VI

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Acordo tossindo, meio resfriado. Um pouco tonto do vinho de ontem. Olho no relógio, já são 10:00 horas. Ainda bem que hoje não tenho aula, assim não saio prejudicado. Esfrego as costas das mãos em meus olhos. Fico sentado na beirada da cama com os cotovelos sobre os joelhos, refletindo por um momento. Repentinamente vejo tudo voltando; aquela velha saudade, aquela metade de ódio, e outra metade que luta para se decidir o que é, será que é amor para um vida todo, ou só uma paixão por uma mulher?

Será que é amor? Amor é uma palavra tão pesada, que, acho idiota da minha parte usa-la sem ao menos ter sentido de verdade. Será que a definição de amor, era mesmo tudo aquilo que eu disse? Amor é bem mais que uma grande dor que rasga seu peito quando transforma em saudade; amor é o que vou descobrir se realmente é.

Calço meu chinelo que está debaixo da cama, e vou arrastando meu corpo preguiçoso até o banheiro. Abro o armário, tiro minha escova de dentes, quando o fecho, vejo meu reflexo no espelho, sinto que, tudo aquilo foi ilusão. Agora tirei minha conclusão; não vale a pena desfrutar de algo que pode não se ter amanhã. Mas se for assim, por que continuo vivendo se sei que vou morrer?

Volto para meu quarto; vejo que está tudo uma bagunça. Começo organizando de pouquinho em pouquinho, tiro o lixo debaixo da cama, as coisas que não uso mais das gavetas, quando meto a mão em um livro velho e o deixo cair aberto no chão. Dele sai aquelas pétalas secas de tulipas azuis. Naquele momento sou lavado por um momento de nostalgia; aquela roupa, aquela noite, aquele beijo, foi tudo tão... incrível. Ainda não entendo o porquê de me sentir mal com isso tudo. Sento na cama e entro em um estado de reflexão, as coisas que estava arrumando, deixo tudo como está. Fico olhando os pedaços do que restou de uma flor, que são também pedaços de uma lembrança. Olho para essas pétalas como se fossem sua pele, me recordo de todo contato que tivemos um com o outro; a tendência é piorar.

Recebo um torpedo de Aline dizendo que já está indo. Meu coração dispara ao pensar que não a terei mais por perto. Mas são assim que as coisas funcionam, por isso não podemos nos apegar muito; o problema é que já vivo nessa fantasia antes mesmo de conhece-la. Eu sou um fodido.

Sempre tive tendência a ter sérios problemas emocionais, surto com grande facilidade, sinto saudade um ano antes da despedida. Tudo em mim é exageradamente exagerado, acabo sentindo por mim e todos que estão a minha volta. Quando acontece algo assim, eu me perco, fico sem chão. Ao menos não estou sozinho, tenho os papeis e a solidão para me fazer companhia.

Acabei esquecendo de arrumar toda aquela bagunça; a maior estava aqui dentro de mim. Ponho um pouco de café em uma xícara, e tomo sem senti-lo queimando pela garganta. Arranco umas folhas de papeis de um caderno velho, e me disponho para um desabafo comigo mesmo; eu sou minha única companhia. Aproveitando que estou passando por uma tempestade que está desmoronando toda minha estrutura, faço do sentimento ruim o meu melhor sentimento, e da dor, minha melhor amiga.

Fecho meus olhos e deixo o ar que me rodeia ser inalado de uma forma lenta. Procuro as palavras certas para descrever meus sentimentos, mas penso mais do que devia e acabo não fazendo nada. Esse também é outro problema, eu penso demais. Penso tanto que chega a ser como um gás tóxico; ele cobre todo meu consciente e não permite que saia algo produtivo. Seria novidade ter algo de tirar proveito vindo de mim. Mas quando abro os olhos... agarro a caneta rapidamente e começo a relatar os primeiros traços de uma história que mal teve início, iniciando aqui, um dos 365 poemas de inverno:

"Afinal, todo sol se vai no final

Toda festa acaba,

Toda lágrima seca

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⏰ Última atualização: Jan 09, 2017 ⏰

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365 Poemas de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora