Sempre fui uma pessoa desastrada. Tenho todo o tipo de acidentes domésticos e por isso mesmo tem épocas que "pareço Cristo na cruz" palavras da minha mãe. Uma queimadura no pulso porque mesmo usando a luva de cozinha me queimei no forno, um corte num dedo porque ao cortar o pão a faca fugiu-me, uma crosta no joelho porque de noite às escuras fui contra a barra do final da cama... Não há nada, bem, pensava eu até há uns minutos atrás, que possa acontecer de pior comigo, pois já me aconteceu de tudo um pouco dentro da minha própria casa. Como se veio a provar, quando a gente pensa que alguma situação não pode piorar, a vida trata de ir buscar algo que nos prove o contrário e nós meros humanos temos que entender que não temos controle nos azares da vida, porque se fosse assim, o que seria da sorte?
Quando tocaram à minha campainha, eu corri até ao interfone, pois sei que se for alguém dos correios não vai esperar. Como previsto era mesmo o homem dos correios que tinha para mim uma encomenda. Um livro que comprei na Amazon. Fiquei contente por ver nas minhas mãos o livro físico. Tinha lido em E-book e demorei consideravelmente muito tempo, tendo em conta o tempo que gasto com o meu trabalho.
Foi então que comecei a sentir o cheiro a queimado e me lembrei dos ovos mexidos que estava a fazer, mesmo antes do estafeta me tocar à campainha. Culpabilizo-me mil vezes por ter queimado o meu próprio pequeno almoço, por quase ter incendiado a casa e por ser tão despassarada. A minha mãe provavelmente me perguntaria porque é que eu não comia pequenos almoços normais, como torradas e um café ou algo assim. Eu responderia-lhe mais uma de tantas vezes que não gosto de café, facto que ela é incapaz de registrar em sua mente e lhe diria que eu gosto de hábitos britânicos. O pequeno-almoço é a refeição mais importante do dia. De toda a maneira, com a sorte que tenho iria acabar por queimar as torradas se as fizesse.
Como não estava com paciência para fazer de novo, passei por a pastelaria da minha rua e entrei com o objectivo de não demorar muito. Apesar de ainda ter tempo, é sempre nos momentos que penso isto, que depois quando pego no carro algo me atrasa, o tráfego, ou sinais vermelhos que demoram um infinidade de tempo a ficarem verdes...
Quando entro na pastelaria vejo Álvaro sentado numa das cadeiras de balcão. Quando me aproximo sinto-me enjoada. O cheiro de café misturado com cheiro a tabaco nunca há-de ser um bom cheiro.
- Bom dia, Álvaro. Pensei que tivesses deixado de fumar - digo. Não tenciono soar reprovadora, ainda que esteja desiludida por o meu melhor amigo tornar a um hábito horrível.
- Porque fizes-te aquilo, Phoebe? - sim, eu sei do que ele está a falar. Sinto-me mal por desde esse dia não ter mais falado com ele. Bastaria uma ligação.
- Eu peço-te imensa desculpa, Álvaro.
Explico-lhe tudo até com pormenores, inclusive que Marcos está a trabalhar como modelo para As poderosas e que Joana, uma colega de trabalho parecia interessada nele. Conto mesmo tudo que diga respeito a Marcos e deixo de parte Aragão. Apesar de tudo ele não precisa saber que aquele homem causa em mim sensações tão... carnais? Talvez Álvaro shipasse na hora, mas eu não me sinto preparada para falar sobre isto, nem com ele.
Quando termino, isto ao mesmo tempo que bebo o meu leite com chocolate e como uma torrada feita de pão integral, ele suspira. Vejo que ele não está mais chateado comigo e fico alivíada por isso, mas não parece estar mais feliz do que estava quando entrei na pastelaria.
- Eu gosto dele - eu sei que ele fala de Luís, o namorado que lhe atirou um limão à cara por eu o ter beijado - Mas ele não quer acreditar em mim. Não me dá tempo de explicar. Ele não deixa.
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O pretendente perfeito
General FictionColunista na rúbrica de conselhos na revista feminina "As poderosas", Phoebe é uma jovem de 26 anos que atingiu os seus objetivos profissionalmente, porém a sua vida social resume-se à sua gata e ao seu melhor amigo. A sua vida amorosa é inexistente...