2 - Quem vai ao ar perde o lugar, quem vai ao vento perde o assento

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Lá porque actualmente a minha vida amorosa é vazia, não quer dizer que nunca tenha me apaixonado na vida. Eu já me apaixonei, sim. Por essa pessoa à minha frente que continua com duas meloas, uma em cada mão.


Eu gostei dele ainda eramos dois garotos e viviamos no Bairro das Tulipas. Andavamos juntos de bicicleta, íamos juntos para a escola e as nossas mães faziam tapeçadeiras juntas. A minha mãe trouxera esse negócio para o Recife, quando emigrara para o Brasil. A mãe de Marcos fôra a única aderente e assim se tornaram melhores amigas. Engravidaram praticamente na mesma altura e então posso dizer que conhecia Marcos desde que me conhecia por gente.

Certo dia, não sei porquê, os Albuquerque foram-se embora e eu não soube mais nada de Marcos. Mandei várias mensagens sem retorno até que certa altura, desisti.

E nunca mais o vira até agora, precisamente agora que ele estava apalpando as meloas para ver se elas estavam boas.

Estava eu imaginando o que Álvaro me diria se visse este momento acontecer, ele, que é bastante malicioso neste tipo de circunstâncias, quando Marcos abre a boca e as suas cordas vocais produzem o som de sua voz. Eu já não conhecia aquela voz. Embora os traços de criança continuassem lá, ele mudara e a voz engrossara muito mais do que eu havia imaginado.

- Phoebe Franco!

De repente um sorriso surge progressivamente em seu rosto. Não pude deixar de avaliar aquele sorriso numa escala de zero a dez. Decididamente, ele estava bem no dez, no quezito beleza. É duro ter que admitir tal fato. Eu preferia que ele tivesse engordado e se tornado um homem nada charmoso, mas esse homem à minha frente esbanjava charme por todos os poros.

Ele pousa as meloas no carrinho das compras e vem ter comigo do outro lado das caixas de fruta.

- A conselheira amorosa mais famosa do Brasil! - declara - Estou contente por vê-la.

Ele está sim, mas será que eu estou? Apercebo-me que estou petrificada olhando para ele.

Tinhamos dezoito anos, quando o vi pela última vez. Oito anos tinham-se passado e agora aqui está ele, constatanto que eu sou uma mulher de sucesso e bem resolvida profissionalmente. Nada que eu não saiba.

Eu simplesmente não sei o que dizer. Não ainda. Então deixo Marcos falar. Não compensa estes anos todos em que não fôra capaz de mandar sequer uma mensagem, mas eu estou curiosa com o que ele tem para me dizer.

- A minha mãe tem todos os seus livros e não falha uma publicação da sua revista.

Não me admira. Cleide sempre adorara revistas femininas. Lembro-me perfeitamente da pilha de revistas, que ela tinha sempre na mesinha da sala: revistas de culinária, de tricô, de costura, de pronto-a-vestir e mais uma parafernália de variados temas.

Indo ao ponto... Que cara de pau!

Ele foi-se embora sem nunca mais dar sinais de vida e quando me vê age como se nada se tivesse passado? Como se fosse um feliz encontro casual?

Pouso o cacho de bananas no meu carrinho de compras e apanho fôlego. Ele não se apercebe. Por momentos penso que ele me vai interromper, mas pelos vistos ele também tem curiosidade sobre o que eu tenho para dizer.

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