muito mais o que fazer. Começaram os procedimentos de aterrissagem. Muitos já tinham se curado da amargura e dor de fugir do próprio mundo, abandonando pais e filhos mortos e vivos a aniquilação. Então, quando avistaram finalmente a atmosfera rosada de Traud-Rópi, a ferida tornou a se abrir, bem na cicatriz dolorosa, mas agora enchendo de angústia e medo. "Traud-Rópi" Murmuravam alguns es-abarrearaé, amontoados pelas janelas da espaçonave. Porém muitos evitavam pronunciar este nome, e afastados das janelas, viravam o rosto, numa ansiedade paradoxal, sofrida por ter que descer naquela lua misteriosa, e se espalhar sobre ela. "Traud-Rópi" Ouvia-se, mas nunca pronunciado com entusiasmo. Era irrefreável. Para onde mais poderiam ir? Poderiam alcançar Ibimará. Mas o que sabiam de lá era que o Império oprimia os ibimararaé ainda mais. Ah! Se soubessem que Ibimará estava se libertando! Tudo teria sido diferente. Tão diferente que talvez eu nem estivesse aqui vos contando esta história. Que caos de sentimentos tinham esses tripulantes! Determinação, ódio, pavor, solidão. Típico dos gaussoctir. Contudo, estes viajantes choraram pelo espaço menos que os que ficaram em Es-Abarre. Talvez não... os que ficaram já nem existem. Uns já não aguentavam a ansiedade ao continuar vendo Traud-Rópi pelas janelas e se afastavam, enquanto outros se empurravam para chegar às janelas, sem aguentar mais ficar sem ver, também pela ansiedade. Será que sabem que é a última chance? Igórum se perguntava. Vendo o medo. Medo do que aconteceria no fim. Mas o medo de Igórum não era esse. O medo dele era o medo do fim. O solo se aproximava depressa. Igórum estava com seus oficiais e os tripulantes mais dispostos para lutar próximo aos portões. Tinham armas amarradas ao corpo. Armas arcaicas: espadas, machados, facas... armas que não sofreriam com a dissociação quântica. Deveriam estar prontos para lutar contra as feras que tanto falavam terrores durante a viagem. Ou ainda, poderiam ter sido perseguidos de algum modo, e era possível um exército uquirin estar formado no solo, aguardando a chegada deles. Não penseis que eles eram fracos. Como vos portaríeis? Estes esabarrearaé eram os escolhidos dos gaussoctir, com séculos sendo experimentados na guerra e na ciência. Ainda assim, mortais. Barulho crescente. A fuselagem se chocava contra a atmosfera. A nave estremecia como se estivesse para se romper. Estavam agitados. O Imediato Cresmir Aracon falou alto e firme: – Atenção ao Capitão! Igórum Ogaussoc estava ao seu lado. Tinham combinado que ele discursaria para eles. Mas naquela iminência de morte, com os estrondos ensurdecedores, gritou apenas: – Agachai-vos. Segurai firmemente! Haverá forte impacto! Durante a viagem não se ouvia ruídos de fora da espaçonave, apenas um ranger grave e metálico algumas vezes, e todos ficavam alertas. Se a nave rompesse ao meio, a morte seria rápida no frio do espaço. E agora, esta queda assustadora permitia apenas o pavor da certeza de morrer. O vento gritava e assobiava chocando-se com a estrutura externa da espaçonave. Estremecia intensamente, parecia que a qualquer momento se partiria em mil fragmentos e que todos seriam lançados para os ares. A queda ficou tão rápida que começaram se desprender do piso da nave. O pânico se espalhou. – Os pára-quedas! – gritou Igórum. Mas meia dúzia de oficiais já estavam tentando