Capítulo 04: De volta ao lar

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Caíque

Dias atuais

"Solidão é quando o coração, se não está vazio, sobra lugar nele que não acaba mais"

Antonio Maria

Cheguei em casa e minha cabeça não me dava sossego. Nela, sempre apareciam os olhos daquele homem, e até mesmo o seu cheiro eu podia sentir. Juro que pude senti-lo apenas por lembrar.


A casa ainda estava vazia. Papai e meu irmão só chegariam de viagem no dia seguinte, o que me deixou meio para baixo, já que odeio solidão. Gosto de ter pessoas ao meu redor.
Não consegui administrar meus pensamentos e entender o que aconteceu naquela rua, e o que mais me assustava era meu total interesse naquele cara, naqueles olhos e naquele cheiro.

Tomei um banho demorado para aliviar o cansaço do dia, preparei meu jantar e me sentei à mesa. O aroma é agradável e me convida a saciar a fome, porém, todos aqueles lugares vazios me trazem uma sensação estranha: aquela mesa foi feita para uma família, e ali deveria haver uma.

De onde estava, podia ver o mural que fica no corredor da nossa casa. A viagem pra Recife, a trilha que fizemos para chegar ao Cristo Redentor, a foto do Max, meu irmão, melado com o recheio do bolo do seu último aniversário... e uma fotografia antiga, da época que éramos só papai e eu. Tudo ali registrado. Me pego rindo sozinho – estava feliz. Logo pela manhã papai e Max chegariam estariam de volta.

Já era tarde e meus olhos gritavam “ei, quero dormir”. Atendendo ao seu pedido, deitei e me entreguei ao sono.

Na manhã seguinte acordei com o corpo dolorido. Tive sonhos inquietos a noite toda com aquele homem e a mulher esfaqueada. No sonho, ele não fugiu de carro após esbarrar comigo; ele simplesmente levantou do chão, caminhou em minha direção, enfiou aquela faca no centro do meu peito e disse: “essa é a dor de um coração partido”.

Um vendaval abriu a janela do quarto, daí caminhei vagarosamente para trancá-la. Notei que a varanda foi varrida pelo vento, que abria caminho para a chuva que viria a seguir. Então, gotas d’água começaram a atingir o vidro. Observei através de minha janela uma árvore curvada e retorcida, que lembrava uma velha senhora. Aquela manhã seria de uma grande tempestade, então não precisaria sair de casa para regar o jardim, nem para ir ao trabalho, pois era minha folga. Papai insiste que eu deixe o emprego e apenas estude, mas gosto da minha independência financeira. Ele já fez muito por mim.

Resolvi preparar o café da manhã, pois sabia que Max chegaria com a fome de uma família de mamutes. Fiz o bolo de chocolate que ele tanto ama, e para o papai preparei panquecas. Para mim, torradas, queijo e café.

Escondi no gaveteiro do quarto a lista de compras que preparei para a festa de aniversário do meu querido irmão. Esse ano ele vai ter uma celebração digna de ser lembrada por toda vida. Secretamente convidei todos os seus amigos próximos, incluindo Maria, o que com certeza vai deixá-lo extremamente feliz.

A campainha toca, o que me faz pensar que esqueceram a chave de casa. A chuva parou, mas ainda faz frio, então pego meu casaco. Atravesso a casa, ainda com a cara amarrotada, e corro em direção ao portão, abrindo-o com o maior sorriso que lhes podia dar, mas não eram eles. Um menino alto e loiro, usando óculos de grau, com uma argola pendendo em sua orelha esquerda estava ali, diante de mim, em meu portão. Seus olhos, rodeados por olheiras infelizes, eram de um azul sincero. Estudei com atenção o menino, e concluí que ele é uma espécie de nerd descolado.

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⏰ Última atualização: Mar 13, 2017 ⏰

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