Nunca tive muita experiência com mulheres, em todos esses meus 17 anos. Minha mãe mal ficava no palácio e meus primos moravam do outro lado do país. Quer dizer, do outro lado do país onde eu vivia, pois as pessoas que encontrei nessa manhã não falavam o meu idioma.
Era como se sentir um estranho no ninho, embora estivesse vestindo as mesmas roupas que eles; rasgadas, puídas e que não cobriam muita coisa. A não ser a bermuda, que parecia ter sido uma calça há muito tempo. Até agora não entendia como elas foram trocadas sem eu perceber. Provavelmente, fizerem enquanto estava desacordado.
Após tentar conversar com a adolescente na manhã passada, voltei à cabana de onde havia saído atordoado. A cabeça ainda latejava de dor, e à medida que retornava à cama – se é que poderia chama-la assim – tudo ao redor foi escurecendo aos poucos.
Apoiei-me na parede de taipa e sentei no pano sujo e fedido, enrugando o nariz quando o cheiro subiu até minhas narinas.
Queria comer algo, mas como pediria a alguém que, aparentemente, nem falava o mesmo idioma que eu? Afinal de contas, onde eu estava?
Um murmurinho de conversas indistintas foi se aproximando, e até pensei em levantar para me aproximar da abertura da cabana, e ver se captava alguma palavra que pudesse reconhecer, porém a adolescente da manhã anterior apareceu equilibrando uma bandeja de tronco de árvore. E então, o maravilhoso cheiro de comida encontrou meu nariz, fazendo meu estômago roncar ainda mais alto do que da outra vez.
– Eu posso comer? – perguntei pausadamente, para ver se ela entendia o que eu estava querendo dizer, enquanto ela largava a bandeja em cima do tronco de uma árvore cortada ao meio.
Ela me encarou por alguns segundos, depois saiu em disparada pelo mesmo lugar por onde entrara.
Olhei desconfiado para aquela direção e, como ninguém mais apareceu, não resisti à fome e avancei rudemente contra a bandeja. Nesse momento, até esqueci as regras de etiqueta enraizadas ao longo de toda a minha vida. Se meu pai, ou até mesmo minha mãe me visse agora, torceriam o nariz para a falta de modos com que eu comia.
Logo eu que desejei fugir do palácio, acabei sendo tendo meu desejo realizado à força, simplesmente porque odiava a forma como cuidavam da minha vida e das minhas obrigações como um futuro monarca. Quando voltar – se é que voltarei algum dia – tratarei de valorizar mais o que perdi.
Minha realidade agora era completamente diferente do que estava habituado.
Não havia talheres, então comia com as mãos os pedaços do que parecia ser cordeiro e frango, que sempre rejeitei à mesa do Palácio. O melhor tempero era a fome, e rejeitar a comida que me era servida seria tolice.
Após comer tudo o que havia na bandeja, e beber o que parecia ser suco de uva, deitei no pano fino, apoiando a cabeça debaixo do braço para observar o teto mal trançado.
– Ei, você – uma voz firme e infantil chamou, com sotaque indistinto.
Desviei os olhos rapidamente e encontrei a mesma adolescente, em pé ao lado de uma coluna de sustentação, localizada bem no centro da cabana.
Maravilhado por saber que ela me entendia e que não ficaria só, respondi de imediato.
– Então você fala a mesma língua que eu.
Ignorando a minha reação, ela caminhou pisando duro e eu me encolhi.
– Você tem trabalho a fazer – informou, puxando a gola da minha camiseta sem mangas.
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Monarquia Indesejada (Em hiatus)
Teen FictionNão, esta não é mais uma história de príncipes e princesas, dos contos de fadas comuns. Esta, na verdade, é a minha vida. Nela não existem enfeites, nem brilho, nem coroa. Coroa? Eu quero distância dela! Novos dias de postagem, enquanto estiver fora...