isso. A nave desacelerou bruscamente. Várias pessoas caíram. Estalos da nave se quebrando. Rachaduras já apareciam. A nave envergou no meio. Todos esperavam que se partisse a qualquer momento. Enfim, estrondos longos e graves, e então um forte impacto que derrubou todos. Levantando-se, Igórum percebeu que ainda estava vivo. Quase todos em volta já se levantavam. – Dispensem a avaliação de danos da nave – falou o capitão, se recompondo. Aterrissaram no meio de um charco. Era o que podiam ver pelas janelas. Não viam animal algum. Haviam fugido assustados. Pane geral nos sistemas elétricos, positrônicos e quânticos. Nenhum instrumento baseado nesses sistemas funcionava. Tinham que sair. Precisavam sair. Nada lhes restava, senão a vida e as armas. Após dois anos confinados na espaçonave, a chegada a qualquer lugar deveria ser uma vitória. Foi estranho. Sentiam-se estranhos. Sabiam que naquele momento deveriam estar vibrando com o sucesso da viagem. Mas ninguém comemorou. Nenhum aplauso, nenhum sorriso. Um abraço pesaroso aqui e ali, talvez. E sabiam que era estranho. Estavam frustrados pela própria indiferença. Compreendiam que era anormal. Alguns tinham desejado ter morrido na queda. Igórum ordenou a abertura manual do portão principal da nave. O portão começou a abrir com estalos fortes, tão fortes que sacudiam seus trapos. Então emperrou na metade. Cresmir tentou ver o que travara a abertura através da brecha que foi aberta. – Estamos a uns dois metros do solo, um tronco de árvore obstruiu a abertura do portão – falou Cresmir. – Duran! Desce lá e corta isso – mandou Igórum. – Outro vai com ele. – Marauá! – chamou um oficial. Os dois homens foram ao portão, magros, mas firmes. Despojaram-se da armadura e das armas, mas mantiveram a couraça. Atravessaram pelas frestas dos dois lados, agarraram-se em alças nos pés da nave e, tomando coragem, saltaram no solo coberto de água. Jogaram-lhes um machado e uma espada. Duran olhava em volta alerta, avaliando o perigo. Marauá não: olhava admirado para o céu verde. Nunca vira um céu verde. Finas nuvens riscavam o céu, bem altas, quase paradas. O Sol de Uquir brilhava atrás de uma bruma. O ar húmido e quente grudou neles como um véu encharcado de saliva. Sentiam cheiro de chuva, mas não chovia. Uma sombra passou sobre eles. Num reflexo, viraram a cabeça rapidamente para cima, assustados. Era uma silenciosa revoada de pássaros de penugem verde-cinzenta a passar não muito alto. – Há pássaros! – gritou Marauá, atento, olhando em volta enquanto o outro preparava uma machadada para livrar o portão da espaçonave. – Psiu! – fez-lhe Duran, lançando-lhe um olhar furioso. Mas mal ele fez essa advertência, o mesmo oficial que lhes jogara as armas gritou de cima: – Tende cuidado! Até a água pode ser tóxica. Duran balançou a cabeça frustrado. Marauá se afastou a vigiar. Duran jogou não muito forte a lâmina do machado contra o tronco. Era de madeira muito dura. Ele aumentou a força e após várias machadadas firmes tinha cortado poucas lascas. Marauá foi até ele. E para provar da solidez da árvore, tocou-a com a ponta da espada, mas, para seu assombro, ela penetrou no tronco quase sem resistência, como se cortasse manteiga. Enterrou a lâmina até o punho da espada tronco adentro. Ele tocou com a ponta do dedo na madeira e sentiu ela maciça, como qualquer árvore de Es-Abarre. – Duran, vê.
Duran continuava a golpear com o machado pelo outro lado da árvore. – Vê! Ele puxou Duran, mostrando a espada se enterrando com pouca aplicação de sua força. Duran se impressionou e pegou a espada. Movimentou com pouca resistência para os lados e percebeu que facilmente poderia cortá-la inteira. – Tenta o machado – Duran disse lhe entregando. Ele lançou o machado com pouca força, temendo que o metal se enterrasse muito na madeira. Porém, apenas o impacto seco. – Toca no metal do machado – sugeriu Duran. Com a força que ele fez, o machado enterrou-se na madeira, tal que não penetrou completamente por causa do cabo, que chocouse contra o tronco, ficando do lado externo a árvore. Sem perder mais tempo, Duran com um golpe da espada cortou todo o tronco. Ela caiu e tombou a copa e ramos contra os galhos das outras árvores, ficando inclinada. Duran foi até a metade do tronco e o cortou ao meio. As toras desabaram à terra encharcada, num baque abafado pelos arbustos que cresciam da terra submersa. O portão ficou desobstruído. Subiu um olor de seiva. – O que fizestes? De repente a árvore caiu... e não ouvimos os golpes do machado – disse aquele oficial. – Foi incrível, senhor Naen. O metal em contato com nossa mão cortou a árvore como uma mão corta água – falou Marauá. – Tanto a espada quanto o machado? – Sim, com os dois, em contato direto com o metal, teve essa propriedade – respondeu Duran. – Vistes algum animal além dos pássaros?
– Não, senhor – respondeu Duran. – Mas ouvi. Não consegui identificar o que eram. Sugiro extrema cautela. Há animais grandes à espreita. – Muito bem – disse Igórum. – Voltai a vossos postos. – Desçamos – disse ele aos oficiais. – Quem serão os batedores? – perguntou o seu filho, o comandante Simbin. – Eu quero ir – respondeu Igórum, decidido. – Mas Duran alertou claramente... – lembrou-lhe Cresmir. – Sim – falou Igórum franzindo o cenho – ele é perito na floresta, eu sei. Por isso não quero enviar outra pessoa. A nave quebrou... não sou mais importante que ninguém agora, só dou ordens. Eu tenho que ir. Só assim ficarei satisfeito. Alguns deles continuavam a não concordar. – Desçamos – insistiu Igórum. – Ou vou só. Acho que Igórum não queria que o perigo acabasse. Como se quisesse ali perseguir o mal que lhe perseguia. Ficar cara a cara com ele; e não de costas, ou de lado, ou separado por paredes de concreto. Estava cansado de fugir, de atenuar, aliviar, mascarar... Queria pisar naquele solo, como quem pisa a materialização do medo. Estava exausto de ser cauteloso. Tão exausto que começara a se questionar se não era um covarde. Quando ouviu as machadadas de Duran, teve inveja. Igórum, Cresmir e Naen desceram até a água. Logo suas botas estavam encharcadas na água rasa, e caminhavam devagar, evitando muito ruído. Igórum ia na frente. A água entrava e fluía entre seus dedos e planta do pé a cada pisada dentro de suas botas. Ficou pesado puxar os pés e avançar as pernas. Viram as copas de árvores a frente mexerem.
Pararam completamente. Igórum observou muito atento aquelas árvores, e o que podia avistar além delas. Apanhou uma pedra e atirou com força para o alto a uma longa distância, que chegou próximo a elas. Ouviram a pedra cair entre as folhas e bater na água. Nada mais aconteceu. A cada dez metros, Igórum dava sinal para cem dos tripulantes descerem em formação. Portavam-se como soldados, e entendiam que naquele momento era assim. Os três adiantavam-se mais e mais dentro da mata, a ponto dos da nave já não os enxergarem. Igórum escutou algo se mover sobre os galhos. – Ouvistes isso? – perguntou alarmado. Naen e Cresmir fizeram que sim. Caiu bem à frente deles um corpo robusto e escuro, sobre a água, espalhando e respingando em seus rostos. Deram um pulo para trás; a criatura ficou de quatro. Era um raco. Sua aparência muito intimidou Cresmir. A criatura possuía grandes olhos negros, seu corpo era coberto de espessas escamas das quais se projetavam agulhas agudas. O raco levantou-se sobre as patas traseiras, ficando estranhamente ereto e um pouco mais baixo que Cresmir. O peito do pé e o os dedos o sustentavam, mas seus calcanhares não tocavam o chão e o joelho estava semi-fletido. Os braços longos e firmes com fortes garras afiadas e lustrosas eram ameaçadores. Impossível dizer quem estava mais tenso. Cada agulha do raco vibrava. Igórum estava todo contraído. Cresmir apertava firmemente o cabo da espada. Naen ofegava. Igórum se moveu devagar até a fera. O raco piscou os olhos. Cresmir viu malícia neles. Ouviram ruídos. Cresmir sacou a espada subitamente e já ia desferir um golpe, mas pouco antes, como se fosse no mesmo instante, fora atingido por uma fina lança, cuja ponta se cravou em seu ombro direito. Igórum e Naen só tiveram tempo de ouvir um rápido corte do ar. Cresmir gritou e caiu na água. – Em guarda! – Igórum ordenou para que os guerreiros ouvissem. O raco alarmou-se e saltou sobre Igórum. Naen interceptou a fera no ar, partindo-a ao meio. Igórum (que tinha se esquivado) olhou assombrado para as duas metades de carne vertendo o sangue roxo, tingindo a água. Vários outros racoé se aproximaram, correndo de quatro entre as raízes. Os olhos negros brilhavam. Então viram outra espécie de animal se aproximando em bandos. Enormes corpos eretos e peludos de pescoço muito largo, quase contíguos com os ombros saiam detrás das árvores: os nubdaié. Os soldados se organizaram se dispondo em círculos contornando a nave. Outro flanco seguia rapidamente a onde eles estariam. Os três recuavam cautelosamente, de espada erguida. Cresmir tinha retirado a lança com o braço esquerdo. Uma tropa chegou até eles. O ataque começou por todos os lados. As espadas começaram a cortar o ar e a carne dos racoé, como se fosse a mesma coisa. Todo o exército estava sendo atacado e ouvia-se por toda parte o som de corpos tombando nas águas. Os passos dos nubdaié retumbavam. Ginchos, berros, urros. O solo estremecia. Milhares de nubdaié saiam das matas segurando toras, as quais usavam como clavas ou lanças. Os racoé corriam e saltavam de cima das árvores. Esabarrearaé defendiam a nave, exaustos. Se não fosse pela interação deles com o metal no Traud-Rópi, teriam morrido no primeiro minuto.
Alguns estavam com tanta sede e fome que beberam da água tinta de sangue. E nesse momento breve de desatenção, eram mortos. Após uma hora, milhares de nubdaié e racoé tinham morrido e seus corpos se amontoavam, cobrindo todo o charco de sangue e carne. O odor impregnou o ar húmido. Era difícil respirar aquele ar espesso. Mas os es-abarrearaé pareciam imortais. As feras já engajavam no combate assustadas. Entretanto, não obstante o incontável número de feras que já tinham sido mortas, da floresta continuavam a surgir. Tantos! Alguns es-abarrearaé desistiam e se entregavam para a morte rápida. Num suicídio violento. Mas seus berros de dor mostravam claramente que se arrependiam dessa decisão sem retorno. Berros que instilavam mais um suspiro de determinação nos es-abarrearaé que ouviam. Foi desse jeito que a batalha durou. E durou muito! O dia escurecia e já um décimo dos gaussoctir havia perecido. Não imaginavam que também um décimo da população de todo o mundo dos racoé e nubdaié havia morrido ali, igualmente. Não havia um tripulante na nave que fosse capaz de segurar uma espada que não estivesse banhado de sangue da cabeça aos pés. Já não havia água no charco. Andavam