A sexta feira chegou enfim poderei ter o final de semana para por os pensamentos em dia, estou cansado, a rotina da semana foi bem puxado, pela manhã faculdade, depois do almoço mais estudo compartilhado e perturbado com Alex, chegando em casa ainda tinha as atividades atrasadas de um mês de aula para por em dia, chegava hora de dormir meu corpo só pedia descanso, e ali estava eu indo para o ultimo dia de aula naquela semana. No ônibus foi pensando um pouco em todos estes últimos acontecimentos, novos colegas, foram tantos que nem tive tempo para chorar a perda dos meus pais, na verdade chorei sentindo não a perda em si, mas sentindo a insegurança, de não ter meu lar, meu futuro seguro com meus pais ao meu lado mim apoiando e me dando força para seguir em frente, agora eu teria que amadurecer ou sofreria muito mais. Graças aos ensinamentos deles eu posso segui em frente mesmo tropeçando e se sentindo fraco ou desencorajado. Minha mãe sempre me dava um abraço e me confortava em seu colo, ainda lembro quando ela me alisava os cabelos e fala do dia em que eu iria deixar nossa casa para morar com minha futura esposa, e eu dizia que isso não iria acontecer, pois eu nunca os deixaria, e começava a chorar e ela sorria, pois já sabia que não era bem uma opção minha, mas uma consequência da vida, um dia eu iria deixar o ninho e voaria para outros lugares. Então ali estava eu indo para a faculdade deixando para trás um lá que não era meu, uma mãe que não era minha ao encontro de um futuro sem dono.
Ao chegar no campos, e vendo toda aquela movimentação, avisto de longe o carro de Alex, e ao lado, ele está com sua namorada, ele me ver e eu o vejo, ele parece serio, mas sem sua cara irritada de sempre, eu procuro não olhar muito e sigo em frente, e avalio que nós podemos ter dias de trégua, o motivo de seu comportamento pacifista ainda é um mistério para mim, mas receber sua mensagem de desculpas, procurar meu tio para pedir meu telefone, ainda tarde da noite, me fez pensar que talvez poderemos ter nossas aulas a tarde sem conflitos. Fiquei aliviado, teria paz de espirito e menos irritação. E creio que minha resposta deve ter lhe mostrado que não estou querendo mais rivalidades, e assim esperava ter colocado um ponto final, e assim poderíamos recomeçar.
Ao chegar próximo a sala duas mãos pequenas e frias cobre meus olhos, seguro as mãos, não consigo lembrar quem poderia ser, senti que eram femininas, pelo doce cheiro de hidratante e claro perfume feminino, preferi não arriscar e fazer papel de bobo.
─ Ok, desisto.
─ Só uma dica, te acho mais gato do que o irritadinho.
Sorri, então seu nome ainda pouco presente em minha memoria veio aos poucos.
─ Alicia?
─ Claro seu bobo, quem mais poderia ser? – Ela me livra e sorrindo me vira.
─ Poderia ser a Ariel...
─ Ela gosta do Filipe...
─ Sério? Nossa como sou lento... – Sorrimos e entramos, ela parecia bem feliz, cabelos longos uns dez centímetro menor que eu, rosto fino, e sorriso radiante, olhos vivos, bem o estilo de garota que eu gosto, mesmo assim, a Ariel já estava de olho noutro, e na turma eu não tinha visto mais ninguém interessada em mim ou pelo menos se mostrou assim.
Logo depois Filipe chegou acompanhado de Ariel, realmente o par estava feito, ele foi mais esperto, chegou junto e já foi intimando.
─ Cara a gente não se encontrou nenhum dia depois das aulas, digo a noite para comemorar sua entrada na faculdade, acho que a gente deveria sair amanha com as meninas e faríamos um comemoração completa, o que acham?
─ Genial... – já foi adiantando Ariel.
─ Estamos dentro, né Luquinhas? – Alicia já colocando diminutivo no meu nome.
─ Pessoal seria ótimo, mas ainda não me sinto pronto para festas...
─ Meus... Desculpe amigo, meninas acho que vocês não sabem...
Ele contou para elas sobre o acidente dos meus pais, em seguida a aula começou, junto com o professor entraram o restante dos alunos, Alex e seus amigos em seguida, ele me olhou rápido e foi para seu lugar de onde conversava com Eliza. A turma foi pega de surpresa com uma prova surpresa de Bioquímica, minha sorte foi que eu tinha revisto este conteúdo atrasado com Alex no dia anterior e concluído em casa, ao receber a prova me espantei com o tamanho, e assim como a turma toda entenderam o aviso antecipado do professor ao dizer que terminando a prova poderíamos ir em bora. Bem, procurei fazer a prova com calma, afinal teríamos todo o horário da manhã, menos uma hora, e não teríamos intervalo. Pode parecer exagero meu, mas a prova constituía de três etapas, interpretação de formulas, resolução dos problemas e finalizava com a troca de avaliações onde iriamos fazer um relatório da prova do colega e apontar os acertos e erros de cada resultado, só assim estaríamos livres. Em seguida ouvia se os alunos reclamando que aquilo não era justo, e coisas do tipo. Olhei em volta e vi Filipe e as meninas de cabeça baixa, pareciam concentrados, desejei que eles estivessem preparados. Olhei para frente a esquerda e vi o Alex também concentrado.
Por coincidência eu e Alex fomos os primeiros a termina as duas primeiras etapas, o professor pegou nossas provas e trocou-as nos devolvendo. Deveríamos fazer numa folha a parte que seria grampeada à prova, não poderíamos fazer nenhuma modificação. Mais algum tempo para analisar as respostas do Alex, preparei o relatório, e nesse intervalo de tempo nem percebi, quase todo mundo já estavam nesse mesmo processo, terminando entreguei ao professor, e fui para a lanchonete, estava com fome e cansado, já eram quase dez e meia, acho que me sai bem. Procurei um local mais ventilado, interessante que a lanchonete estava praticamente vazia naquele horário. Pedi um lanche acompanhado com suco natural, enquanto esperava peguei minhas anotações de estudo e fui ver se as questões batiam com o conteúdo, nisso escuto uma voz familiar fazendo um pedido a menina do balcão, ergo a vista e vejo Alex, ele está de costas para mim, depois do pedido procura um lugar e fica de frente, me olha, mas não faz nenhuma expressão, eu para respeitar o silencio dele, baixo minha vista de volta ao caderno, meu pedido chega, e começo a comer, meus olhos ao erguer para visualizar a bandeja encontra os dele, mas os desvia em seguida. O que ele queria com aquilo não sei, mas eu não sabia o que me incomodava mais, o fato dele ficar me olhando, ou eu não conseguir controlar para onde olhava, uma das lições do meu pai era de que não devemos fugir dos desafios, sendo eles positivos para nosso crescimento, contudo devemos evitar todos os desafios que nos leva ao fracasso, lembrando do meu pai, eu mudei de cadeira, mas não dando as costas, apenas de lado, olhando para a rua.
Quando eu estava perto de sair, chegou Alicia acompanhada de Ariel, sem perguntar sentaram na minha mesa, como se fossemos velhos conhecidos, a vontade.
─ Nossa Daniel, como você foi rápido, o que aconteceu? - Perguntou Ariel erguendo a mão para a moça da lanchonete.
─ Luquinha, já sei que vou colar em você, vamos estudar juntos. – Alicia falou antes de dá tempo de responder a pergunta de Ariel.
─ Só tive sorte pessoal, estudei este assunto ontem... – nisso olho de lado e vejo Alex comendo, olhando para frente, ou seja, para nossa mesa.
─ Grande Daniel.... Não falei meninas que ele era fera... – Chegou o Filipe todo animado.
─ Não sei como você vem todo animado depois de uma prova dessas... – Ariel falou tirando sua mochila da ultima cadeira do lado oposto, onde eu estava a principio.
Esperei eles lancharem e depois fomos para o ponto de ônibus, lá ainda esperamos alguns minutos antes do meu ônibus passar, enquanto isso Filipe pediu para nos trocarmos telefones para criar um grupo no WhatsApp, foi ai que todo se espantaram quando tirei do bolso meu pretinho. Não acreditaram...
─ Como assim você não tem um 'smart', cara desculpe, mas não é por falta de grana né? Perguntou Filipe todo natural e sem vergonha, até achei legal, ele era direto.
─ Não cara, é por que eu nunca fui ligado nisso, mas podem pegar meu telefone e precisando passem uma mensagem...
─ Não senhor, você vai comprar um e se quiser eu posso ir junto para te ajudar a procurar um modelo bem legal, o que acha?
─ Valeu Filipe, depois vejo isso, sério amigo, isso não me incomoda...
Logo passou o ônibus de Alicia, e depois Filipe ofereceu carona para Ariel que nem fez cerimonia. Fiquei só, o sol naquele dia parecia mais quente do que todos os outros dias. E claro, como era de costume, Alex passou do meu lado, ia apenas com Eliza no carona, ele me olhou, sério, mas desta vez ele fez uma breve reverencia com a cabeça, tão sutil que quase não se notava, depois olhou pra frente e seguiu viagem. Foi tão rápido, coisa de um segundo ou menos, que fiquei sem reação.
Realmente algo estava mudando.
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O Príncipe e o Plebeu
Short StoryAlexander Gonsalves Junior é filho de um mega empresário, enquanto Lucas Daniel um garoto humilde que está tentando reconstruir o que sobrou de sua vida, depois que seus pais morreram em um trágico acidente. O caminho dos dois se cruzam ao se verem...