Revelação

13 4 0
                                    



Violinos soavam ao longe, acompanhados de outros instrumentos de cordas que preenchiam o ambiente abaixo de mim, fazendo meus pés vibrarem sob o tapete grosso. Eu podia sentir a música do outro cômodo como se estivesse no salão de eventos, onde uma cerimônia acontecia há pouco mais de meia hora.

À minha frente, o espelho refletia minha imagem. Era tradição vestirmos alguma peça de roupa que tivesse a ver com a ocasião de hoje, e eu escolhi usar um lenço de seda vermelho no bolso do paletó azul marinho. Aprontava-me para o baile de Natal, e, como sempre, não estava pronto para a ocasião.

As abotoaduras de ouro, que precisavam ser usadas nestes eventos, eram difíceis de serem colocados no paletó. E pensando em me atrasar ainda mais, esticava o tempo como se não houvesse uma multidão à minha espera, enquanto as prendia no tecido grosso azul. As odiava, no entanto, eram necessárias.

– Ollie – alguém bateu na porta, enquanto eu calmamente abotoava as peças douradas.

– Sim – ergui uma das sobrancelhas, visualizando uma das abotoaduras através do espelho.

– Estou entrando – Phill avisou, irrompendo pela porta branca. – Se já está pronto, por que não está lá embaixo? – perguntou, deixando o copo quase vazio de whisky sobre a lareira há muito tempo não usada.

– Essas abotoaduras – expliquei, mostrando-as. – Se soubesse o quão difíceis elas são... – bufei, tentando ajustar a outra.

– Se sabe que não são fáceis, por que então decidiu coloca-las?

– Obrigações, irmão. Obrigações – dei um tapa em seu ombro, imaginando o que aconteceria se nosso pai me visse sem as malditas abotoaduras.

– Precisa de ajuda? As minhas não são tão pomposas quanto as suas, mas consegui ajeitá-las.

– Não, já estou terminando – abotoei a última e conferi para ver se não cairiam. Da outra vez em que tive que usá-las, perdi uma delas no meio de um brinde. Quando ergui minha taça, finalizando meu discurso, ela caiu e rolou em meio à multidão de pessoas bem arrumadas. É claro que não pude correr atrás dela, como meu pai deixou bem claro assim que segurou a manga do paletó, me impedindo de continuar.

– Está pronto, então?

– É a vida – respondi, sem ânimo.

Atravessamos o corredor, fazendo algumas brincadeiras entre nós. Phill sempre foi o mais divertido, engraçado e brincalhão de nós dois, e isso se devia ao fato de ser o mais novo, provavelmente. Não precisava carregar o mundo nas costas, com obrigações que lhe foram forçadas a aprender ao longo de toda a sua.

Já eu, era o contrário. Talvez se tivesse a oportunidade de deixar tudo para trás, olharia o mundo de outra forma e, quem sabe, mais relaxado.

Assim que chegamos ao grande salão, prestei atenção em tudo ao redor. As ornamentações estavam mais bem feitas do que no ano anterior. No alto dos balcões, faixas douradas com os votos de "Feliz Natal" adornavam os balaústres brancos, onde pude reconhecer alguns parentes que não via há anos bebendo e brindando nas sacadas. Tios, primos e amigos dos meus pais sorriam como se se reunissem em todas as épocas festivas. O que não era verdade.

Nas escadas, nos limites dos degraus, almofadas pequenas amarradas com fitas douradas. Enfeites que imitavam guirlandas em verde e vermelho envolviam os corrimões de madeira de ponta a ponta, com pequenas luzes que piscavam em intervalos curtos de tempo. E, me arrancando uma risada, botas de pelúcia nas mesmas cores das guirlandas.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 26, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Monarquia Indesejada (Em hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora