Estratégias

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Paredes cobertas por quadros dos últimos reis me mantinham ocupado, enquanto atravessava o longo corredor. Habituar-me em receber olhares de todos os lados ainda era difícil, por isso prestava mais atenção nas figuras ao leste e ao oeste.

No chão, tapetes persas abafavam meu andar apressado, porque não via a hora de entrar no gabinete, onde o rei - que recebia os mesmos olhares mas não ligava - já estava.

Embora não me interessasse pelas linhas de batalhas, estratégias de guerra e alianças, minha presença era indispensável.

- Bom dia! – cumprimentei-o, entrando casualmente pela porta aberta pelo guarda.

Acenei rapidamente para todos os que estavam ali, cruzando meu olhar com o guarda para agradecê-lo. Assim era com os outros, quando meu pai estava presente. Tudo deveria ser muito breve, por achar desperdício de tempo.

- Bom dia! – repetiu o rei, mexendo na papelada diante da mesa de mogno. – Sente-se – pediu, sem desviar sua atenção.

- Obrigado – murmurei, abrindo alguns botões do paletó azul, ocupando a cadeira. – Há algo que possa fazer?

Ele levantou a cabeça por alguns segundos para me encarar. Talvez algo em minha voz o tenha deixado confuso, mas mantive meu olhar.

- Se puder verificar esses papéis. São algumas instruções, que chegaram esta manhã.

O rei empurrou em emaranhado de papéis e os peguei, lendo rapidamente para não perder tempo. Eu sabia que ele esperava isso de mim.

- O senhor já tentou enviar as tropas para Etherea? Existe uma vila pacífica, onde os soldados poderão descansar. Além disso, soube que há homens com idade para alistar-se.

Como se tivesse falado que dragões existiam e que havia um deles em meu quarto, ele olhou-me com toda a fúria de quando não dava uma resposta óbvia. Mas, não para mim.

- Tem ideia da besteira que acabou de falar? – irritou-se ele, mantendo o tom de voz baixo. – Ainda tem muito o que aprender, Oliver. Em breve fará 18 anos, e nem sabe como me ajudar. Ao invés de jogar xadrez o dia todo, poderia fazer algo mais útil como estudar estratégias de guerra.

Sem saber o que falar para acabar com a chuva de insultos, levantei-me sem olhar pra trás, deixando-o sozinho com seus papéis. Não era a postura de um futuro rei, no entanto, não quis ouvir mais nada. Se eu não servia para o cargo, por que não dá-lo ao meu irmão? Ele era apenas doze meses mais novo!

Ao que tudo indicava, ele era mais sensato do que eu, e nada nesta vida o faria mais feliz.

Com os braços atados por um fio invisível chamado "obrigações + monarquia = sem escolhas", voltei ao aposento real, que era exageradamente grande para só uma pessoa. As únicas coisas que pude mudar foram as cores das paredes, que eram pretas. De resto, nada foi escolhido por mim.

Me sentia um estranho no único local onde poderia ser eu mesmo. Literalmente, morava em uma prisão com grades douradas. Meus passos eram estudados, assim como ações e até mesmo palavras. Não dava um discurso, sem que antes passasse pelo conselho real para verificar se havia alguma besteira ou não. Só depois de muito analisarem, me era permitido o pronunciamento.

As paredes negras fechavam lentamente ao meu redor e não me restavam muitas alternativas: ou pulava fora ou manteria permanentemente a bola de ferro presa em meus pés.

Andei desanimado até a sacada, sentando no parapeito. O sol começava a se por, e mais um dia improdutivo chegava ao fim.

Pensando em não voltar até lá e ter que lidar de novo com a fúria do meu pai, ou dos comentários nada fáceis de engolir que ele fará, deitei em minha cama. Amanhã será um novo dia, e esperava que o assunto terminasse. Ou que ao menos que eu encontrasse uma solução para as estratégias de guerra.

Monarquia Indesejada (Em hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora