Parte 2 - A Primavera de 1815

62 7 6
                                    

Ao chegar em casa, gritei o seu nome; entretanto, não obtive resposta. Caminhei pelo corredor de nossa casa até a sala de estar à sua procura, e o desespero apertou-me o coração como as garras gélidas da morte assim que a vi deitada sobre o carpete. Aproximei-me de seu corpo e coloquei minha mão sobre o seu belo rosto de porcelana, sentindo sua pele fria. Seu corpo estava rijo e a sua pele, pálida. Lágrimas tomaram conta de meus olhos enquanto eu a erguia em meu colo, abraçando-a fortemente e desejando que tudo isso não passasse de um terrível pesadelo. Eu a sacudi tentando acordá-la, mas meus esforços haviam sido infrutíferos; minha amada Cordélia já havia entrado em sono eterno. Chamei os médicos e eles vieram o mais rápido possível para a nossa casa. Eu não queria acreditar, porém deram-na como morta devido a alguma doença desconhecida.

Passei a noite de sua morte em claro. Os agentes funerários haviam levado o seu corpo de maneira a prepara-lo para o funeral que ocorreria na manhã seguinte. Deitado em nossa cama fria, sem o calor reconfortante de seu corpo ao lado do meu, tive recordações de nosso maravilhoso passado, quando a conheci na primavera de 1815. Estávamos em um parque de Botafogo. Ela e suas amigas estavam sentadas sob um grande carvalho, conversando e se deliciando com frutas frescas. Ao vê-la, imediatamente senti-me atraído por sua admirável beleza. A gentileza de sua voz doce e seus gestos delicados deslumbravam-me por inteiro. Durante um longo tempo permaneci próximo àquele carvalho observando Cordélia, até que, em determinado momento, ela me notou. O rubor tomou conta de nossos rostos à medida que os nossos olhares se encontravam. Suas amigas riram e pediram que Cordélia me convidasse para que eu lhes fizesse companhia. Permanecemos juntos durante todo o restante da tarde, conhecendo-nos cada vez mais.

Isso foi aquilo em que eu havia ficado pensando durante toda a madrugada até a chegada dos tépidos raios solares por sobre a minha pele. Arrumei-me para ir ao enterro de minha amada Cordélia. Vesti o meu melhor e mais escuro paletó. O funeral estava marcado para as sete horas. Ao chegar lá, percebi que poucas pessoas estavam presentes. Minha adorada Cordélia, onde estão as tantas pessoas que já te amaram? Como pode uma pessoa tão bela, tão encantadora, ser assim esquecida por todos? Até a natureza chorava a sua morte. As nuvens cinzentas descarregavam suas lágrimas em brilhantes gotas de uma chuva fina e lânguida.

CordéliaOnde histórias criam vida. Descubra agora