Correndo risco

13 0 0
                                    

Ash

Segunda-feira

Antes das quatro já estou de pé, normalmente acordo por volta das cinco e meia, porém estou ansioso para checar a Melissa. Por motivos inexplicáveis sinto uma vontade incontrolável de vê-la, eu não ficarei tranquilo até ter certeza que ela está bem. Quando penso no que poderia ter acontecido a ela o meu sangue gela, agradeço ao bom Deus por ter me posto em seu caminho. Saber que ela tem um trauma dificultou a minha tentativa de dar atenção a Suzan ontem, fiquei tentando adivinhar o que deve ter acontecido a Melissa. Sinceramente eu preferia ter apreciado meu domingo longe da Suzan, mas ela forçou a barra, desisti de me esquivar e resolvi dar algum tempo a ela, afinal ela é a minha futura esposa, tenho que ceder às vezes.
Depois de uma grande xícara de café e um momento para a higiene estou devidamente vestido. Dispenso meu motorista, quem sabe a Melissa não precisa de uma carona, reparei que ela não tem carro. Desço no elevador cantarolando My girl uma das minhas músicas preferidas.
Chegando na empresa como de costume vou falar com Charlie que está com uma cara péssima.
— Ei Charlie! Você está bem?— pergunto.
— Estou bem, só um pouco cansado. Minha irmãzinha passou mal no meio da noite, tive de levá-la ao hospital.
—Meu Deus. Como a Lucy está?
—Ela está bem. Felizmente era somente uma gripe. E a Melissa tem notícias dela?
— Recebi uma ligação dela ontem. Ela me garantiu que estava bem, mas só vou ter certeza quando vê-la.— respondo.
— Entendi. E quando pretende vê-la? — pergunta Charlie.
— Hoje, Melissa trabalha aqui na empresa.
—Sério? Nunca a vi por aqui, se a vi não me lembro.
—Pois é, eu também, ela trabalha para o meu tio. São nesses momentos que eu vejo como o mundo é pequeno—digo.
—Realmente cara. Também tentarei falar com ela.
—E para que?— pergunto ríspido por demais.
—Sério Ash? É óbvio que eu também quero saber se ela está bem. Ash, Ash, será que eu tenho que te lembrar que você está noivo?
—Claro que não. Não entendi o por quê de sua insinuação— falo desviando o olhar.
—Hham tá bom, tenho certeza que você entendeu cara.
Tá legal! Eu entendi e muito bem. Tenho a consciência que não devo subestimar Charlie, o cara é muito perceptivo. Isso por que ele não sabe que a Melissa é a tal menina intrigante, do contrário ele iria me infernizar.
—Bom Charlie, tenho que ir meu amigo— falo.
—Vai lá babaca.
Reviro os olhos e saio andando. Adoro esses apelidos carinhosos.
Dentro do meu escritório quando paro para pensar, realmente tenho a noção do que Charlie falou. Eu estou noivo, e o pior, de uma mulher que sequer aturo. A minha mente é invadida de por ques? Por que vou me casar com alguém que não gosto? Por que meu pai é tão manipulador? Por que minha mãe concorda com tudo isso? Por que eu concordei com tudo? Por que eu não sou mais forte?
Passo horas divagando sobre os por ques quando me dou conta está quase na hora do horário de almoço dos funcionários, sendo assim me levanto apressadamente, sigo ao encontro de Melissa. Terei de encontra-la antes de sua saída do setor financeiro.
Avisto seus cachos negros e volumosos de longe, Melissa caminha distraidamente de cabeça baixa mexendo em seu celular. Espero que ela me note, mas como não rola chamo-a pelo seu nome.
—Melissa-digo.
Quase esbarrando em mim ela levanta a cabeça subitamente.
—Ash— diz— o que você faz aqui?
—Bom você sabe—brinco— eu trabalho aqui.
—Deixa de ser sem graça— fala com um meio sorriso— quero dizer neste setor. Nunca o vi aqui.
—Vim buscá-la para um almoço.
Melissa  parece estar em um confronto interno, está com o rosto confuso.
—Tudo bem então— diz ela desconfiada — para onde você vai me levar?
Um enorme peso foi tirado do meu peito, achei que teria de ser mais persistente. Já que ela aceitou, farei o possível para agrada-lá.
— O que você gosta de comer?— pergunto.
—Eu como de tudo, mas sinceramente amo qualquer coisa gordurosa, especialmente se for carne— diz ela.
Caramba! Ela gosta de carne, é difícil encontrar uma mulher com um corpo tão belo que goste de carne, e que não tenha problemas em dizer isso em voz alta. Suzan ama salada, é praticamente a única coisa que ela come, além disso ela é vegetariana. Totalmente sem graça.
Começo a caminhar na direção do elevador. Com um largo sorriso digo.
—Eu também amo carne! Vou te levar a um restaurante incrível.
—Tudo bem— diz Melissa simplesmente.
Já  dentro carro decido colocar uma música para aliviar o clima tenso, decido ligar o rádio. A música que sai pelos altos-falantes é Earned it de The Weknd, a atmosfera vai de tensa para altamente sensual. Tiro os olhos da estrada para observá-la, ela está de olhos fechados como se apreciasse a música. Meu olhar se foca em seus lábios carnudos, sua língua passeia pelo seu lábio inferior, proporcionando humidade, uma atitude inocente mas que se tornou sexy, não consigo desviar o olhar.
— Olha para frente — diz ela.
— Como? — pergunto, levando meu olhar aos seus olhos.
— Não quero morrer em um acidente  de carro — diz ela desconfortável.
Nesse momento eu coro, como se eu fosse um adolescente que foi pego encarando os seios de uma garota.
— Como você está se sentido hoje?— pergunto tentando disfarçar a minha admiração.
— Me sinto bem — diz simplesmente.
— Tem certeza?— insisto.
— Absoluta Ash, pode ficar tranquilo, não há nada que eu não possa superar...— diz Melissa como se tivesse muito mais a dizer.
Decido não prolongar o assunto pois não quero deixa-la desconfortável, ela olha para a janela com o olhar distante, como se os seus problemas estivessem passando diante de si. Concluo que ela é muito misteriosa, e eu muito curioso, mas decido respeitar seu espaço, pois há limites que eu não devo ultrapassar.
Já no restaurante com o meu mais doce sorriso peço a recepcionista uma mesa, teríamos de ter uma reserva, mas ela cedeu facilmente.
Enquanto caminhamos para a mesa Melissa me olha de soslaio e sussurra.
— Sabe Ash, eu vi isso, e você é um garoto muito mau.
— Não Melissa— sussurro de volta— eu sou um homem muito mau.
Ela somente revira os olhos e se senta. O cardápio é trazido para a nossa mesa, eu o empurro para ela que da uma rápida olhada.
— Por que me trouxe aqui, os preços são absurdos — diz distraidamente.
— Você disse que gosta de carne então te trouxe para comer a melhor que conheço— se minha velha me ouvir falando isso vai surtar — fora a da minha mãe é claro.
— Olhando esses valores percebi que não gosto tanto de carne- diz ela, erguendo uma das sobrancelhas, quando nossas taças são enchidas com vinho.
— Você só precisa escolher Melissa pagarei por tudo —  digo risonho.
— Não nada disso— diz ela— pagarei a minha parte, assim será justo.
— Já que você não escolhe logo pedirei por você— falo.
Momentos depois dois pratos de paleta de cordeiro acompanhados de purê de batatas, salteado de cogumelos e molho de vinho chegam a nossa mesa. Dispenso as entradas pois as considero extremamente desnecessárias, o prato principal é o que realmente importa. Antes de levar a primeira garfada a boca Melissa visualiza o prato de diversos ângulos, como se somente o visual do prato a satisfizesse. Quando ela come o primeiro pedaço da carne suas pálpebras tremulam, e um suspiro suave escapa de seus lábios. Nunca vi nada igual, tudo que ela faz me fascina me atingindo de diversas maneiras. Suzan, tenho que me lembrar da Suzan.
— Parece que escolhi certo— digo ainda a observando.
Ela levanta o olhar se sobressaltando como se tivesse esquecido que eu estava ali.
— Isso está divino— diz, com os olhos brilhando.
— É o meu prato preferido daqui— digo satisfeito.
— E você vem sempre aqui— pergunta ela.
— Quase sempre por que?
— Esse lugar grita dinheiro— diz ela sussurrando.
— Percebi que você gosta de chocolate, o que acha de fundue como sobremesa?— pergunto mudando de assunto.
— Como você sabe que gosto de chocolate?
— Bom, seu condicionador é de chocolate e sua bolsa estava repleta de chocolates. Antes que você pergunte tive que mexer nela quando você estava bêbada— respondo sorrindo.
— Tá legal, você é estranho, mas aceito o fundue— diz ela sorrindo.
Talvez ter pedido fundue tenha sido uma má idéia, por que ela ficou passando a língua pelo lábio e ronronando. Felizmente consegui resistir a não soltar uma de minhas cantadas idiotas.
Antes de irmos embora tivemos duas discussões, a primeira foi para pagar a conta, essa eu venci. Na segunda estava tentando convencê-la a me deixar levá-la para casa depois do trabalho, nessa perdi feio.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 24, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Proibida Perfeição Onde histórias criam vida. Descubra agora