sobre os corpos e poças de sangue. O Sol azulado de Uquir brilhava opaco, relutante, e começou a se esconder atrás das árvores. Só um assistia a tudo pelas janelas da espaçonave. Apoeno, o único ancião entre eles. Via horrorizado toda esta cena de carnificina. Não que nunca tivesse presenciado tal, pelo contrário. Por ser um cientista tão importante sempre esteve por trás de todos os conflitos ao longo de seus dois mil e quinhentos anos, desenhando armas, calculando estatísticas, desenvolvendo estratégias. Participara de guerras de maiores magnitudes. Mas haviam acabado de aterrissar, após dois anos de dúvidas e sofrimentos no interespaço, tendo escapado da Querela de EsAbarre. E já estavam ali, derramando sangue outra vez. Será que os es-abarrearaé estavam fadados a serem os sangradores de Idi? Ele desviou os olhos da batalha neste pensamento e olhou para o Sol de Uquir. Teve a impressão daquela janela por onde observava a batalha que o Sol de Uquir morria. Um gelo se espalhou pelo seu ventre e sentiu uma forte opressão no peito. Era a compreendsão de que se fosse assim, isto é, se não fosse apenas impressão, mas que se fosse isso mesmo, que o So lde Uquir estivesse se apagando, aquela batalha não importava... Dando as costas à janela, foi ao seu alojamento, aos seus instrumentos astronômicos e imergiu em cálculos enquanto os guerreiros imergiam em sangue. Lá fora no charco, nuvens começaram a se juntar no céu sobre eles. Começou a chover forte. Som da chuva era mesclado com o da batalha, e até abafavam muitos gritos de dor. Embora o odor férreo de sangue baixasse, o rabujo podre não se dissipou. As copas das árvores não podiam ser vistas, tão densa a chuva. Igórum à frente dos soldados escutou o grito grave e forte, distante, vindo de além do campo de batalha: "Dumbaréri". Ele olhou para onde vinha o som, e escutou novamente o grito. "Dumbaréri". Isto significava, em ibimarain, "líder". Naen estava próximo e ouviu também. – Capitão, aguça os ouvidos. Eu acho que ouvi uma fera gritar"dumbaréri". "Dumbareri", líder, em ibimarain. Então eles ouviram no idioma de Ibimará a fera gritar "Líder, eu não faço mal. Quero falar. Quero fazer trato. Sou líder". Naen chamou Cresmir e caminharam os três até onde a voz vinha, abrindo caminho matando qualquer fera que aparecesse na frente. Viram após umas árvores e arbustos uma rocha mais alta que um nubdai, da largura de uma pequena casa. De ambos os lados vinham feras para a batalha, mas na frente e no meio da rocha, três racoé estavam parados quase encostados nela. Um deles era o que gritara e acenou chamando. – Dizei o que quereis antes de morrer – ameaçou Cresmir. – Falar, líder. Quer perder a briga? Homem está perder briga, e cansado, tudo morte, homem, raco, nubdai. Só tempo. O raco falava ereto tendo as mãos de garras uma sobre a outra frente as coxas, com os braços abaixados. Apesar de a fera não dominar bem o idioma, o que eles ouviram era o suficiente. Cresmir iria matá-los, mas Igórum o impediu. – Diz – disse Igórum ao raco –, fala tudo agora. Por que nos atacais? Nada vos fizemos. – Homem não é Uquir. Raco pensa homem Uquir e começar luta. Erro. Homem não para luta, raco não para luta. Nós quer morte os nubdai, eles é mau com nós. Nós pode viver tudo aqui, em TraudRópi sem nubdai. – Posso matar-te facilmente, como posso saber se falas a verdade? – perguntou. – Pode morte, e tudo, raco, homem, nubdai morte. Raco e homem vive em Traud-Rópi, morte só nubdai. Raco com homem morte nubdai aqui. Briga fim. Homem novo, raco velho em TraudRópi. Raco mostra Traud-Rópi, homem mata nubdai. Mata Uquir. Raco e homem morte nubdai aqui. Não trato, tudo morte. Tem muito raco e nubdai vem de árvores.
Igórum olhava para eles, pensando. Cresmir já estava resolvido a em fechar o acordo. Não que imaginasse os racoé como aliados... Rapidamente se formou em sua mente: assim que estivessem estabelecidos, continuariam e exterminariam qualquer espécie de feras que lhes ameaçasse a segurança naquela lua. Os três racoé esperavam a resposta. A batalha continuava. Igórum olhou aqueles três líderes... tal como eles. Este detalhe lhe tocou. Certamente era proposital. Enfim Igórum se deu conta e aceitou que aquelas criaturas não eram animais, ou "feras". Eram duas espécies diferentes de iacoir, uma que não fora gerada pelos três Mundos Primordiais. Igórum quis interromper a batalha imediatamente, já estava decidido (mas permanecia calado entre Naen e Cresmir, mergulhado nessas reflexões). Naen acordou Igórum: – É a única maneira. Se não o fizermos, morreremos – disse em um dialeto es-abarrein, que os racoé nada entendiam, por isso escutaram desconfiados. – E se estas feras nos traírem depois, será mais fácil abatê-las sem os nubdaié. Cresmir não quis entender nada do raciocínio de Naen. Somente ouviu que ele concordava e falou: – Naen está certo, Capitão. Viram naquele momento os nubdaié passando para a batalha carregando pesadas toras das mãos. Usaram-nas como maças. Quando os soldados viram esta tropa tremeram, e muitos sem saber como lutar baixaram a guarda e caíram. Outros golpearam a madeira, mas a parte solta caía sobre eles, esmagando-os. Também havia alguns que tentavam esquivar-se dos lentos golpes de tronco dos nubdai, mas com essa perda de tempo, racoé agarravam-se neles e os matavam. Não havia pensamento, não havia defesa. No círculoque eles formavam mais próximo da nave havia poucas feras, mas os nubdaié de longe lançavam pedras contra eles; apesar de os esabarrearaé poderem cortá-las, eram grandes e pesadas, além de virem velozmente do alto, tal que ainda divididas ao meio os fragmentos os fulminavam. Muitas pedras atingiam a nave, porém apenas sua fuselagem se amassava. Terrível era o estrondo produzido do lado de dentro. Os tripulantes lá dentro (a maioria feridos sem condições de retornar a lutar) esperavam que a qualquer momento entrassem feras e acabassem de vez com eles. Milhares de es-abarrearaé estavam morrendo naquela investida dos nubdaié. – Tempo é morte – falou o raco. Igórum, meio àquele grande tumulto, não quis pensar mais e nem tinha disposição e ânimo. Debaixo de chuva, Igórum falou: – Estamos de acordo. – Falar com seus líder. Falar com meus líder. "Racoé aliados, lutarão conosco!" Cresmir recuou com Naen e repetiu a mensagem aos capitães. E se repetiu nas bocas dos outros como eco, até chegar a todos o aviso. Os dois racoé saíram gritando em um idioma gutural, saltando entre as árvores como se fossem panteras. Suas palavras foram seguidas de milhares de racoé em rápida marcha vindo da floresta, como se estivessem aguardando o comando. Eles pulavam três a três nas costas dos nubdaié e os matavam numa fúria inacreditável, cravando repetidas vezes suas garras profundamente na carne dos gigantes, com uma ira acesa. Em Idi falavam "feras de guerra", referindo-se a um animal selvagem usado pelos uquiraraé nas batalhas. Eram os racoé. Jamais pensavam que tais bestas eram iacoir. Já os nubdaié, nem o Império ousava escravizar. Nem menção a esta espécie se fazia por toda a galáxia. E ambas eram originadas dali, desta terceira lua de Ganimede. Provavelmente uma guerra entre raco e nubdai ambos se exterminariam. E de fato essa guerra nunca acontecera no TraudRópi por as partes temerem isso. Quando a chuva sobre o charco principiava a estiar e já era noite, não mais saiam nubdaié dentre as árvores e o último no campo foi finalmente abatido. Um es-abarreara