O humor salva

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Teatro Tuca, São Paulo - 24 de novembro.
Mais uma quinta-feira, contudo não uma qualquer. Era noite de Improvável, o último daquele ano. E como aproveitá-lo da melhor forma? Em família. Ou melhor, entre famílias. Isso mesmo, mais uma noite de risos garantida, mas dessa vez o "efeito humor" tomaria conta não só de mim, não só de Renan, e sim de nossas famílias conosco, ambas as famílias haviam aceitado bem nosso relacionamento, dizendo que este já era esperado desde bem antes, mas, aquela noite de alegria não podia ser compartilhada só conosco; se Rafa não estava comigo, seus pais podiam e deviam acompanhar-nos naquela noite, até porque na semana seguinte sua perda completaria um ano, era direito deles uma noite agradável, e assim aceitaram ir.
O Tuca estava lotado àquela noite, não era um Improvável qualquer, além do último do ano, aquele seria diferente, um formato de humor diferente; era noite de Improvável Super Cena.
O espetáculo era marcado para as 21:30h, chegamos até lá quarenta minutos antes do mesmo ter início, lá encontramos algumas das pessoas que estiveram na oficina no fim de semana anterior e mais outras pessoas que pareciam tão animadas quanto nós para assistir ao espetáculo.
Os próprios Barbixas eram os 'diretores' que comandariam cada cena e, devo dizer que, como sempre, o espetáculo foi incrível, aquela temática diferente era interessante de se ver, pois cada um deles teria um controle próprio -por assim dizer- sobre o que veríamos ali, seguidamente vimos cada cena e ao final a platéia escolhia qual das cenas apresentadas havia sido a melhor, ou -em termos corretos- a Super Cena, naquela noite, a cena vencedora foi a do Elidio.
Ao fim da sessão daquela noite, todos os atores/jogadores convidados e os diretores fizeram-se presentes no palco para agradecer à platéia pela presença naquela noite e durante todas as sessões ocorridas naquele ano, gesto que a platéia retribuiu com aplausos, era um jeito especial que o público arrumava para agradecê-los -ao menos eu considerava isso- era como se em alguns aplausos pudéssemos todos dizer: "Obrigado por terem nos proporcionado tantas risadas em pouco mais de uma hora, vocês são demais!"
Quando boa parte do público já havia ido embora, o resto de nós que havíamos ficado começou a formar a fila para as fotos.
-Vão vocês, nós vamos ficar por aqui mesmo. -o pai de Renan disse.
-Mas por quê? -perguntei.
-Bem, conhecemos os meninos já há um bom tempo, creio que eles já saibam do imenso carinho que nossa família tem por eles.
-Além do que, foi a vocês dois que o humor deles ajudou. -minha mãe começou a falar. 3 dias antes do espetáculo Renan havia me contado mais detalhadamente sobre como os meninos ajudaram-no em seu passado e meus pais estiveram presentes nessa conversa, os dois ficaram surpresos com o quanto seu passado havia sido cruel- Aproveitem o momento!
Assenti e sorri.
-E vocês, tio Bruno, tia Cris? Gostaram do espetáculo? -perguntei.
-Claro! -disseram em uníssono.
-Sem dúvidas foi um espetáculo incrível. -ele disse.
-E viremos mais vezes! -ela completou.
Sorri, feliz por ter -de certa forma- ajudado a fazer com que eles tivessem uma noite bem humorada àquela altura do ano, na segunda-feira eles estariam na minha antiga cidade, pegando o que ainda faltava da mudança e levando flores à sepultura da filha, eles mereciam ter tido uma boa dose de humor antes de tudo isso.
Do lado de fora do Teatro eles nos esperaram até que saíssemos da sessão de fotos e Renan e eu seguimos para a fila, assim como das vezes anteriores éramos os últimos, creio eu que aquela era a única fila em que se fazia de tudo pelo último lugar, chegamos ainda com tempo de ver Bella -que era uma das atrizes/jogadoras da noite- sair do Teatro.
-Parabéns pelo espetáculo de hoje! -falei quando ela se aproximou.
-Ai, muito obrigada! -disse em resposta- Agradeço pela presença de vocês, que, não foi a primeira, né? Lembro de já tê-los visto outras vezes.
Confirmei a resposta dela, disse-lhe que estivera presente em várias outras sessões e que tinha um carinho imenso por ela, por ter sido a convidada no meu primeiro Improvável, ela agradeceu ao carinho e disse ter sido um prazer que suas piadas tivessem me alegrado, agradeci pelas palavras e tiramos uma foto -aquele momento não podia passar sem registro-, ela então se despediu e saiu. Quando nos demos conta, boa parte da fila já havia se esvaído, estava bem perto da nossa vez.
Quando adentramos -de mãos dadas- ao local das fotos, Elidio nos 'recepcionou' dizendo:
-Ora, se não é o casalzinho que tanto gostamos.
Sorrimos um para o outro e Andy disse:
-Se eu que tivesse dito isso, os bonitos tavam aí dizendo que não são casal, né, tudo bem, posso conviver com isso. Vão lá com o Elidio! -falou enquanto segurava o riso, o que não funcionou bem já que todos rimos segundos depois.
-Finalmente se assumiram! Já tava na hora, né. -Dani disse.
Rimos do que disseram e finalmente nos aproximamos para abraçá-los e dar parabéns pela sessão daquela noite, depois disso tiramos a foto e aproveitei para agradecê-los.
-Obrigada por tudo que fizeram por mim voluntária ou involuntariamente esse ano. -falei- Se eu não tivesse os conhecido nem quero saber como eu estaria a essa altura, obrigada de verdade!
-Não tem do que agradecer, -Dani começou- Nosso trabalho é alegrar, ficamos felizes por ter sido mais uma pessoa a quem pudemos fazer algo bom. Quanto a você, moço.. -Dani disse olhando pra Renan- foi um dos primeiros a quem pudemos fazer diferença na vida, obrigado por ter sido apoiador desde o começo, mesmo que fosse apenas uma criança.
Ele riu e respondeu:
-Vocês que me tiraram de um momento difícil, não tem do que me agradecer, eu é quem devia estar fazendo isso por vocês!
-Ah, agora estamos competindo pra ver quem é mais grato? É isso mesmo? -falei fazendo-nos rir.
Conversamos mais algum tempo, até que chegou a hora de sairmos. Já na saída do teatro, ele se virou pra mim e disse:
-Só não agradeci a você.
-Por...?
-Ser você e fazer parte da minha vida.
Sorri e, em resposta disse:
-Não acha que quanto a isso já sabemos o suficiente dessa gratidão recíproca?
-Nunca é demais agradecer. -falou me envolvendo num abraço.
Já fora do Teatro, seguimos todos rumo a nossos lares.
Mais um ano de Improvável havia se passado para os meninos, mais inúmeras mostras de improviso e seu poder de tornar pessoas alegres. Mais um ano de apresentações estava por vir meses depois, prometi a mim mesma que me faria ainda mais presente nos próximos espetáculos, era o mínimo que podia fazer por quem tanto tinha me ajudado.
"E que venham mais momentos como esse!" -pensei.

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