[Leia escutando: Yiruma - River Flowrs in You; (video acima↑) ]
Algo estava mudando em mim. Levei alguns dias para me acostumar àquele lugar. Tudo ali parecia fazer parte de uma utopia inimaginável ou um sonho que jamais alcançariamos.
Sentia as vezes como se estivessem me machucando emocionalmente, mas a verdade é que era como um remédio, o gosto era ruim, mas depois eu me sentia melhor.
Toda noite eu lembrava do meu pai e lembrava que embora eu me sentisse incrível ali eles na verdade estavam tentando me enganar. O que era bem complicado colocar na cabeça toda vez que eu conversava com o garoto colorido, que se chamava Eryn.
Aquela noite me levantei na escuridão. Eu não deixaria mais que eles me envenenassem com aquela conversa de amor infinito.
Meu arco ainda estava dentro do baú, o segurei, confiante, se eu não conseguia descobrir mais nada sobre eles, pelo menos levaria a vida de alguém que fosse importante.
A rua sob a luz do satélite brilhante era serena, diferente de meu coração que se encontrava em um turbilhão de sentimentos.
Duas coisas lutavam dentro de mim e eu não sabia qual das duas ajudar, qual das duas era a correta, qual das duas realmente valia a pena.
Avistei uma casa alta perto do lago. Parecia ser a casa de um líder ou chefe. Sorrateiramente me embrenhei pra dentro dela, pela janela, e me espantei mais uma vez com a falta de vigilância naquele lugar.
Entrei em um quarto decorado de estrelas com uma cama no centro.
As cobertas roxo, azul e rosa se movimentavam lentamente para cima e para baixo, no ritmo da respiração de quem fosse que estivesse dormindo ali.
Saquei o arco e posicionei uma flecha que zumbiu com a energia que a atravessava, me preparei para atirar, mas as cobertas se mexeram e a figura levantou, sonolento.
Perdi o ar.
Era Eryn!
Seu olhar parecia ainda estar tentando entender o que acontecia, mas de um jeito solene.
- Vocês vão pagar por todas as mentiras que contam - sussurrei, tentando não me deixar abalar pelo fato de ser ele a estar a minha frente.
Mas ele levantou calmamente e andou em minha direção.
Meu rosto suava e minhas mãos tremiam.
A coragem para soltar a flecha não vinha. Ele estava bem a minha frente e eu não conseguia fazer um trabalho tão simples?
Ele desviou o arco com um dedo e eu o abaixei, as lágrimas correndo em meu rosto.
- Você tem saudade de casa? – foi a única coisa que perguntou.
- Eryn... - Minha voz tremia. - Você não mentiria para mim certo?
- O que eu ganho por mentir pra você? Sinceramente, o que eu ganho por mentir para qualquer um que seja?
- Do lado de lá do muro, diz que as pessoas aqui são mentirosas, que esse amor infinito de que vocês dizem existir não passa de uma cegueira e que vocês querem forçar a todos essa Nova Cultura. - Já era tarde para parar minhas palavras, elas simplesmente jorravam enquanto o garoto me acolhia com o olhar.
Ele me puxou pra perto de si e me afogou em um abraço, o arco caiu no chão com um com um tilintar, minhas lágrimas caindo sem que eu conseguisse deter.
- Quando uma coisa é difícil de entender é mais fácil fingir que é mentira ou que quem acretita nela está enganado. - ele disse e em seguida beijou minha testa de um jeito carinhoso. - Eu sei que é complicado acreditar em tudo que a gente vive aqui, mas eu nunca vou desistir de você, eu acredito em você, mas você tem que acreditar em si mesma também.
- Mas eu tentei matar você.
- Não se apaga trevas com trevas, só a luz faz com que elas se afastem. - ele reparou que eu não entendia nada do que ele falava e me sentou em sua cama, sentando-se ao meu lado em seguida. - Todo mundo sabia que o arco estava lá, todo mundo aqui sabia que seu plano era matar alguém...
- Então por que não me prenderam ou me expulsaram?
- Você está vendo aquele lago? - ele apontou para fora da janela. - Ele já foi uma fonte pequena, que ninguém dava muito valor, mas alguém resolveu cavar em volta e acreditar que aquela fonte se tornaria um belo lado e ajudaria a cidade.
Olhei para o chão, triste.
- Eu acredito em você. Todos aqui acreditam. - ele levantou meu rosto para que pudesse me olhar nos olhos. - A escolha estava em você. Só você tem esse poder.
- Meu único poder é de destruir, Eryn...
- Então me ajude a destruir esse muro aí dentro de você.
14/01/17
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A Garota Que Não Sabia Sonhar
FanfictionLaelin atravessou o grande muro para ajudar a acabar de vez por todas com as mentiras que percorria seu mundo. Ela estava disposta a enganar e a matar quem precisasse, mas uma coisa que ela não estava tão disposta assim era desfazer as barreiras de...