Parte 1 - Cordélia

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Dizem que o amor é uma bênção reservada somente aos humanos, e que o verdadeiro amor só pode ser sentido pelos mais nobres. Sou humano, porém não acredito em nobreza. O amor é nobre, e apenas isso. Como um extremo romântico, devo dizer que as demonstrações de amor perduram eternamente, mesmo após a morte, pois o sentimento é algo muito além da capacidade mortal. De maneira a lhe provar minhas afirmações, narrarei a você, caro leitor, uma experiência por mim vivida.

O ano era 1825 e o país era o Brasil, especificamente a cidade do Rio de Janeiro. Possuíamos uma vida tranquila. Nossa casa era grande e eu trabalhava como redator de um famoso jornal chamado A Gazeta. Em meio a esta vida branda, ela era o motivo pelo o qual eu vivia. Ela foi o mais maravilhoso acontecimento que poderia ter ocorrido em minha vida. Cordélia era jovem e esbelta. Seus longos cachos dourados iluminavam o meu caminho da mesma maneira que o Sol ilumina os dias. No entanto, sabemos da efemeridade da vida. Somos mortais, enquanto que o Sol jamais se apagará; esse era o meu medo mais terrível, que a morte a levasse para longe dos meus braços. E aqueles olhos verdes... Vê-los fechados de maneira a nunca mais se abrirem novamente era algo impensável e doloroso. Porém, o destino começava a conspirar contra a nossa felicidade.

Era um estranho dia de outono. As folhas douradas lentamente caíam das árvores, encontrando o seu repouso sobre a terra fria. As nuvens estavam escuras, tampando a visão do céu azul assim como as lágrimas embaçam a nossa visão daquilo que é belo. A preocupação tomava minha consciência, ainda que eu não soubesse ao certo o motivo. Ainda assim, eu estava feliz em chegar próximo à minha casa, pois iria reencontrar Cordélia, a mulher de minha vida.

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