Capítulo 4 - Descoberta terrível

26 3 2
                                    


Eu não lembro quando (nem como), mas quando dei por mim, já estava naquele piso de mármore, em frente ao portão dourado que levava até aquele lindo lugar, mas isso já não tinha a menor importância para mim..

Gabriel tentou me dizer palavras animadoras, mas eu mal as ouvi: estava absorto na minha tristeza. Ele então me mandou atravessar o portão e entrar no lugar, e eu simplesmente obedeci. Sequer me passou pela cabeça perguntar na hora, por que ele não poderia entrar também..

Entrei no lugar e deitei na grama, fiquei observando o céu - o que eu achava muitíssimo estranho, pois já deveríamos estar no céu - por bastante tempo. Fiquei imaginando a face da minha mãe por longos minutos: aqueles cabelos negros, com seus olhos castanhos que pareciam sempre cansados, e sua marca registrada; aquele sorriso maroto, que sempre dizia "por mais que você se ache esperto, eu sou muito mais".

Depois de um longo tempo, percebi que um garoto que parecia ter a minha idade estava deitado ao meu lado, fazendo a mesma coisa que eu. Questionei-o:

- Quem é você?

O garoto era bronzeado, cabelos castanhos e com a aparência de alguém que acabou de sair de uma guerra. Ele me respondeu:

- Olá, eu me chamo Klaus! Vim lhe dar as boas vindas ao paraíso! Qual é o seu nome?

A nítida animação dele espantou um pouquinho a minha tristeza, e consegui responder:

- É Zack..

Ele me deu um olhar profundo com aqueles grandes olhos cor de âmbar e me perguntou:

- Você parecia triste quando eu cheguei. Aposto que descobriu sobre os vivos, não é?

Ele obviamente tomou o meu silêncio como um sim, pois continuou:

- Sabe, não pense nisso. Um dia você irá esquecer das pessoas na terra. Todos esquecemos. É o único meio de não afundar em depressão..

Então, cuspi pra fora palavras que estavam engasgadas na minha garganta desde 2 dias atrás, quando eu havia chegado pela primeira vez naquele lugar:

- Mas eu não devia ter morrido! Aquele velho louco me matou! Isso não é justo! Eu não devia estar aqui, eu quero voltar para a minha mãe, para a minha avó, para os meus amigos!

A expressão de Klaus se escureceu na hora. Com a voz um pouco amargurada, ele disse:

- Justiça? Em um mundo de seres tão imprevisíveis quanto humanos, você acredita em algo tão frívolo chamado justiça?

Ele parecia ressentido com algo, e eu decidi que não queria saber o quê. Aparentemente eu estava preso a esse lugar por toda a eternidade, então talvez fosse melhor não procurar discussões com os meus colegas imortais.

Mas naquela hora, eu lembrei de algo que me foi dito mais cedo: "todas as crianças humanas que morrem viram anjos". E quanto a aos adultos? O que ocorreria com a minha mãe?

Com um arroubo de esperança no meu coração, perguntei:

- Me disseram que quando crianças morrem, viram anjos. E quando adultos morrem? O que acontecem?

A expressão de Klaus se anuviou novamente. Um momento depois, ele me olhou com uma expressão triste, meio penalizada, e respondeu:

- Bom, quando adultos morrem.. Viram demônios, nossos inimigos.



Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 10, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Entre InimigosOnde histórias criam vida. Descubra agora