Capítulo 02: Faça algo mais

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Lucas


"Faça algo mais do que existir"

Verão de 2006

O dia amanheceu triste e preguiçoso, o que já havia se tornado comum na minha vida. Não lembrava mais da última vez que havia dado um sorriso verdadeiro, e minha cara estava mórbida.

Tinha 16 anos de idade, minhas espinhas estavam sumindo e agora media 1,82 de altura. Não era o menino mais popular da escola, nem o mais gato, porém chama atenção de algumas garotas. Se soubesse como minha vida mudaria naquele ano, teria aproveitado mais meus amigos. Porém a vida não seguiu o rumo que eu queria, ela me enganou.

Tudo começou a ir mal quando descobrimos que papai estava com tuberculose, e mesmo nossa família usando todos os recursos imagináveis, não conseguimos salvar sua vida. Nesse dia o chão se abriu e o céu caiu sobre nossas cabeças. Porém não sabia que o pior estava por vir. Foi nesse mesmo ano que mamãe morreu, creio que de tristeza. Ainda lembro-me de ter lhe chamado pra tomar café, quando percebi seu corpo pálido em sua cama.

Depois disso, meu irmão mais velho, Cláudio, resolveu que seria melhor ir morar em outra casa, em outra cidade. Fizemos a mudança um mês depois que mamãe faleceu. Deixei meus amigos e todas as boas lembranças na minha antiga cidade. Agora estou aqui, nesse lugar onde não conheço ninguém.

Certas vezes penso que sou um peso na vida do meu irmão, pois sei que ele tinha planos de casar com a Fernanda, sua noiva, no próximo ano. Ele me disse que teria que adiar por mais dois anos o seu casório. Queria que acabasse o ensino médio e começasse a faculdade.

Contudo, como disse, aquele dia amanheceu triste, pois não sabia o quão surpreendente a vida pode ser.

Levantei da minha cama, e fui abrir as cortinas para que entrasse um pouco de luz. Era verão e fazia muito sol, e foi ele mesmo que me deixou momentaneamente cego. Pisquei algumas vezes até voltar ao normal. Porém foi ali mesmo, no quarto, que passei toda minha manhã e parte da tarde.

Ao fim da tarde resolvi conhecer o bairro novo. Já morava ali fazia um mês e minha rotina era casa e escola. Coloquei um chinelo e vesti com uma roupa confortável. O sol já não estava tão forte, e batia um vendo gostoso em meu rosto.

A cidade era muito arborizada, possuía um parque que certamente faria um piquenique com papai e mamãe, mas sei bem que isso já não é possível. Boa parte das construções eram antigas, e se aquela cidade tivesse boca, me contaria histórias até o dia acabar.

Sai sem rumo pelas ruas. Já caminha há quase uma hora, e quando percebi o céu estava cinza e uma gota de chuva beijou minha testa. Era o anuncio que ela cairia a qualquer momento. Comecei então a caminhar mais rápido, precisa chegar à minha casa antes da chuva. Logo estava correndo pela Rua. Foi quando pisei em algo que me causou muita dor. Havia cortado meu pé em uma garrafa quebrada. Provavelmente algum bêbado tinha esquecido ali.
Meu pé sangrava bastante, e tingia o asfalto de vermelho intenso. Não sabia o que fazer. Foi quando surgiu ao meu lado um menino que descobriria mais tarde ter 11 anos.

- Oi, tudo bem?- Perguntou o menino, olhando pro meu pé.

- Não muito. - Falei apontando pro meu pé- E você, como vai?

- Vou bem! Acho que você precisa fazer um curativo no seu pé. - Falou analisando meu pé.- Moro aqui perto, a Maria podem fazer um curativo no seu pé. Você deveria fazer, pois ta sangrando bastante. Não acha?

- É, tá sangrando muito. Se continuar assim, daqui a pouco não tenho mais sangue. - Falei rindo. - Vamos então. Onde você mora?

- Moro a umas três quadras daqui. Vamos!

O dia começou a ficar estranho naquele momento, quando a chuva resolveu cair. Agora todos viam aquela cena. Dois meninos na chuva, um pé sangrando, e um menininho apoiando o maior. Não pude imaginar que foi naquele momento que surgiu a nossa eterna história de amizade e amor.

A chuva se tornou mais intensa, e o vento estava cada vez mais forte. Quando avisto no outro lado da rua uma mulher que gesticula com a mão.

- Chegamos! Venha.

Corremos em direção à mulher, que estava no portão de uma mansão enorme. Aquele menino devia ser podre de rico.

- Por onde você andou menino?- Interrogou a mulher. - Já está mais que atrasado. E quem é você?- Perguntou olhando pra mim.

- Esse é o... - Ele não sabia meu nome, percebi que não havia me apresentado.

- Lucas- me apresentei.

- Ele machucou o pé Maria. Você pode fazer algo?

- Meu Deus! Isso está horrível menino. Entre... entre...

Agora éramos três. O menino, Maria e eu. Uma casa enorme e um pé cortado.

Quando entro na casa, percebo que estava acontecendo algum tipo de festa infantil ali, pois não me lembro de ver tanta criança no mesmo lugar. "pelo menos vou comer bolo hoje", pensei. Maria pediu que me sentasse numa cadeira que ficava no grande salão da casa, enquanto ela buscava a caixa de primeiros socorros.

- É seu aniversário hoje?- Perguntei curioso ao menino.

- Não!- respondeu risonho. - Não, é meu aniversário. - Observei que seus olhos eram verdes intensos, como o meu.

- Então, qual o motivo de ter tantas crianças aqui?

- Isso aqui é um orfanato Lucas. Não percebeu?

Agora a fixa caiu. Como não percebi antes?

- Hum, realmente não havia percebido. - Falei sorrindo. - Qual o seu nome? Ainda não sei.

Nesse momento Maria entrou apressada na sala. Trazia em suas mãos uma caixa branca com os remédios. Pediu para que colocasse meu pé em um banco e começou a limpar a ferida, que ardia e doía bastante. O menino ao me lado soltava risos a cada careta que fazia, e quando olhava em seus olhos ele ficava sério, ou pelo menos tentava. O garoto era uma criança muito fofa. Conseguia enxergar a pureza do seu coração. Apaixonei-me.

O sol já havia se escondido, e com certeza levaria uma bronca ao chegar na minha nova casa. Meu irmão ficou traumatizado e achava que a qualquer momento eu também poderia morrer. A ultima coisa que ele queria era me perder também. Resolvi me despedir do menino e da Dona Maria, sorri demonstrando toda minha gratidão. Disse que logo voltaria para fazer uma visita e que talvez pudesse me tornar voluntário no orfanato. Um novo sorriso surgiu no rosto do menino e dessa vez também sorri. Mas ainda faltava saber uma coisa. Saber o seu nome.

- Ei menino, ainda não sei o seu nome. Como você se chama?

- Caíque, sou o Caíque. - Foi nesse dia que conheci meu grande amor.

" Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe"

Oscar wilde

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