desferiu o último golpe daquele dia. Um crematório. Um crematório tal como foi feito em Es-Abarre, que incinerou os mortos na Última Guerra das Dinastias. Amontoaram terra no pé da rocha onde foi feito o acordo. Lá puseram fogo em madeira e óleo; quando ardia como fornalha, começaram a lançar os corpos encharcados de água e sangue. Enquanto o charco era limpo, os racoé e uma parte do exército dos es-abarrearaé comandada por Simbin foi para o Vale dos Nubdai, pois os racoé queriam exterminar toda aquela raça. Cresmir os acompanhou a fim de observá-los. Somente dois dias depois, ao entardecer aquele exército retornou. Haviam exterminado todos os nubdaié do Vale, os velhos, fêmeas e filhotes. – Havia uma espécie de cidade, dividida em imensas aldeias de tribos no mais amplo vale que já vi – disse Cresmir a Igórum, Apoeno e Naen –, invadimos outras aldeias dispersas. Encontramos milhões deles. Estavam desprevenidos e nós os destruímos. Só restaram cerca de quatro tribo deles, que os racoé disseram habitar nas montanhas e do outro lado deste mundo. – Nossos homens estavam exaustos e famintos – disse Simbin. – Mas pude verificar em nossa marcha que este satélite é muitopequeno, como o Senhor Apoeno disse. Acho que em uns oitenta dias em passo reto poderia ser contornado no diâmetro maior. – E o que ficou decidido com os racoé? – Naen quis saber. Um raco estava próximo e, ao que parece, compreendeu o que Naen perguntava. Ele chamou um outro, o mesmo que propusera o Motiron. – Tem muito nubdai. Montanhas e longe-longe. Raco casa em Traud-Rópi. Homem casa em Traud-Rópi. Raco com homem morte nubdai sempre, caçar nubdai. – Não devemos exterminá-los – disse Apoeno no dialeto desconhecido aos racoé. – Agora que estão reduzidos não vejo ser necessário. E talvez um dia poderão ser úteis aliados. – Não sei se serão boas as conseqüências de deixá-los vagando por este mundo, enquanto tentamos nos estabelecer aqui – falou Simbin. Igórum estava pesaroso. – Idi inteira não faz ideia... Eles são de mente expansível. São iacoir! – E por isso serão sempre um perigo para nós – argumentou Cresmir. – Se animais não se vingam, iacoir sim! Es-Abarre é muito maior que este mundo, e apenas uma espécie de iacoir andava lá. Aqui são três... numa lua. Eles serão sempre uma ameaça; não podemos deixá-los se multiplicarem nas montanhas. – Serão ameaça se também o formos para eles – argumentou Naen. – Deixemos os racoé cuidarem de seus inimigos – falou Simbin. – Agora, se eles quiserem, estão em maior quantidade para isso. Cresmir preferiu não falar mais. Era muito óbvio para ele. – Será feito assim – disse Igórum em ibimarain para o raco. – Não iremos atrás dos nubdaié. Se eles vierem contra nós ou contra vós, lutaremos juntos de novo. – Não bom trato. Nós não fazer nada para homem, bom e mau. Não falo nada para raco. Eles fazer o que quer, bom e mau, se homem não vai com nós morte nubdai. Cresmir deu um sorriso cético para Igórum, querendo lhe alertar. – Poderíamos aprisionar os nubdaié – Igórum falou, querendo saber o que seus conselheiros achavam. – Uma prisão, senhor? Outra prisão para encher de ódio? – sussurrou Apoeno. Igórum finalmente concluiu: – Será assim – confirmando o que dissera antes, falando para o raco. – Aqueles racoé que quiserem nos atacar, contra eles lutaremos. Aqueles que quiserem ser amigos, assim serão. Bem como os nubdaié. Caso eles vos ataquem, então lutaremos. O raco demonstrou estar muito contrariado, pôs-se sobre as quatro patas e retirou-se com seu bando dando-lhes as costas sem mais palavra. Milhares de feridos eram tratados naquelas obscuras e prolongadas noites. Os es-abarrearaé se abrigavam na nave arruinada. Eles encontraram uma planície não muito distante do Charco, e