2º dia

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Domingo havia chegado. O 2º dia da oficina seria marcado não só pelos ensinamentos e brincadeiras ofertados por Daniel; naquele dia haveria também a presença de Andy e Elidio. Saí com Renan às 8:20h, e, ao chegarmos na Casa do Humor minutos depois, vimos que os meninos e mais alguns "alunos" já se encontravam lá, aos poucos os demais começaram a chegar e os meninos deram boas vindas a todos.
-É, parece que entre você e Renan está tudo ok. -Andy disse chegando do meu lado.
-Ah, nós não brigamos, apenas ficou um clima estranho quando soubemos coisas um do outro que nem imaginávamos.
-Compreendo, mas o que importa é que meu casal favorito voltou ao normal.
-Já disse, não somos um casal. -senti meu rosto ficar vermelho ao lembrar do dia anterior, e mais baixo completei- Ao menos, ainda não.
Não tenho plena certeza se ele ouviu a última parte, mas pelo sorriso que se formou em seu rosto, algo me diz que sim.
Com as atividades do segundo dia iniciadas, tivemos ainda mais brincadeiras e aprendizados, jogamos alguns dos jogos do Improvável que ficaram até mais interessantes com a presença de três dos melhores improvisadores nacionais ali nos auxiliando e até mesmo jogando conosco, desde Só Perguntas que, segundo os próprios meninos serviu para auxiliar no nosso raciocínio rápido até Troca que tinha a mesma função, mas trabalhada de maneira diferente, pudemos aprender ainda mais sobre como o improviso não é tão simples e o quanto e como é apreciado no nosso país.
Os minutos foram se passando até que chegou a hora em que, infelizmente, havia acabado toda aquela Oficina de fim de semana, ao fim da mesma todos os participantes ganharam um certificado que, poderia servir como ponto de "experiência" em algum projeto teatral futuro que qualquer um de nós pretendesse participar.
-Ei, bonitos. -Dani disse para Renan e eu quando todos os outros "alunos" já haviam saído- Aceitam uma carona?
-Não reclamamos se ganharmos. -ele respondeu e eu concordei.
Fomos até o carro dele e, já dentro do mesmo e seguindo caminho, Dani puxou assunto:
-Alice. -olhei em direção a ele- Gostaria de dizer algo?
-Não, tô de boa. -respondi e, rindo completei- Ok, acho que eu devo explicar o porquê do sumiço esse mês e pedir desculpas a vocês, sério, por ter me afastado durante esses dias, por não ter recorrido a ninguém antes.
-Até agora eu não entendi bem o porquê, né. -Elidio disse.
-Por favor, Lice, se estiver à vontade, fale tudo. -Andy, que estava ao meu lado, disse.
Respirei fundo e expliquei a eles toda a história -alguns dos principais pontos nem mesmo Renan havia tido a chance de saber até então-, contei a eles quem era a Rafa e o que aquele mês tinha a ver com ela, eles compreenderam, disseram que eu não era a única a ter uma perda na vida e que, se pudessem fariam algo para repará-la.
-Vocês já fazem. -falei- Só o fato de vocês fazerem e serem humor já basta pra me alegrar, mas até disso eu resolvi fugir por um tempo.
-Oras, não pode ter se afastado tanto assim. -Elidio disse.
-Você duvida? -falei arqueando uma sobrancelha- Eu ainda nem vi os vídeos que vocês publicaram esse mês. -falei com uma risada tímida no final.
-Fora do meu carro! -Dani disse, o que nos fez rir.
-Não é pra tanto, colega. -falei- Mas, sério, também não entendo bem o que houve, eu guardei comigo por muito tempo tudo o que havia acontecido de ruim, sofri sozinha, mas, foi demais e chegou um momento em que tudo transbordou. E, ao invés de procurar apoio eu preferi ficar sozinha, por favor, não procurem sentido nas minhas decisões.
-Suas decisões foram boas pra si mesma, ao menos por um tempo. -Dani disse e eu assenti- Mas quando tudo começou a desmoronar, por que não falou ao menos com Renan? Eu sei que ele não algo que se diga "minha nossa, que bom conselheiro", mas ao menos estaria dividindo com alguém.
-Aprenda a não elevar auto estima de alguém com Daniel Nascimento! -Renan falou segurando o riso.
Eu ri da conversa dos dois e completei, feliz pela presença de algumas das melhores pessoas que haviam surgido ao meu alcance:
-Obrigada pelo apoio de vocês, mesmo agora que tudo já se esvaiu. É bom saber que ainda tem gente disposta a fazer o bem.
-Estamos aqui pra isso. -Andy disse.
-Qualquer problema a mais, já sabe onde nos encontrar. -Dani completou.
-É, toda quinta, no Teatro Tuca às 21:30h! Aproveita que são nossas últimas semanas esse ano! -Elidio falou entre risos.
A conversa foi se seguindo até chegarmos à nossa rua, nos despedimos dos meninos e eu disse que pretendia voltar em breve ao espetáculo, eles disseram que iriam aguardar e assim seguiram seus rumos.
-Então... Você não opinou muito sobre o que eu disse, posso saber o motivo?
-Ah, nenhum específico. -falou- Só achei que precisava de um momento pra por seus sentimentos quanto àquilo pra fora.
-Precisei, ajudou bastante, e obrigada por ter sido compreensivo, de verdade.
-Não tem do que agradecer. E aliás, é verdade que não viu os vídeos que eles publicaram esse mês?
-Tá brincando comigo? Eu tava literalmente afundada no desespero. -falei rindo.
-Bom, já que agora está bem, recomendo que os veja, vão te lembrar de um dia bom.
-Bom saber. -falei- Nos vemos por aí?
-Não, você mora muito longe.
-Nossa, muito mesmo, como eu vou chegar lá? Demora bastante. -falei o que arrancou risos dele.
-É, nos vemos por aí. -falou- Até mais!
-Até. -completei e segui até chegar em casa.
Deitei no sofá e veio na minha mente todo um flashback dos momentos de sábado e dos melhores de domingo (até então), quem diria que apenas um fim de semana poderia ter me trazido uma verdadeira explosão de sentimentos bons? É, Alice, parece que finalmente começou a descobrir que o País das Maravilhas pode estar em qualquer lugar, até mesmo perante o improviso. -pensei.

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