LOUSA PICHADA

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Para Marcos Antônio, revisor de opinião certeira.
Marcos José, quem leu primeiro.
André, que conseguiu extrair o sentimento do livro na sinopse.

                                                               
                                ***

13 de outubro de 2015, quatro dias antes.

Estava largado em minha cama, olhando para o ventilador de teto girar, enquanto tentava imaginar uma maneira de mudar de identidade ou de escola, o que eu sabia que não seria possível depois da discussão que ocorreu no café da manhã.

"Você tem que aprender a fazer amizades Tom! Pessoas arrogantes existem em todos os lugares", meu pai dizia enquanto cortava o bacon em seu prato.

Por mais que eu explicasse, ameaçasse fugir ou contracenasse o choro de quando eu tinha sete anos, ele não entendia. Não tinha noção do quanto estava sendo difícil acordar todos os dias e ter que ir para aquela escola que eu odiava.

"Tom, desça ou chegaremos atrasados!" meu pai ordenou do andar de baixo.

Respirei fundo, calcei o tênis, peguei a mochila jogada ao lado da cama e desci com a cara mais infeliz que consegui fazer.

Meu pai ouvia concentrado o noticiário no rádio enquanto dirigia e às vezes balbuciava alguma coisa que eu não conseguia entender. Estava ocupado observando as pessoas que passavam pela janela do carro e imaginava quão bom seria, se eu pudesse ser qualquer uma delas, e não Tom Foust. No entanto, mal eu sabia que o pior ainda estaria por vir.

Esperávamos parados no sinal que antecedia a parada da escola, quando uma notícia no rádio chamou minha atenção.

"E, por último, o suicídio misterioso de George Walter, que mesmo depois de dois anos ainda comove a sociedade de Levittown, teve enfim um desfecho. Os investigadores anunciaram nesta terça-feira, que o suicídio teria sido causado após uma briga com Faustino Hughes, o diretor da Gorgo's, que alega nunca ter existido briga entre eles e que George havia sido demitido por demonstrar sinais de violência e por não cumprir com as metas esperadas pela empresa. Nunca saberemos a outra versão da história, a de George Walter, pois ele não está vivo para contar, não é mesmo Rupert?" Disse o locutor em um tom de sarcasmo se permitindo um sorrisinho. "Verdade Angelo, também parece que nunca saberemos a opinião da esposa e do filho, que preferem não falar sobre o caso".

– Faustino Hughes? – murmurei – o pai de Lílian?!

Depois das provas bimestrais, vi Faustino discutindo com o professor de física e o coordenador nos corredores. Ele alegava que a filha estava sendo perseguida pelo professor, prejudicando Lílian na disciplina, e que, por conta disso, entraria com uma ação contra a instituição, caso o professor não revisse a nota.

– Não entendo o que se passa pela cabeça de uma pessoa para tirar a própria vida. Meu pai comentou no momento em que estacionava o carro.

– Desespero... – enfatizei olhando para o prédio da escola, enquadrado na janela do carro.

– Te pego às cinco! – disse dando sinal para sair. - Boa aula filho e faça amigos...

"Há sim, claro!"

Uma coisa que eu tento imaginar todos os dias enquanto atravesso pelo gramado da escola, é que estou usando uma capa de invisibilidade, como a do filme Harry Potter. Mas logo essa ideia é varrida da minha mente por Troy Cullen, o melhor amigo Ian Harris e a tropa de valentões que sempre estão sentados no peitoril da escadaria de entrada, fazendo o que eles sabem fazer de melhor: "recepcionar" os alunos com apelidos, supetões e jogando um ou outro dos mais fracos pela escada. Ano passado, um aluno do primeiro ano quebrou o braço e ficou horas inconsciente. Todos acharam que seria o fim de Troy e Ian. Porém, eles e a gangue bolaram uma estória tão bem contada para o diretor, que no fim concordou ter se tratado de um "terrível acidente", livrando os marginais da expulsão. Sorte a deles, azar o nosso.

TOM FOUST - Revele, se puderOnde histórias criam vida. Descubra agora