lá iniciavam a construção de casas de madeira. Nas madrugadas, ouviam o som distante de batuques compassados e nauseantes que as feras tocavam de suas habitações ainda mais longínquas a se misturar com o som da chuva fina que retornava sempre que era noite. Dias de muito trabalho se seguiram, para construir casas, tratar dos enfermos, colher frutas e caçar animais. Após duas ou três semanas, várias casas tinham sido edificadas e mais da metade da tripulação já habitava nelas. Num perímetro próximo crescia uma vegetação baixa. Ali verificaram que o solo, se devidamente cuidado, seria bom para o cultivo de grãos; além disso, apareceram uns racoé que viram os es-abarrearaé preparando o solo e se ofereceram a ajudar, mostrando onde havia nascentes de rios e bons adubos, além de levar a eles sementes de frutas e grãos nativos. Vários racoé resolveram morar com eles. Graças a eles, os esabarrearaé tiveram um progresso extraordinário. Não passaram grandes necessidades. Mas a vida era diferente. Não era do jeito que queriam que fosse. Certo dia, uns racoé de uma raça diferente fizeram tentativa de invadir o arraial para saquear e matar. E por terem sido confundidos com os racoé do arraial, passaram quase despercebidos e foram os próprios racoé que lutaram contra eles e defenderam os esabarrearaé. Num destes assaltos os racoé do araial se feriram e dois es-abarrearaé foram mortos. Isto levou a muitos a deixarem crescer seu temor contra qualquer racoé. – Eles devem ser executados. Jamais deveríamos ter nos aliado a eles. Pena que não os matamos quando podíamos – disse Cresmir no conselho que tiveram para cuidar do assunto. – Se não tivéssemos nos aliado não sei se estaríamos vivos. Estávamos sendo derrotados pelos nubdaié – falou Simbin. – Eles são muito inteligentes, mais que alguns humanos e só são selvagens porque o querem ser. – Então porque os chama inteligentes? – disse Naen. – Disse isto porque procurei me relacionar com eles, até tenho aprendido seu idioma. Disseram-me que existem diversas tribos deles, até mesmo rivais e lutam entre si. Duas tribos inteiras estão conosco no momento. Eles têm nos auxiliado muito e estes nada têm a ver com a raça dos racoé que nos assaltaram, são de uma tribo selvagem próxima das montanhas. Eu já reservei parte dos homens para guardar os limites do arraial, com ordem de abater qualquer criatura hostil que nele adentrar. E como prova de sua fidelidade, metade dos racoé que estão conosco estão guardando nossas fronteiras. Eles podem reconhecer logo quando algum raco se aproximar se ele é de uma tribo inimiga. – Deves ter muita cautela nisto, Simbin – falou Apoeno. – Acho que foram atitudes de comando muito organizadas, mas deves ter os olhos bem abertos e diariamente ouvir teus homens de confiança relatar o comportamento destes selvagens. – Não somos a espécie dominante no Traud-Rópi... – falou Naen, deixando a frase sem fim, porque para ele, bastava. – Que fique assim – resolveu Igórum. – Nenhum raco entrará em nosso território sem ser reconhecido e alistado. Não permitas que qualquer um dos nossos nem deles saiam sem saberes o que farão. – Senhor, se não tomarmos atitudes mais duras vamos ser aniquilados aos poucos – reclamou Cresmir. – Talvez. Vamos aguardar. Se ocorrer mais algum assalto ou se for notado algo suspeito neles, fechar-nos-emos aos racoé e ouviremos mais tuas opiniões sobre o assunto, Cresmir.
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A Ordem dos Reis - O SER PODEROSO
Ficção CientíficaA guerra do planeta Es-Abarre se tornou devastadora. Os sobreviventes do genocídio escaparam, fugindo desesperados do Império de Uquir numa espaçonave nunca testada. Só lhes restou um destino: Traud-Rópi, uma lua abandona...