BANANA PODRE

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Para Zeca (J.N), que gostava de contar histórias e não conheceu esta.
Lourdes, com quem conheci o sentimento da palavra dor, depois que se foi.

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Caro amigo, antes de abrir minha vida para você bisbilhotar, gostaria de pedir um favor.
Não leia nada do que eu contar aqui pra ninguém. E se possível, esqueça o que leu. Posso confiar? Ótimo!

                              
Me chama Tom Evans Foust. Sou branco e um pouco magro para minha altura e idade. Apesar do meu nome sugerir ser um homem experiente, não é verdade, no meu caso. Tenho cabelos e olhos castanho claros, o oposto das minhas duas irmãs; loiras de olhos azuis, o que me faz pensar que meus pais me encontraram em uma caixa velha na porta de casa no momento em que saiam para jogar o lixo da ceia do dia de ação de graças.

Hoje faço desastrosos 17 anos e ainda moro com meu pai em uma casa que pertencia aos meus avós em Levittown, Nova York. Meus pais são separados há alguns anos. Na época em meio as brigas na justiça para ver quem ficaria com o que ou com quem, minha mãe ficou com a casa em Princeton, Nova Jersey e de quebra minhas duas irmãs, Janne e Lisa.
Apesar de morarmos a 83 milhas de distância, sempre nos encontramos nos dias dos pais ou no aniversário de morte de Nina, um poodle imprestável que só descobrimos que era macho depois de tentar fazer sexo com a perna de uma tia que vinha nos visitar uma vez por ano, o que nunca mais aconteceu.

Eu sempre costumo dizer que o dia é definido através de um sorteio em uma grande roleta cercada por luzes coloridas que piscam intensamente, em direção às únicas palavras escritas, "dia bom e dia ruim", até que uma delas é escolhida por uma seta vermelha.

E foi no dia de hoje, em que minha história começa, que acordei duvidoso sobre em qual palavra a droga dessa seta havia parado. Por quê? Hum... Bem, para que você possa entender, tenho que relatar cinco dramas que ocorreram na vida mais dramática que você conhecerá: A minha. Mas já vou logo alertando... Caso não queira ficar entediado, ou tenha algo melhor para fazer, não se preocupe, vou entender.

Drama nº 01 ou como preferir, adeus passado.:

Aos onze anos, meu pai recebeu uma proposta de emprego que nos levou a morar em Levittown, Nova York, uma cidade a duas horas de Princeton. Claro que relutei bastante, afinal, teria que deixar meu quarto, o lugar mais cheio de recordações do mundo. Onde perdi meus dentes de leite, onde li a primeira sequência de revistinhas em quadrinhos aos sete anos (O capitão Sam e o marujo Tobias). Bem idiota pra alguém da minha idade eu confesso, mas ainda gosto. E o mais vergonhoso, foi naquele quarto que assisti meu primeiro filme pornô. Ainda hoje lembro minha cara de espanto e do grito que minha mãe deu quando entrou no quarto bem na hora. Passei dias evitando encará-la no jantar e percebi que ela fazia o mesmo quando pedia pra passar a salada. O lado bom disso tudo foi que ela passou a bater na porta antes de entrar.

Não vou dizer que senti falta de amigos, pois nunca tive muitos. Amizade não era meu ponto forte. Minha experiência de vida nada empolgante não atraía nenhum interessado que quisesse manter um diálogo por mais de quinze segundos comigo. A não ser o Bruce, um garoto mudo que incrivelmente conheci no coral da igreja, o qual meus pais me forçaram a participar. Ainda hoje não consigo entender como Bruce, que soltava grunhidos ao tentar falar, conseguiu o papel do anjo Gabriel na apresentação de natal e eu de um dos camelos dos três reis magos.

Drama nº 02 ou como preferir, a separação.:

Quando completei doze anos, meus pais enfim perceberam que não se suportavam mais e decidiram se separar. Sei que é horrível dizer isso, mas foi um alívio. Era tão desgastante ver os dois brigarem por quem tinha mais poder em governar a casa, como na série game of thrones, porém, sem a parte dos dragões ou um exército lavando a espada com sangue. Eles "apenas" se ofendiam. Minha mãe jogava na cara do meu pai o quanto ela estava cansada de tudo e ele jogava na cara dela o quanto ela era irritante. Ela chorava, mandava ele ir para o inferno e batia a porta do quarto, enquanto ele batia a porta do escritório. A mesma briga ensaiada de sempre.

TOM FOUST - Revele, se puderOnde histórias criam vida. Descubra agora